Na década de 1970 era necessário no mínimo cinco anos para desenvolver um avião de pequeno porte para até 10 passageiros. A Embraer, que surgiu em 1969 e em meia década já produzia três aviões totalmente diferentes (EMB-110 Bandeirante, o jato Xavante e o avião agrícola Ipanema), não tinha esse tempo e estava muito interessada nesse setor.
O mercado brasileiro de aeronaves executivas de pequeno porte começou a surgir justamente nessa época e a Embraer calculou que seriam necessário cerca de 3 mil aviões para suprir a demanda naquela década. Para entrar mais rápido nessa disputa, a empresa conseguiu um acordo com a norte-americana Piper Aircraft para produzir uma versão nacional do bimotor PI-31 “Navajo”. Os primeiros modelos nacionais foram entregues em 1975.
O Piper Navajo voou pela primeira vez nos Estados Unidos em 1964 e chegou ao mercado em 1967, sendo produzido pela Piper até 1984. A versão da Embraer teve uma vida ainda mais longa. Renomeado como EMB 820 “Navajo Chieftain”, que era baseado na versão mais moderna do PI-31, o modelo posteriormente ganhou o apelido “Navajão”. Em 1984, a Embraer transferiu a produção do bimotor a Neiva, que seguiu com sua construção em Botucatu (SP) até 2000. Nessa mudança, o avião mudou o nome para EMB 820C.
Voltado para voos curtos a partir de pistas pequenas e com pouco apoio em solo, o Navajão foi muito bem aceito nos rincões do Brasil, servindo de transporte fazendeiros e companhias de táxi aéreos em aeroportos em regiões remotas. Segundo especificações do fabricante, o avião precisa de 555 metros de pista para decolar e apenas 229 m para o pouso. Os dois motores a pistão com injeção direta de combustível, da empresa Lycoming, geram 350 hp cada um. É força o suficiente para levar o EMB 820 a velocidade máxima de 337 km/h a 5 mil metros de altura.
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A Embraer ofereceu três opções de cabine ao EMB 820: com 6, 8 e 10 assentos. A versão com menos bancos podia ser equipada com toalete. O espaço a bordo é apertado e é preciso certo contorcionismo para andar no corredor e o avião não é pressurizado. O bimotor pesa 3.500 kg carregado, sendo quase 1.000 kg de carga, e tem alcance de até 1.296 km.
Durante os 25 anos em que foi produzido no Brasil, a Embraer em parceria com a Neiva entregou 2.326 unidades do EMB 820, o eterno Navajão. Até hoje muito presente na avião civil, o aparelho pode ser encontrado em bom estado à venda por cerca de US$ 750 mil.
Versão turbo-hélice
Em 1984, no mesmo ano que passou a produção do Navajo a Neiva, a Embraer lançou a versão EMB 821 “Carajá”. Esse modelo mantinha a mesma concepção de fuselagem do Navajo, mas trocou os motores a gasolina convencionais Lycoming por um par de turbo-hélices Pratt-Whitney de 550 hp cada. Desta forma, a velocidade máxima do avião subiu para 407 km/h e a autonomia chegou a 1.666 km. A produção do Carajá também foi encerrada em 2000.
Muitos Navajos foram convertidos ao padrão “Carajá”, trocando o motor a pistão pelo par de turbo-hélices. Tais aviões mantiveram o código EMB 820C, mas abandonaram o nome “Navajo”. O avião que fez o pouso forçado com a família de Luciano Huck era uma dessas aeronaves, tanto que ainda aparece no registro da ANAC como “EMB 820C”.
Acidente com Luciano Huck e Angélica
O EMB 820C Carajá, de matrícula PT-ENM, de propriedade da “Mato Grosso do Sul Táxi Aéreo Ltda”, de categoria “Privada”, fez um pouso forçado no domingo (24) na área de uma fazenda a cerca de 30 km de Campo Grande (MS). O bimotor levava os apresentadores Luciano Huck e Angélica, seus três filhos, duas babás e os dois pilotos.
O bimotor havia decolado de Estância Caimam, no município de Miranda, e seguia para a Campo Grande. Perto da aproximação para o pouso, às 10h52, o piloto comandante da aeronave Osmar Frattini avisou à torre de controle da capital a situação de emergência e que faria um pouso forçado.
Antes de aterrizar de barriga em um pasto, o piloto precisou desviar de um rebanho de gado. Segundo relato de Frattini, durante a aproximação para o pouso o avião perdeu potência nos motores, o que fez perder sustentação. A opção de não baixar o trem de pouso foi para evitar que o avião capotasse ao pousar no terreno irregular.
O acidente não deixou vítimas fatais e feriu levemente os pilotos, uma babá e o casal Huck e Angélica. Logo após o pouso forçado, o piloto pediu ajuda na rodovia MS-080. A pane no avião ainda está sendo investigada.
Nota do editor
ERRATA: O texto original sobre afirmava erroneamente que o avião que fez o pouso forçado com Luciano Huck e sua família era um Najavo. O aeronave envolvida no acidente próximo a Campo Grande foi construída no padrão EMB 820C, com motores a pistão, e posteriormente foi convertida a configuração Carajá, com motores turbo-hélices. Uma confusão de motores causou a confusão dos nomes. Texto alterado às 20:35 de 27/05/2015.
A Angélica deve ter pensado : Da próxima vez vou de táxi….
Sempre soube que um bimotor consegue seguir viagem com apenas um dos motores funcionando.
Eu mesmo passei por uma situacao dessas com o Air Bus, no trecho MIA-GIG, com aterrisagem tecnica em BSB, quando uma das turbinas apagou.
Como explicar o acidente de Huck e familia?
Um bimotor consegue voar com apenas um motor saudável. O problema foi nos dois motores.
E em 74 a Embraer fabricava o Xavante, o Ipanema e o Bandeirante. O Brasilia foi introduzido em 83.
bom dia!
a aeronave de prefixo PT-ENM que efetuou o poso forçado com a família do Luciano Huck.
trata-se de um Carajá e não um Navajo.
Caro Fabio,
O Carajá é um avião baseado no Navajo, mas com motores turbo-hélices e atende pelo código EMB 821. (vide site da Embraer: http://www.centrohistoricoembraer.com.br/pt-BR/HistoriaAeronaves/Paginas/EMB-821-Caraj%C3%A1.aspx). O avião que fez o pouso forçado com a família de Luciano Huck era um EBM 820C, este sim o Navajo (segue a página com o registro do avião: http://www.aeromuseu.com.br/rab_pt.htm e informações sobre EMB 820C Navajo – http://www.centrohistoricoembraer.com.br/pt-BR/HistoriaAeronaves/Paginas/EMB-820-Navajo.aspx).
Obrigado!
Equívoco,,, a maioria destes aviões menores bimotores, um motor só funcionando, só leva o avião onde o outro cai, não tem força suficiente ainda mais lotado e com tanque cheio!!!
Já os jatos costumam ter potência suficiente para continuar o voo e chegar ao destino.
Em várias fotos do acidente, com a família do apresentador Luciano Hulk, notei no avião acidentado inscrição: “PIPER”.
Piper não é uma marca de um avião fabricado nos Estados Unidos ?
Caro Luiz,
Piper Aircraft é a fabricante original do avião, baseada nos Estados Unidos. A aeronave que fez o pouso forçado com a família de Luciano Huck é um Embraer EMB 820C, uma versão desenvolvida pela empresa brasileira a partir do Piper PA-31 Navajo. Os aviões são praticamente iguais, mas o certo é afirmar que o modelo acidentado é um Embraer, e não um Piper.
Qualquer outra dúvida entre em contato,
Obrigado
Sr. Thiago Vinholes;
Primeiro por parabenizar pela reportagem, muito bem escrita, como as demais que o sr. produziu. Alguns EMB 820C foram “remotorizados”, ou seja, trocaram os motores convencionais Lycoming TIO-540 pelo motor PT6A-11 de 550Hp rebaixdo em potência devido a engenharia do projeto. Os aviões Navajo EMB 820C que fizeram a troca de motor mantiveram no registro de designativo de modelo e só trocaram o nome para Carajá. Os que saíram de fábrica com motores turboélice saíram com designativo EMB 821. O PT-ENM, que caiu com o Huck era remotorizado, dai a confusão.
Abraço
Mas afinal de contas, era um 820C Navajo ou um 821 Carajá?
http://www.avioesemusicas.com/por-que-o-senhor-nao-desceu-o-trem-de-pouso.html
Era um EMB 820C Navajo
Pelo que vi na foto do avião acidentado o motor era de um turboélice ou seja Carajá. O navajo não possui este tipo de motor.
Valeu, Thiago.
Perguntei porque até no Jornal Nacional, na reportagem no dia do acidente, tive a impressão de eles também terem dito que era o 821.
Obrigado.
Nas imagens mostrando a desmontagem do avião dá pra ver claramente as turbinas ao invés de motores a pistão.
Em aviões pequenos, a assimetria de potência (quando um motor está parado e o outro está funcionando) atrapalha muito a pilotagem. O que mantém a sustentação do avião é a asa, em conjunto com o fluxo de ar ao redor da asa. Quando um motor está funcionando (e aplicando potência), o fluxo de ar ao redor daquela asa é maior do que na asa aonde o motor está parado (inclusive as pás das hélices alteram o fluxo laminar do vento, atrapalhando ainda mais a sustentação daquela asa).
Em monomotores, em caso de pane no motor, fica fácil decidir pelo pouso forçado. Em multimotores, no caso de um motor permanecer tendo potência (mesmo que parcial), às vezes o piloto foca em manter o avião voando, mas as condições de vôo podem ficar cada vez mais prejudicadas, o que pode levar a um stall difícil de recuperar o controle, a baixa altitude.
Diz-se que qualquer pouso em que se sai caminhando, é um bom pouso. Parabéns ao(s) piloto(s).
consulta no site da ANAC – http://www2.anac.gov.br/aeronaves/cons_rab.asp
MATRÍCULA: PTENM
Proprietário: MATO GROSSO DO SUL TAXI AEREO LTDA
CPF/CGC: 03963816000109
Operador: MATO GROSSO DO SUL TAXI AEREO LTDA
CPF/CGC: 03963816000109
Fabricante: EMBRAER
Modelo: EMB-820C CARAJA
Número de Série: 820072
Tipo ICAO : PAT4
Tipo de Habilitação para Pilotos: MLTE
Classe da Aeronave:
POUSO CONVECIONAL 2 MOTORES TURBOHELICE
Peso Máximo de Decolagem: 3629 – Kg
Número Máximo de Passageiros: 009
Categoria de Registro: PRIVADA SERV.TRANSP.AEREO PUBLICO NAO REGULAR TX.AEREO
Número dos Certificados (CM – CA): 9636
Situação no RAB:
Data da Compra/Transferência: 120612
Data de Validade do CA: 12/06/19
Data de Validade da IAM: 120615
Situação de Aeronavegabilidade: CERTIFICADO DE AERONAVEGABILIDADE (CA) SUSPENSO
Motivo(s): Aeronave avariada por acidente ou incidente
Consulta realizada em: 28/05/2015 14:21:07
Parabéns pela reportagem Thiago.
Muito bem explicado. Basta ler até o final.
Obs. Estranho perder os dois motores. Será que não tem pane seca nessa estória?
Já tem resultado da analise do combustível que foi usado para o abastecimento da aeronave? O Cenipa recolheu amostras do tanque do avião….
O combustível era Querosene de Aviação ou gasolina de aviação?. O engate do bocal de abastecimento é diferente para cada combustível. Quando o avião foi convertido para turbo-helice movido a QAV, trocaram o bocal de abastecimento?
com todo respeito a embraer esse avião não era nem para estar em operação. teco teco