Conheça o Aerostar, avião de Tom Cruise no filme “Feito na América”

“Coadjuvante” na história sobre o piloto da CIA que se envolveu com o tráfico de drogas na América Latina, bimotor foi o avião a pistão mais veloz do mundo
O Aerostar foi o mais veloz avião civil a pistão do mundo (Piper)
O Aerostar foi o mais veloz avião civil a pistão do mundo (Piper)

A certa altura do filme “Feito na América” (Universal), o então piloto da TWA Barry Seal é recrutado pela CIA para executar missões clandestinas na América Central e assim fotografar bases militares dos sandinistas, grupo comunista que acabara de tomar o poder na Nicarágua. Para realizar as missões, seu contato na agência de inteligência americana lhe “presenteia” com um avião especial. O personagem real, vivido pelo ator Tom Cruise, então reconhece o modelo e crava de imediato: “é o avião a pistão mais veloz do mundo”.

Ele se referia ao Aerostar, um bimotor de passageiros de formas incomuns criado pelo projetista Ted Smith em 1967, uma década antes de quando a cena do filme se passa. Nessa época, o Aerostar pertencia à Piper e sua fama já era conhecida.

A CIA havia escolhido a aeronave de uso civil por causa de sua velocidade, como Barry Seal reconhece no primeiro encontro. O piloto, como se sabe, serviu não apenas ao governo americano em missões controversas como também ajudou o cartel de Medellin (do famoso traficante Pablo Escobar) a levar toneladas de cocaína para os Estados Unidos. Para conseguir tal feito, o Aerostar foi um senhor coadjuvante – o avião, inclusive, aparece até no pôster do filme.

Foguete civil

Mas, afinal, o que havia de tão especial no Aerostar? O avião que saiu das pranchetas de Theodore R. Smith era a síntese da experiência de mais de 40 anos do projetista californiano que começou sua carreira na Douglas Aircraft Company, fabricante do famoso DC-3 e hoje parte da Boeing. Ele liderou o projeto do bombardeiro leve A-26 Invader, um dos mais importantes da força aérea dos EUA na Segunda Guerra.

Pôster do filme “Feito na América”: Aerostar aparece como “coadjuvante” (Divulgação)

Mas foi na Aero Commander que Smith pôde mostrar seu talento ao criar o avião mais famoso da empresa, o Aero Commander 500. Primeiro bimotor civil todo fabricado em metal, o Aero Commander 500 exibia asas altas e por isso uma fuselagem bem acessível e foi um dos aviões mais conhecidos da aviação geral com vários exemplares voando no Brasil.

O engenheiro também deu origem a um jato executivo, o Jet Commander, que mais tarde veio a ser a gênese da fabricante israelense IAI, então conhecido como Westwind.

Ted Smith, no entanto, queria ter seu próprio avião e na década de 60 decidiu criar sua empresa e desenhou para isso o Aerostar, um bimotor a pistão como o Aero Commander, porém, muito mais veloz. Em vez de asas altas, o projetista optou por um conjunto à meia altura. A fuselagem era tão aerodinâmica quanto a de um jato executivo, mas as asas não possuíam enflechamento – ao contrário dos estabilizadores horizontais -, formando um conjunto único.

Mais leve que seu “rival”, o Aerostar ainda tinha motores mais potentes fornecidos pela mesma Avco Lycoming, uma combinação que o tornou, durante a época de sua produção (1967-1984), o avião civil a pistão mais veloz do mundo, chegando a atingir 492 km/h em suas versões finais (700P).

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A companhia passou por várias dificuldades para produzir a aeronave, mas o aprimoramento do projeto continuou com a introdução de versões pressurizadas e turbo-alimentadas. Em 1976, no entanto, Ted Smith faleceu e sem seu mentor a fabricante perdeu seu diferencial. Dois anos depois a gigante Piper comprou a Ted Smith Aviation e, comprovando o valor do Aerostar, manteve o avião em produção até 1984.

Nesse período, pouco mais de mil unidades foram produzidas e pelo menos 600 voam até hoje. Com o fim da produção, em 1991 Jim Christy e Steve Speer, dois ex-funcionários que trabalharam com Ted Smith, compraram os direitos da aeronave e criaram a Aerostar Aircraft Company, responsável pela manutenção, suporte e aprimoramento técnico do aparelho até os dias de hoje.

Aerostar Jet

O desempenho soberbo do bimotor não era uma coincidência. Desde o início, Ted Smith vislumbrava transformar o Aerostar num jato, mas não viveu para realizar esse sonho – na época não existiam pequenos turbofans capazes de serem utilizados pelo avião. Mas em 2005 a Pratt & Whitney certificou o pequeno motor PW615F para o Cessna Mustang e Christy e Speer puderam então projetar um Aerostar a jato.

Prova do potencial do Aerostar foi que a versão a jato precisou de poucas modificações para receber os dois turbofans sob as asas – umas das poucas novidades foram os winglets. Em julho de 2010 o Aerostar Jet voou pela primeira vez, 34 anos depois da morte de seu criador. Nos testes realizados, o veloz avião conseguiu superar os 700 km/h com facilidade – talvez nunca na história da aviação um avião a pistão tenha nascido com tamanha aptidão para tornar-se um jato.

A versão a jato do Aerostar realizou um sonho de seu criador 34 anos após sua morte (Reprodução)
Ficha técnica – SUPER 700 AEROSTAR
Desempenho
Velocidade de cruzeiro 527 km/h
Teto de serviço 9.000 m
Alcance 1.775 km
Dimensões
Comprimento 10,6 m
Envergadura 11,2 m
Altura 4,9 m
Área alar 4,1 m²
Pesos
Vazio 2.112 kg
Máximo na decolagem 2.864 kg
Capacidade 5 passageiros
Propulsão
Dois motores a pistão Lycoming TIO-540-U2A 350 hp cada

Veja também: Hansa Jet, o raro jato executivo alemão

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