Dassault Mirage IV, a resposta da França na guerra nuclear

Irmão maior do caça Mirage III já utilizado pelo Brasil, bombardeiro era a resposta francesa na dissuasão nuclear
Uma dupla de bombardeiros em voo em baixa altura (Domínio Público)
Uma dupla de bombardeiros em voo em baixa altura (Domínio Público)
Uma dupla de bombardeiros Mirage IV em voo em baixa altura (Domínio Público)

Um dos caças supersônicos mais conhecidos da história, o Mirage III teve uma longa carreira no Brasil como principal interceptador da Força Aérea Brasileira. Isso sem falar na carreira internacional, onde esteve presente em uma dúzia de países. Situação muito diferente de seu “irmão maior”, o Mirage IV. Bombardeiro com capacidade de transportar armamento nuclear, o jato da Dassault foi por várias décadas um dos mais importantes vetores da Armée de l’air, a força aérea da França.

Com desenho semelhante ao Mirage III, o bombardeiro, no entanto, se diferenciava pelos dois motores turbojatos Atar 9K com mais de 15,8 mil libras de empuxo cada. Era um biposto para levar o operador de armas e navegador no assento traseiro. De resto, o Mirage IV herdava as mesmas soluções do irmão famoso, como a asa em formato de Delta e a capacidade de voar acima de Mach 2.

Mas era um avião muito maior. Com quase 23,5 metros de comprimento e envergadura de 11,9 metros, ele decolava com mais de 33 toneladas e podia atingir alvos a 1.250 km de distância. Esse desempenho poderia ser ampliado com o reabastecimento aéreo – curiosamente por meio de uma lança no nariz da aeronave. Sua produção, no entanto, foi bem limitada: apenas 66 unidades, incluindo os protótipos, foram entregues para a Armée de L’air – para se ter uma ideia, o Mirage III teve mais de 1,4 mil unidades fabricadas.

Guerra Fria

O surgimento do Mirage IV se deu na década de 50 quando a França pretendia possuir uma capacidade de dissuasão nuclear significativa. Invadida pela Alemanha nazista na Segunda Guerra, a nação não queria mais ser surpreendida e para isso construiu uma rede de mísseis balísticos e submarinos nucleares, além de buscar um vetor aéreo para lançar seus armamentos atômicos – o primeiro teste do gênero ocorreu em 1960, antes do Mirage virar realidade.

A requisição para a indústria francesa ocorreu em 1956 e três fabricantes apresentaram propostas, a Sud Aviation (Super Vautour, uma versão supersônica do jato Vautour), Nord Aviation e a Dassault, que propôs um projeto semelhante ao do Mirage III, então um protótipo em testes. A solução desta última se mostrou bastante adequada à necessidade da força aérea: um jato veloz e capaz de levar uma carga de armamentos respeitável, o que o levou a ser escolhido no ano seguinte.

Os aviões militares da Dassault: o bombardeiro Mirage IV era de longe o maior (Dassault)

Apesar da configuração parecida com o caça, o Mirage IV obrigou a Dassault a rever seu projeto por conta do aquecimento externo em velocidades supersônicas mantidas por um longo período (mais de 20 minutos). O primeiro voo do Mirage IV 01 ocorreu apenas em 17 de junho de 1959, mas era uma versão menor para avaliar o sistema de navegação e de lançamento de armas. O presidente da França na época, o General Charles de Gaulle, pretendia que a Dassault construísse uma versão maior, chamada de IVB, para reconhecimento, mas o programa foi cancelado.

Dassault Mirage IVP (www.blueprint.com)

Os primeiros voos foram bem sucedidos e o Mirage IV chegou a bater recordes mundiais de velocidade na época. Graças ao uma nova versão do turbojato Atar, a 9D, a Dassault pôde criar o Mirage IV A, com maior alcance e peso de decolagem. Foi essa versão que a força aérea encomendou 62 unidades em 1962. Dois anos depois, a França contava com um esquadrão operacional do belo jato de dois motores. À sua época, o Mirage IV foi o primeiro avião europeu capaz de manter-se em voo contínuo acima da velocidade de som.

Em plena Guerra Fria, os Mirage IV eram capazes de atacar vários alvos soviéticos como Moscou, Murmansk, mas no início da sua carreira apenas bombas de queda livre eram utilizadas. Quando ficou claro que bombardeiros passaram a ser um alvo fácil para mísseis anti-aéreos, a França decidiu atualizar e equipar o jato com um míssil nuclear, o ASMP, com alcance de 400 km. Eles foram redesignados como Mirage IVP, de “penetração”, algo semelhante ao que ocorreu ao bombardeiro americano B-1B Lancer.

Sem exportações

A despeito da capacidade pouco comum na época, o Mirage IV não teve sucesso comercial. E não faltaram tentativas da Dassault que chegou  a oferecê-lo a vários países como Austrália, Israel e até mesmo para a RAF, a força aérea real britânica, que havia cancelado o bombardeiro avançado TSR-2. Mesmo com a parceria com a British Aircraft Corporation e o uso de motores da Rolls-Royce, o alto comando britânico não ficou sensibilizado.

A carreira de bombardeiro do Mirage IV se encerrou em 1996 quando o avião foi substituído pelo menor e mais moderno Mirage 2000N. Mas cinco exemplares do Mirage “gigante” continuaram operacionais na função de reconhecimento até 2005 quando então sua aposentadoria chegou.

Mirages IV voam no pôr-do-sol: parte do tripé nuclear francês (Domínio Público)
FICHA TÉCNICA – DASSAULT MIRAGE IVP
Desempenho
Velocidade máxima Mach 2,2 (2.340 km/h)
Teto de serviço 20.000 m
Raio de combate 1.240 km
Dimensões
Comprimento 23,5 m
Envergadura 11,85 m
Altura 5,4 m
Área alar 78 m²
Pesos
Vazio 14.500 kg
Máximo na decolagem 31.600 kg
Carga de armamentos 7.250 kg
Propulsão
Dois motores turbojatos com pós-combustor Snecma Atar 9K-50 11.023 libras (sem pós-combustor) 15.873 libras (com pós-combustor)

Veja também: Avro Vulcan, o gigante delta do império britânico

 

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  1. Muito bom eu estou começando a emagrecer e estou muito feliz com meu corpo.
    Obrigado por compartulhar essas dicas

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