Uma tormenta iniciada do outro lado do mundo poderá influenciar indiretamente nos planos de frota da companhia aérea Azul no Brasil. Tudo por conta da delicada situação financeira da Hainan Airlines e do grupo a qual pertence, o HNA, um conglomerado chinês que no seu auge chegou a ter ações da rede de hotéis Hilton, do Deutsche Bank e da própria Azul.
Desde 2017, no entanto, o HNA tem se desfeito de vários ativos incluindo as ações da companhia brasileira por conta de sua dívida crescente, mas a situação piorou com um novo golpe, o coronavírus. A epidemia que atinge em cheio a China fez os voos da Hainan Airlines serem suspensos e com isso a crise se agravou. Agora, a empresa busca ajuda dos governos da província e do próprio país para sobreviver. Nos últimos dias, cogitou-se que o grupo será assumido pelo estado, com as companhias aéreas sendo repassadas para empresas estatais como a Air China.
Mas afinal como isso pode afetar os planos da Azul?
Pois bem, a HNA assumiu três aeronaves A350 arrendadas originalmente pela empresa brasileira em contrato assinado em 2014. Dois desses aviões, inclusive, chegaram a ser preparados para voar no Brasil, porém, a Azul decidiu alterar seus planos e fazer o leasing do A330-900neo, um jato menor e mais barato. Em setembro de 2017, a companhia aérea brasileira fechou um acordo com a Hainan e transferiu seus dois primeiros Airbus para a China, números de série 98 e 112. Um terceiro avião (124) foi enviado diretamente para a companhia chinesa em 2018.
E como isso foi feito?
Na época, o HNA era acionista da Azul com 24% de participação e direito a assentos no conselho de administração da empresa. Não foi difícil então para que a Hainan assumisse os widebodies por intermédio da Azul que passou a ser fiadora do negócio, feito com a empresa de leasing AerCap (originalmente, os aviões foram contratados junto à ILFC e que mais tarde foi adquirida pela AerCap).
Hoje a Hainan opera sete A350-900 de uma numerosa frota de mais de 230 aviões, mas a chance de a companhia aérea deixar de voar tem crescido, o que seria obviamente um problema para seus credores como a Azul.
A situação já estaria tão consumada que circulam rumores de que os jatos da Airbus voltarão para as mãos da Azul no segundo semestre caso ela não consiga encontrar outros interessados. No entanto, faltam clientes para esses aviões diante do cenário atual, não só afetado pelo coronavírus, mas também por uma redução na demanda de jatos de longo alcance mais modernos e caros. Tanto Boeing como Airbus estão freando o ritmo de produção dos modelos 787 e A330neo diante da redução de pedidos.
E se os A350 vierem para a Azul?
Essa hipótese parece pouco provável por exigir investimentos em treinamento de tripulantes e pessoal de terra para operar apenas duas ou três aeronaves. Fato é que a Azul tem sua base nos A330-200, aviões confiáveis e de aluguel mais em conta, sem falar que foram reformados recentemente a um custo significativo. Já os A330-900neo (dois aviões operando e mais três previstos para chegar até o ano que vem) foram alugados pela Avolon, uma empresa de leasing irlandesa que pertence adivinhem a quem? Sim, o grupo HNA.
A Avolon, inclusive, tem sido citada com frequência como uma das jóias da coroa do grupo e pode acabar sendo vendida em breve. Não se sabe, afinal, se o governo chinês poderá afetar seu funcionamento a ponto de influenciar de alguma forma nos negócios com a companhia aérea brasileira, mas nota-se que o problema vivido pela HNA pode ter vários desdobramentos.
A Azul, por sua vez, vive um momento de crescimento acelerado no mercado e tem renovado e ampliado sua frota como nunca na sua história. A companhia aérea anunciou no começo deste ano que voará para Nova York, um dos destinos mais procurados pelos brasileiros, e pretende lançar mais duas rotas intercontinentais no futuro. Ou seja, ela precisará reforçar sua frota de widebodies cedo ou tarde.
Airway consultou a AerCap, dona dos A350, e a Azul Linhas Aéreas, mas ambas preferiram não comentar o assunto.
Veja também: Para conter avanço do coronavírus, Latam suspende voos entre São Paulo e Milão
Na realidade existem duas oportunidades futuras para a Azul com os A350, podendo assumir esses 3 da HNA e também os 4 da South African, podendo quem sabe assumir rotas mais densas, como as de Orlando e até assumir voos para Joanesburgo e Paris futuramente, e claro dá um aumento de capacidade para New York. Acho que seria interessante futuramente a Azul contar com essas 7 aeronaves de alta densidade.