A Venezuela se tornou o centro das atenções do mundo desde a semana passada, devido aos entraves para envio de ajuda humanitária ao país, liderada pelos EUA e com apoio de Brasil e Colômbia.
O regime de Nicolás Maduro resiste à pressão internacional e ao opositor Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país sul-americano e tem reconhecimento e apoio de mais de 50 nações.
Então, o que o presidente venezuelano, considerado agora ditador, tem como resposta a uma possível intervenção militar liderada pelos EUA?
Seu exército é grande, dividido entre Guarda Nacional Bolivariana e milícias, sendo estimado em mais de 2 milhões de combatentes. Mas qual é seu poderio aéreo?
A Venezuela é conhecida por dispor dos temíveis caças russos Sukhoi Su-30 MK2 (Flanker, designação OTAN), assim como dos mísseis antiaéreos S300, considerados de eficiência formidável. Mas, será somente isso? O que dispõe Maduro em termos aeronáuticos para se defender e atacar?
Aviación Militar Bolivariana
O principal corpo de defesa aérea do país é a chamada Aviación Militar Bolivariana (AMB), em outras palavras, a Força Aérea da Venezuela. Divida em 17 grupos aéreos, a organização militar tem quatro deles dedicados à defesa com os Grupos de Caça Nº 11, 12, 13 e 16.
Apenas os grupos números 11 e 13 possuem os caças Sukhoi Su-30MK2. O país recebeu 24 aeronaves a partir de 2006, mas devido aos custos, poucas unidades estão operacionais no momento, mesmo com apoio da Rússia.
Desse total, um caiu em 2015. A maioria deles está na base aérea de Barcelona, no estado de Anzoátegui. O restante está na base El Libertador, em Palo Negro, estado de Aragua.
Sukhoi Su-30MK2
O Su-30MK2 tem 14,7 m de comprimento e 21,9 m de envergadura, tendo peso máximo de decolagem de 34,5 toneladas. Com dois motores Lyulka Saturn AL-31F, o Sukhoi Su-30MK2 dispõe de 27.560 libras de empuxo estático. Ele é conhecido por suas incríveis capacidades acrobáticas, entre elas a famosa manobra “Cobra de Pugachev”.
Capaz de voar a Mach 2.0 (2.120 km/h) e com raio de combate de 3.000 km, o caça russo pode carregar um grande número de armas. Elas podem ser mísseis ar-ar, ar-terra e bombas, inclusive Vympel R-27 (Alamo na OTAN) e R-73E (codinome Archer na Otan), operados pela Venezuela.
Ele também possui um canhão GSh-30 de 30 mm e 150 tiros. Além do potente radar, possui um designador de alvos infravermelho, que permite desligar o radar e se manter oculto do inimigo por certo tempo. É considerado o avião de combate mais poderoso da América do Sul.
Lockheed Martin F-16
Localizados em El Libertador, os Lockheed Martin (ex-General Dynamics) F-16 Fighting Falcon das versões A e B estão no Grupo de Caça Nº 16. Foram adquiridos em 1983 num total de 24 unidades. Fora as perdas e unidades em manutenção, atualmente estima-se que apenas sete estejam operacionais.
A Venezuela foi o primeiro país latino-americano a operar o F-16, que tem motor turbofan Pratt & Whitney PW F100 com pós-combustor e 23.830 libras de empuxo. Ele também atinge Mach 2 e tem raio de combate de 550 km, podendo levar até 7.700 kg. Seu canhão interno Vulcan tem 20 mm e seis canos, contendo 511 projéteis.
Com forma esguia, cockpit elevado com canopi em bolha e comandos fly-by-wire, o famoso caça americano pode disparar mísseis ar-ar Sidewinder, bombas e mísseis ar-terra, entre outros. Na Venezuela, o míssil israelense Python 4 também está em uso.
Lockheed Martin C-130 Hércules
A força aérea da Venezuela possui 5 exemplares do Lockheed Martin C-130H Hercules, que foi o maior transportador da AMB por décadas. Lotado no Grupo de Transporte Nº 6, em El Libertador, esta aeronave de carga e aplicação militar voou pela primeira vez em 1954 e, desde 1957, já teve mais de 2,5 mil unidades produzidas.
O quadrimotor americano foi adquirido pela força aérea venezuelana em 1972, totalizando 6 exemplares, mas os EUA cortaram o fornecimento de peças em 2007. Com 29,79 m de comprimento e 40,41 m de envergadura, o C-130HV (depois da atualização) pode transportar 19.536 kg por 3.800 km. Também leva 92 soldados ou 74 macas.
Capaz de pouso e decolagem em pistas curtas, inclusive de terra, o C-130HV Hércules da AMB foi modernizado no Projeto Tepuy, iniciado em 1999. Recebeu um “glass cockpit” com telas MFD, GPS integrado e lentes de visão noturna. A estrutura foi modernizada e até a partida dos motores Allison T56-15 (de 4.508 hp cada) passou a ser independente.
Shaanxi Y-8
A Venezuela não conta apenas com o C-130HV para missões de transporte tático. O Grupo de Transporte Nº 6 tem também o avião chinês Shaanxi Y-8, que é um derivado do ucraniano Antonov AN-12 feito pela Shaanxi Aircraft Corporation.
Trata-se de um quadrimotor turbo-hélice com 34 m de comprimento e 38 m de envergadura, que pode levar 20 toneladas de carga a 5.165 km. Seus quatro motores Zhuzhou Wojiang WJ-6 possuem 4.250 hp cada um e permitem que o Y-8 voe a 550 km/h em cruzeiro.
Embora tenha capacidade pouco superior ao do C-130, levando inclusive 90 soldados se preciso, o Shaanxi Y-8 tem peso máximo de decolagem de 61.000 kg ante os 70.300 kg do Hércules. Foram adquiridos oito unidades entre 2012 e 2013.
Outros transportadores
A AMB conta também com outros transportadores mais leves, entre eles o alemão Dornier Do 228 com 3 exemplares e o inglês Short 360, que tem 2 unidades na força. Ambos são bimotores turbo-hélices leves, sendo o primeiro adquirido em 2013, enquanto o segundo chegou ao país em 2001. Eles podem levar 19 e 36 passageiros, respectivamente.
A força aérea dispõe ainda de 5 Beechcraft King Air, 4 Cessna 208 Caravan e exemplares únicos de Fairchield Swearingen Metroliner IV e Cessna Citation II. Um Boeing 707-320C, de indicativo 6944, é filho único na AMB e serve como reabastecedor aéreo.
Para guerra eletrônica e reconhecimento aéreo, a Venezuela possui 2 aviões, sendo eles o Dassault Falcon 20 e o Fairchield Swearingen Metroliner III, respectivamente.
Treinadores com capacidade de combate
O Hongdu K-8W Karakorum é um jato de treinamento avançado com alguma capacidade de combate, adquirido pela AMB num total de 24 células entre 2010 e 2013. Trata-se de um desenvolvimento entre China e Paquistão, que resultou num interessante avião de ataque leve.
Voando a Mach 0.75 (800 km/h), o Hongdu K-8 conta com um turbofan Garret TFE731 de 3.600 libras. Seu alcance é de 2.250 km e pode levar quatro bombas de 250 kg e mais um canhão de 23 mm. Mísseis chineses ar-ar PL5 (usado pelo país) e PL7 podem ser armados também.
A Embraer vendeu 32 BEM-312 Tucano em 1986 para a Venezuela, sendo 12 AT-27 e 20 T-27, sendo o primeiro para ataque tático, servindo inicialmente no Grupo Nº 15, enquanto o treinador ficou no Grupo Nº 14. Hoje, existem 19 exemplares, todos neste último grupo.
Com 1.844 km de alcance, o Tucano tem motor Pratt & Whitney PT6-25C com 750 hp, podendo levar até 1.000 kg de bombas ou canhões, que no caso em pods com o FN HMP de 12,7 mm. O SIAI-Marchetti SF260, de procedência italiana, é um instrutor básico, mas pode levar 300 kg em forma de canhão. Existem 12 na AMB.
O F-16B é considerado um jato de treinamento para conversão de pilotos para aviação de caça, sendo que existem quatro, mas não se sabe suas condições operacionais. O restante da frota de treinamento é composto por aviões sem condições de combate, como os canadenses Diamond DA40/42 (30 exemplares).
A AMB possui ainda um VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) Ghods Mohajer, de fabricação iraniana, para vigilância remota.
Helicópteros
Em asas rotativas, a Venezuela possui na AMB cerca de 10 helicópteros Mil-Mi 17. Esta aeronave de transporte de origem soviética tem 18,46 m de comprimento e rotor de 21,25 m de diâmetro, podendo transportar 5.000 kg, 24 soldados ou 12 macas.
Com peso máximo de decolagem de 13.000 kg e dois turboeixos com 2.400 hp cada, chegando a 280 km/h de velocidade máxima e alcance de 800 km. Ele pode transportar 1.500 kg de armas em cabides laterais, podendo ser mísseis ou foguetes.
Além dele, a AMB opera 6 unidades do Airbus Helicopters H215M (ex-Eurocopter AS532 Cougar), recebidos em 1999 com pods para foguetes de 68 mm e canhão GIAT de 20 mm. Eles foram adquiridos para operações de resgate em combate, busca e missões humanitárias.
Com 15,53 m de comprimento e 15,6 m de rotor, o Cougar tem peso máximo de decolagem de 9.000 kg e pode levar até 20 soldados. Com raio de ação de 273 km, esse helicóptero francês tem velocidade de cruzeiro de 239 km/h. A força aérea venezuelana tem ainda 6 helicópteros Enstrom 480 para treinamento.
Outras forças venezuelanas
Armada Bolivariana de Venezuela
A Armada Bolivariana de Venezuela (ABV) é a marinha de guerra do país vizinho. O braço naval das forças de defesa nacionais possui aviões de transporte, patrulheiros marítimos e helicópteros, sendo estes de emprego geral, treinamento e antissubmarino.
A Armada tem uma frota de 7 CASA C-212, sendo que 3 deles são de patrulha e esclarecimento marítimo, enquanto os outros 4 são da versão 400, empregados no transporte de pessoal e cargas. Trata-se de um bimotor turboélice leve que pode levar até 26 pessoas ou 25 paraquedistas.
O C-212 tem 16,20 m de comprimento e 20,28 m de envergadura, tendo dois motores Garret TPE331 de 925 hp cada um. O peso máximo de decolagem é de 8.100 kg e o alcance é de 1.960 km com 360 km/h de cruzeiro.
Dois exemplares do Beechcraft Super King Air são usados no transporte executivo e um Aero Commander como utilitário. A ABV emprega também 2 helicópteros Bell 206 para treinamento.
Para assalto e transporte tático de fuzileiros navais, a Armada tinha 10 unidades dos helicópteros Bell 212 e 412, sendo que um deles caiu em 31 de maio de 2018, vitimando o piloto. Na mesma função, empregam-se 6 exemplares do Mil Mi-17, na versão naval V5.
Por fim, a ABV havia pedido 9 unidades do helicóptero Harbin Z-9, que nada mais é do que a versão chinesa do Airbus AS565 (ex-Eurocopter AS365 Dauphin). Porém, até agora nenhum exemplar foi visto em operação.
Guarda Nacional Bolivariana
Esta força armada da Venezuela tem estado em evidência nos últimos dias, por causa dos conflitos na fronteira com Colômbia e Brasil. Essa infantaria leve do vizinho do norte possui aeronaves militares.
Existem 13 aeronaves polonesas PZL M28 Skytruck, um bimotor turboélice que pode levar 19 soldados ou 17 paraquedistas. Ainda considerado operacional, o israelense IAI Arava é um bimotor dos anos 60 que também é operado pelo Exército da Venezuela.
Não se sabe quantos estão em uso, mas cada um pode levar 24 soldados ou 16 paraquedistas. Equipados com motores PWC PT-6ª de 750 hp cada, o IAI Arava tem uma forma ovalizada da fuselagem, que chama bastante atenção. Com asa alta, tem porta de carga traseira.
A GNB também possui dois monomotores PZL M26 Iskierka e um PZL 106 Kruk, este um avião de pulverização agrícola. Há um helicóptero Bell 206 JetRanger na frota da guarda.
Ejército Nacional de la República Bolivariana de Venezuela
A AMB poderia ser a força com poderio aéreo de maior envergadura na Venezuela, mas é o Ejército Nacional de la República Bolivariana de Venezuela (ENV) que tem a mais ampla frota de aeronaves destinadas ao uso militar.
A capacidade de transporte aéreo do ENV é enorme. Só do helicóptero Mil Mi-17, o exército venezuelano possui nada menos que 177 unidades. Também existem 5 Mil Mi-26T Pemon, sendo considerado o maior helicóptero já produzido na história.
Ocupando uma área com 40 m de comprimento (com rotor girando) e peso máximo de decolagem de 56 toneladas, o Mil Mi-26 é um gigante de asas rotativas que pode levar 90 soldados armados ou 60 macas numa operação de resgate. Ele tem alcance de 800 km, que pode ser ampliado para 1.960 km com tanques externos.
A frota do ENV soma mais 17 Bell 205 (UH-1H), 8 Bell 206 e 12 Bell 412. Três Agusta-Sikorsky AS-61D são operados e foram modernizados há algum tempo. Entretanto, a força a ser temida é a de 48 unidades do Mil Mi-35. A aeronave de ataque é uma versão do Mil Mi-24.
Presente também na FAB, no exército da Venezuela, a versão utilizada é a M2 Caribe, desenvolvida especialmente para o país, tendo aviônica mais sofisticada, assim como sensores e contramedidas ampliados.
Presente em diversas guerras e em muitos países, o Mil Mi-24 ficou famoso pela alta capacidade de combate e aparência agressiva, sendo apelidado de “tanque voador”. Pode levar diversas armas, como o canhão GSh-23 e o míssil 9K114 Shturm (AT-6 Spiral na OTAN).
Na aviação de asa fixa, o ENV emprega 11 PZL M28, 2 Beechcraft Super King Air e 6 IAI Arava.
Defesa antiaérea
Nos últimos dias, o espaço aéreo da Venezuela foi fechado à aviação geral e muitos voos comerciais simplesmente evitaram sobrevoarem o país, embora alguns tenham sido vistos cruzando a região.
O temor, em grande parte, se deve à presença de um sistema de defesa aérea que é considerado quase insuperável. Compradas a partir de 2011, três baterias de mísseis S-300VM, de fabricação russa, são usadas para defesa área das principais bases da AMB.
Cada bateria tem 12 mísseis (1.200 em estoque) e vem junto com um radar 3D de longo alcance, capaz de rastrear 64 alvos a 300 km. Ele pode atingir aeronaves voando a 30 km de altitude e a uma distância de até 250 km, o alcance máximo de rastreamento.
Além disso, existe um arsenal considerável de mísseis terra-ar, tais como os russos S-125 Pechora 2M (SA-3 Goa) com 28 baterias e 5.500 mísseis, Buk M2E (SA-17 Grizzly na OTAN) com 4.500 exemplares também em 28 sistemas lançadores e 9K338 Igla-S (SA-24 Grinch). Este último é um manpad bem conhecido e o vizinho do norte tem 12.000 em estoque.
De outras origens, sabe-se que a Venezuela possui o sueco Bofors RBS-70 (1.500 mísseis) e o israelense Barak-1, o mesmo usado pela Marinha do Chile em navios mais antigos. Com guiagem CLOS, ele elimina o radar do míssil, orientado então por radares de controle de tiro.
Nas bases da AMB são frequentemente vistos os mísseis franceses Mistral (1.500 unidades), em lançadores duplos Atlas, semelhantes aos Simbad de uso naval.
Junto com os Su-30MK2, a Venezuela recebeu diversos mísseis ar-terra, como o Kh-59ME (AS-18 Kazoo), que é um míssil de cruzeiro guiado por TV com alcance de 115 km (a versão de uso russo tem 200 km de raio de ação).
Outro míssil do Su-30 venezuelano é o Kh-31P, que é antirradar e voando acima de Mach 2, alcançando radares de vigilância ou rastreamento de alvos a 110 km de distância.
Por fim, o Kh-29 é uma arma para uso geral, contra navios de até 10 mil toneladas, estradas, túneis, pontes, estruturas subterrâneas, etc. O alcance é de até 30 km e tem orientação por laser, radar, TV ou IR.
A Venezuela tem 50 sistemas de controle de tiro de origem local e da Bielorrússia, assim como 5 radares de vigilância área 3D com cobertura de quase 100% do território nacional.
Também existem 500 canhões antiaéreos ZU-23-2 de 23 mm, 220 Panhard AML S 530 de 20 mm, 200 M35 Fenix americanos (rebocados) e torres de 35 mm nos blindados AMX-13 Rafaga, que tem 250 unidades no arsenal de Maduro.
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O gripen vai passar a ser a aeronave mais poderosa da América latina ?
No “bons tempos de petrodólares” H. Chávez pode torrar dinheiro de forma tresloucada então a Venezuela até pode ter bons materiais militares e em quantidade, mas será que sabem opera-los? Num eventual conflito seguramente Maduro irá pedir ao Putin por militares russos capacitados e que nos levaria a uma terceira guerra mundial.