A disseminação do novo coronavírus (Covid-19) pelo mundo pode causar um impacto econômico sem precedentes na aviação comercial, segundo estimativas atualizadas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Com a diminuição de voos na Europa e na região Ásia-Pacífico, a entidade calcula que as perdas globais de receita do setor podem passar dos US$ 100 bilhões em 2020.
Na análise anterior da IATA, divulgada em 20 de fevereiro, a organização previa perdas de US$ 29 bilhões. Até essa data a epidemia estava concentrada na China e países próximos pela Ásia, como a Coreia do Sul e Japão. Passados menos um mês, o novo coronavírus agora está se espalhando pela Europa e foi detectado em mais de 80 países no mundo todo, incluindo o Brasil com três casos confirmados.
Sempre sensível às variações e o humor da economia mundial, a aviação comercial é um dos setores mais afetados com o surto de Covid-19. Desde o início da epidemia na China, em dezembro de 2019, os preços das ações de companhias aéreas caíram quase 25%. De acordo com a IATA, até o momento essa queda é 21% mais acentuada que a registrada durante a epidemia de SARS em 2003.
“A virada dos eventos como resultado do Covid-19 é quase sem precedentes. Em pouco mais de dois meses, as perspectivas do setor em grande parte do mundo deram uma guinada dramática para pior. Não está claro como o vírus vai se desenvolver, mas vemos o impacto contido em alguns mercados e uma perda de receita de US$ 63 bilhões ou um impacto mais amplo que leva a uma perda de receita de US $ 113 bilhões, é uma crise”, disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da IATA.
Dois cenários de recuperação: um ruim, outro pior
A análise atualizada da IATA prevê dois possíveis caminhos para o setor em 2020. Em um cenário mais otimista, com propagação limitada da epidemia, a associação diz que o transporte aéreo de passageiros pode experimentar uma forte desaceleração nos próximos três meses seguida de uma recuperação acentuada com a estabilização dos mercados, algo que poderia acontecer em até sete meses.
Os mercados representados pela associação nesse cenário e sua queda prevista no número de passageiros, devido ao Covid-19, são os seguintes: China (-23%), Japão (-12%), Cingapura (-10%), Coréia do Sul ( -14%), Itália (-24%), França (-10%), Alemanha (-10%) e Irã (-16%). Além disso, a Ásia (excluindo China, Japão, Cingapura e Coréia do Sul) deverá ter uma queda de 11% na demanda. A Europa (excluindo Itália, França e Alemanha) sofrerá uma queda de 7% na demanda e o Oriente Médio (excluindo o Irã), de 7%.
Globalmente, essa diminuição na demanda pode causar uma perda de receita mundial de 11%, equivalente a US$ 63 bilhões, calcula a IATA, com a China respondendo por cerca de US$ 22 bilhões desse total.
Caso a epidemia do novo coronavírus continue se espalhando nas regiões citadas, situação que a IATA chama de “cenário de propagação extensiva” (do Covid-10), as companhias aéreas podem registrar perdas acima de 19% nas receitas em 2020, o que representaria um prejuízo de US$ 113 bilhões. Seria uma queda equivalente a enfrentada pelo setor durante a crise financeira mundial de 2008.
Regiões com mais casos da doença confirmados, os mercados da Ásia e Oceania podem sofrer uma redução de 23% no número de passageiros transportados, com perdas de US$ 49,7 bilhões. O pior cenário estimado pela IATA ainda não leva em consideração a disseminação do coronavírus em mercados da África, América Latina e Caribe.
“Tempos extraordinários”
O diretor da IATA alertou que os governos devem ficar atentos aos impactos do coronavírus na aviação comercial e tomar medidas para estimular a recuperação do mercado enquanto o surto é controlado.
“Muitas companhias aéreas estão reduzindo a capacidade e adotando medidas de emergência para reduzir custos. Enquanto os governos buscam medidas de estímulo, o setor de transporte aéreo precisará de consideração para isenção de impostos, taxas e alocação de slots. São tempos extraordinários ”, finalizou o diretor da IATA.
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