Convair B-36, o “Pacificador”

Primeiro bombardeiro nuclear de alcance intercontinental da história, o B-36 “Peacemaker” foi desenvolvido para alcançar a União Soviética no início da Guerra Fria
Gigante da Guerra Fria: O B-36 tinha 70 metros de envergadura e 10 motores (Domínio Público)
Gigante da Guerra Fria: O B-36 tinha 70 metros de envergadura e 10 motores (Domínio Público)
Gigante da Guerra Fria: O B-36 tinha 70 metros de envergadura e 10 motores (Domínio Público)
Gigante da Guerra Fria: O B-36 tinha 70 metros de envergadura (Domínio Público)

Seria engraçado se não fosse algo com potencial para destruir boa parte do planeta. Na década de 1950 os Estados Unidos apelidaram seu primeiro bombardeiro nuclear de alcance intercontinental como “Peacemaker”, o “Pacificador”.

Esse suposto “samaritano” foi um dos maiores aviões da história e podia carregar uma carga de 20 toneladas de bombas nucleares, que poderiam ser lançadas sobre a União Soviética, já logo no início do período da Guerra Fria.

Desenvolvido para substituir o Boeing B-29, o primeiro bombardeiro nuclear da história, o Convair B-36 foi projetado para uma eventualidade que felizmente nunca ocorreu: uma guerra nuclear entre os EUA e a antiga União Soviética. Era um avião enorme, até hoje um dos maiores já construídos. Tinha 49 metros de comprimento e absurdos 70 m de envergadura de asas. Para decolar, o Peacemaker precisava da força de 10 motores!

O primeiro protótipo do B-36 ficou pronto em setembro de 1945 e voou cerca de um ano depois. Ainda inspirado no B-29, a aeronave tinha linhas limpas e o cockpit perfilado com o resto da fuselagem, formato que seria radicalmente modificado na versão final.

Os primeiros testes de voo revelaram que a cabine tinha visibilidade limitada, problema que foi resolvido com um cockpit em bolha, como de um caça.

O cockpit "bolha" do B-36 foi uma solução para melhorar a visibilidade (Divulgação)
O cockpit “bolha” do B-36 foi uma solução para melhorar a visibilidade (Divulgação)

O B-36 foi criado para atender uma requisição do Exército dos EUA, de 1941, receando que a Inglaterra fosse derrotada pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Se os países Aliados perdessem o controle sobre a Europa, ataques posteriores contra as forças do Eixo teriam de ser realizados diretamente da América do Norte.

O relatório do exército dos EUA pedia uma aeronave com alcance de 8.000 km e capaz de carregar cinco toneladas de bombas a 10 mil metros de altitude. Era algo totalmente inédito e devido a complexidade do projeto, o avião demorou quase 10 anos para sair do papel, tempo em que o inimigo já era outro.

O primeiro protótipo do B-36 ainda não tinha a peculiar cabine em bolha (Domínio Público)
O primeiro protótipo do B-36 ainda não tinha a peculiar cabine em bolha (Domínio Público)

Até o coração da URSS

No final dos anos 1940, o B-36 era um avião notável. O resultado superava a expectativa do exército dos EUA. O bombardeiro tinha capacidade para 20 toneladas de carga bélica, que podia ser composta por bombas convencionais ou artefatos nucleares.

Todo esse volume, porém, limitava o alcance na aeronave. Normalmente, o armamento padrão do B-36 eram cargas de cinco toneladas, o que garantia uma autonomia de cerca de 16 mil km ou voos de até 42 horas consecutivas. O Peacemaker podia alcançar Moscou decolando de praticamente qualquer ponto dos EUA e retornar.

O B-29 ficou pequeno ao lado do primeiro protótipo do B-36 (Domínio Público)
O Boeing B-29 ficou pequeno ao lado do primeiro protótipo do Convair B-36 (Domínio Público)

Totalmente carregado, o B-36 podia pesar até 183 toneladas. Para fazer esse monstro metálico decolar foi preciso instalar mais quatro motores a jato em naceles nas asas para o impulso inicial do voo – quando a aeronave atingia a velocidade de cruzeiro de 630 km/h, os jatos eram desligados para economizar combustível.

Os tripulantes se deslocavam pelo interior da aeronave por meio de um carrinho que corria por um túnel pressurizado, ligando a cabine à seção da cauda e aos porões. As asas eram tão grossas que os seis motores radiais ficavam completamente alojados em seu interior. Uma passagem ainda permitia ao pessoal de manutenção acesso total aos motores, em pleno voo!

Nas missões que duravam quase dois dias, o B-36 levava uma tripulação composta por até 20 oficiais (13 titulares e sete reservas). Em missões normais, o gigante da Convair era operado por um piloto principal, dois co-pilotos, dois engenheiros de voo, um operador de radar e sistemas de lançamento de bombas, um navegador, dois operadores de rádio, o operador de equipamentos de contramedidas eletrônicas e, por fim, mais três artilheiros, que controlavam as torres com os canhões de 20 mm de auto-defesa.

Gigante de vida curta

Com a agitação tecnológica provocada pela corrida armamentista da Guerra Fria, o B-36 logo se tornou um avião obsoleto. Os motores a jato eram a tendência óbvia a se seguir, assim como as asas com formatos enflechados, difíceis de construir, mas que permitiam alcançar velocidades muito maiores. Em 1959, 11 anos após sua entrada em operação, o Peacemaker foi aposentado.

O B-36 foi substituído pelo B-52 no final dos anos 1950 (USAF)
O B-36 foi substituído pelo B-52 no final dos anos 1950 (USAF)

Mas isso não quer dizer que sua produção foi limitada. Ao todo, a Convair construiu 384 unidades do B-36 em diferentes versões, como o NB-36H, que carregava um reator nuclear, e os modelos do projeto FICON com um caça “parasita” F-84 para proteção. O B-36 nunca foi utilizado em combate, mesmo tendo existido no período em que os EUA se envolveu na Guerra da Coreia.

O que ninguém esperava era que o substituto do B-36 teria uma vida tão longa. Antes mesmo da aposentadoria do Peacemaker, entrou em operação do Boeing B-52 Stratofortress, em 1955, e que até hoje permanece em operação como uma das principais aeronaves da USAF, tendo marcado presença em diversos conflitos nas últimas décadas.

Veja mais: B-58 Hustler, o primeiro bombardeiro supersônico

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  1. Na primeira foto da reportagem: “Gigante da Guerra Fria: O B-36 tinha 70 metros de envergadura e 10 motores” acredito que a foto esteja apresentando o modelo errado com “apenas” seis motores turbo hélice.

  2. No protótipo somente haviam os 6 motores radiais e as rodas do trem principal eram simples e gigantes, o que causava uma enorme pressão no chão das pistas e pátios, danificando-as. Foram substituídas por trem de pouso composto de mais rodas, não lembro se 2 ou 4 por trem. Depois também colocaram os tais 4 motores a mais que eram a jato e colocados em “pods” no final das asas. Essa configuração inclusive deu origem à celebre frase, “six turning and four burning”… seis girando e quatro queimando!

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