A Força Aérea Brasileira (FAB) passa por um momento sem precedentes do uso de sua frota de aeronaves de transporte, atualmente engajadas na Operação COVID-19. Desde o primeiro semestre do ano passado, aviões da FAB estão empenhados no deslocamento de insumos e equipamentos hospitalares por todo o Brasil. Nesta semana, a ação militar ganhou ainda mais evidência com o início da distribuição de milhões de doses de vacinas contra o novo coronavírus.
De acordo com dados compilados pelo Flight Global, que todo ano publica uma edição atualizada do World Air Forces (basicamente um censo global de aeronaves militares), existem quase 500 aeronaves de transporte militar em serviço com forças armadas da América Latina. Desse total, mais de um quinto é operado no Brasil. Segundo a publicação, a FAB dispõe hoje de 129 aviões de transporte, uma das maiores frotas do tipo no mundo.
Em um universo com tantas aeronaves, é normal que algumas unidades estejam fora de serviço devido a problemas de manutenção ou armazenadas. A FAB, no entanto, não divulga quantos aviões da frota de transporte estão ativos.
Questionado pelo Airway, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) informou que por força de um Decreto-Lei não pode revelar o número de aeronaves ativas por se tratar de um tema de “Segurança Nacional”.
“O acesso às informações acerca das aeronaves da Força Aérea Brasileira, por terem conotação de atividades típicas de Defesa e Segurança Nacional, configuram dados de acesso restrito, ou seja, informações imprescindíveis à segurança e operacionalidade das ações atribuídas ao Comando da Aeronáutica. Segundo o Decreto-Lei nº 1.778, de 18 de março de 1980, essas informações são isentas de quaisquer prescrições que determinem a publicação ou divulgação ostensiva”, explica o CECOMSAER.
As estrelas da Operação COVID-19
De todos os tipos de aviões de transporte empregados pela FAB na Operação Covid-19, quatro modelos merecem destaque. São eles o C-130 Hercules, C-105 Amazonas, C-99A e o novo KC-390 Millennium. Essas são as aeronaves da frota nacional com maior capacidade de carga e alcance de voo, capazes de cobrir praticamente todo o território brasileiro em voos diretos.
Os Hercules voam com as cores da FAB desde 1964 e formam a espinha dorsal da aviação de transporte militar do Brasil, posto que futuramente será ocupado inteiramente pelos KC-390. Ao todo, a Aeronáutica possui atualmente 12 aeronaves da família C-130H da Lockheed Martin, incluindo dois modelos KC-130H empregados em operações de reabastecimento aéreo.
Dados do fabricante apontam que o Hercules suporta até 19 toneladas de carga e tem alcance máximo de 3.800 km, voando a velocidade de cruzeiro de 540 km/h (e máxima de 590 km/h). É também uma aeronave capaz de pousar e decolar de pistas semi-preparadas, como aeródromos de terra, uma característica fundamental para operações nos rincões do Brasil.
Cargueiro de médio porte, o C-105A Amazonas (designação da FAB para o Airbus/CASA C295) entrou em serviço com a FAB em 2005. Ao todo, a Aeronáutica recebeu 12 exemplares do bimotor turboélice produzido na Espanha, que pode transportar até 9,2 toneladas de carga. O alcance da aeronave varia entre cerca de 1.280 km e 5.000 km, de acordo com o volume embarcado.
Versão militar do jato regional Embraer ERJ-145, o C-99 é um avião multi-uso da FAB. Durante a Operação Covid-19, os cinco modelos tipo na frota brasileira estão sendo empregados para transportar cargas de pequeno volume e recentemente também moveram pacientes contaminados com o novo coronavírus do Amazonas para serem atendidos em outros Estados.
O jato da Embraer pode transportar uma carga máxima de quase seis toneladas e tem alcance de voo em torno de 3.700 km. A FAB não informa a quantidade de enfermos que a aeronave pode levar.
Por fim, o maior expoente da engenharia aeronáutica brasileira, a aeronave multimissão Embraer KC-390 Millennium iniciou recentemente sua carreira na FAB em ritmo frenético e vem sendo uma peça fundamental no deslocamento de recursos para o combate a COVID-19.
A FAB tem hoje quatro exemplares do KC-390, recebidos a partir de setembro de 2019, de um total de 28 jatos encomendados para substituir os antigos turboélices Hercules. O cargueiro militar fabricado pela Embraer comporta uma carga máxima de 26 toneladas e voa a quase 900 km/h (com velocidade de cruzeiro de 870 km/h).
A autonomia do KC-390 varia de acordo com o volume de carga transportado. Com 14 toneladas, a aeronave tem alcance em torno de 5.820 km e vazia (em voos ferry) pode passar dos 8.000 km.
Mais aviões de transporte da FAB
A frota de transporte da FAB ainda tem o complemento de aviões menores, que também podem ser empregados na Operação COVID-19. São eles os modelos C-95 (designação da FAB para o EMB-110 Bandeirante), C-97 (EMB-120 Brasília), C-98 (Cessna Caravan) e o U-100 (Embraer Phenom 100).
Cargueiros de grande porte em falta
A FAB tem praticamente um tipo de avião em cada uma das categorias da aviação de transporte militar, desde aeronaves leves como os C-98 e os U-100, até cargueiros altamente versáteis, casos do Hercules e do KC-390. No entanto, falta ainda uma aeronave de grande porte e longo alcance.
O último avião desse tipo operado pela FAB foi um Boeing 767-300ER, designado como C-767. A aeronave de grande porte (a maior que já voou com a FAB) era alugada e voou no Brasil entre 2016 e 2019, quando foi devolvido ao arrendador. Durante o curto período de atividade no país, o 767 serviu no transporte de tropas e cargas e até como avião presidencial.
O aluguel do 767 foi uma solução provisória enquanto a FAB não define o programa KC-X2, que prevê a aquisição de aeronaves de grande porte e longo alcance equipadas para operações de transporte logístico e reabastecimento aéreo. No passado, tais missões eram realizadas por quatro jatos KC-137 (designação da FAB para o Boeing 707-300), aviões que ficaram conhecidos no Brasil como “Sucatão” e foram desativados em 2013.
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