É a maior concentração de aviões por metro quadrado no mundo. Entre os mais de 4 mil aparelhos estão algumas das mais temíveis aeronaves já criadas: caças supersônicos poderosos, gigantes de carga capaz de transportar vários tanques de guerra e bombardeiros imensos preparados para levar várias ogivas nucleares.
Mas o silêncio contrasta com tamanho arsenal. Silêncio rompido por guindastes, serras e outros equipamentos que têm a missão não tão nobre de transformar esses um dia tão temidos armamentos em sucata. Davis-Monthan, base que abriga esses aviões, é o principal local usado pelas forças armadas dos Estados Unidos para armazenar todo o tipo de aeronave que está fora de serviço.
Localizada em Tucson, no Arizona, próxima a fronteira com o México, a base reúne as condições ideiais para a estocagem de aviões: ar seco (umidade de no máximo 20%), volume anual de chuva abaixo de 280 milímetros e altitude de 780 metros. Com isso, é possível preservá-los caso surja a necessidade de reativá-los.
Mas Davis-Monthan está mais para cemitério do que depósito. Se uma parte dos aviões lá estocados mantém condições de voltar a voar, a maioria acaba sendo repartida em vários pedaços.
Ritual de preparação
A responsabilidade por cuidar desses milhares de aviões é do AMARG, grupo de manutenção e regeneração aeroespacial que trabalha com as diversas forças americanas: marinha, guarda costeira, fuzileiros, NASA e a própria força aérea.
A função do AMARG engloba não só a estocagem e, quando for o caso, posterior desmantelamento, mas também converter aviões para servirem de drones de alvo e preservar alguns aparelhos para o museu nacional da força aérea americana.
Quando chega à base, um avião fora de serviço tem suas armas, material explosivo do assento ejetor e equipamentos ‘secretos’ retirados. Depois disso a aeronave é lavada, sobretudo se serviu a bordo de porta-aviões ou próxima ao mar, para eliminar possíveis materiais corrosivos. O sistema de combustível é drenado, preenchido com um lubrificante e novamente drenado para deixar uma camada de proteção.
É quando chega a hora de embalá-la. Entradas de ar e qualquer orifício maior são selados para ficarem protegidos do sol, poeira e temperaturas elevadas. Por fim, ele é levado por um pequeno trator até sua posição no deserto.
Privilegiados e condenados
Para separar os aviões por situação, o AMARG divide seu inventário em quatro classificações. O tipo 1000, por exemplo, é o mais nobre. Significa que o aparelho está lá apenas provisoriamente enquanto não é reativado. Por isso, os cuidados são maiores mesmo que ele fique lá por muito tempo a ponto de precisar passar por uma revisão de tempos e tempos.
O tipo 3000 é a chamada estocagem temporária, quando o avião é mantido em condições de voo quase imediata. Ocorre em casos em que um aparelho será transferido de base ou vendido para outra força aérea.
Os outros dois tipos de estocagem são, digamos, “post mortem”: em diferentes níveis, esses aviões acabam sendo desmontados e, na situação extrema, transformados em sucata. O tipo 2000 é quando a aeronave é depenada e suas peças, usadas em aviões em serviço. Já o 4000 significa a “extrema unção”: são unidades cujo governo não tem mais interesse em utilizar. Seu destino é ter peças vendidas e a fuselagem e asas sucateadas e recicladas em muitos casos.
Segunda maior força aérea do mundo
A área necessária para armazenar essa enorme quantidade de aviões é imensa, com cerca de 5 km de comprimento por 3 km de largura. Se fosse ativa, essa frota só seria inferior às forças armadas americanas – a Rússia, por exemplo, teria hoje cerca de 3,5 mil aeronaves em serviço, e o Brasil, pouco mais de 700 aviões.
E não é apenas na quantidade. Em Daves-Monthan repousam modelos como o B-1B Lancer, um dos principais bombardeiros americanos, capaz de voar acima da velocidade do som – ao menos 20 deles são visíveis no Google Earth em imagem do ano passado (acesse o link abaixo para ver a base no Google Maps).
O imenso C-5 Galaxy, o maior avião de transporte militar do Ocidente, é notado mesmo à distância – há mais de 50 deles no deserto. A lista é longa e inclui dezenas de C-130 Hercules, F-16 Fighting Falcon, KC-135 usados para reabastecimento aéreo, P-3 Orion, de patrulhamento marítimo, A-6 Intruder, S-3 Viking, da marinha, helicópteros como o CH-46, que combateu no Vietnã e inúmeros B-52, o velho bombardeiro que ainda possui unidades ativas.
A base tem dois “bolsões” muito claros: o que preserva os aviões por mais tempo e o cemitério propriamente dito, a sudeste do complexo. É lá que vemos o processo de desmontagem desses veneráveis aviões que um dia já foram motivo de preocupação no mundo todo.
Fatos e curiosidades
- O local existe desde 1925, mas tornou-se base em 1941. Apenas em 1946 foi criado o AMARG, responsável por armazenar B-29 e C-47 após o fim da Segunda Guerra.
- O nome “Davis-Monthan” é uma homenagem aos pilotos Samuel Davis e Oscar Monthan, que nasceram em Tucson.
- Embora a sigla oficial seja AMARG, o local é conhecido pelo apelido “The Boneyard” ou “O Cemitério”.
- Apesar de ser uma instalação militar, a maior parte dos 550 trabalhadores é civil.
- A área também é sede do PIMA, um dos maiores museus de aviação do mundo.
- O cemitério não é aberto ao público, mas é possível visitar algumas áreas de ônibus partindo do PIMA.
- Para ver os aviões no Google Maps clique aqui.
Será que é possível visitar?
Incrível!!
Muito Legal!
Deu uma dor no coração ver três F 14 sendo dsmontados….
Daria pra transformar essas carcaças em casas populares, imagine o aproveitamento do espaço dos aviões cargueiros por exemplo
Show!!!!
Em vez de destruir estes aviões deveria ser usados como casas para desabrigados e pronto socorros em vez de tendas