De mal com a Rússia, ucraniana Antonov busca parceiros na Turquia

Fabricante da Ucrânia busca cooperação com parceiros turcos, incluindo a produção conjunta de aeronaves
(Julian Herzog – Wikimedia Commons)
O cargueiro militar An-178 foi oferecido para a Turquia (Julian Herzog – Wikimedia Commons)

Executivos da fabricante ucraniana Antonov, incluindo o recém-nomeado presidente da companhia, Oleksandr Los, desembarcaram nesta semana na Turquia para discutir acordos de defesa com empresas turcas, incluindo a produção conjunta de aeronaves.

Pelo Twitter, o embaixador da Ucrânia na Turquia, Andrii Sybiha, disse que a cooperação entre os dois países podem abranger soluções “do subsolo ao céu”. O representante ucraniano ainda afirmou que a visita da delegação da Antonov ao país no Oriente Médio foi o “primeiro passo formal” para os dois países fabricarem aviões em parceria e citou o novo cargueiro militar An-178 como opção.

“A aeronave An-178 com características únicas é um projeto promissor para muitos parceiros internacionais”, escreveu Sybiha na rede social. O An-178 é uma aeronave militar de transporte de curto e médio alcance, desenvolvido a partir do An-158. Segundo dados da Antonov, a aeronave pode transportar 99 soldados, 80 pára-quedistas ou evacuar 70 doentes e feridos.

Em entrevista à emissora CNN Türk, o ministro de relações exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou que a Ucrânia e a Turquia “querem começar projetos mais ousados. Projetos em que as tecnologias turca e ucraniana sejam usadas juntas. Esses serão projetos competitivos no sentido global”.

“Passos para a defesa e produção conjunta de aeronaves Antonov foram esclarecidos durante a reunião e outra delegação da empresa é esperada (na Turquia) na próxima semana”, acrescentou Kuleba.

Aproveitando a reunião com os ucranianos, os turcos discutiram possíveis colaborações entre os dois países para produzir o drone de combate mais avançado da Turquia, o Bayraktar Akıncı, e outros veículos aéreos militares não tripulados fabricados pela indústria local.

O drone Bayraktar Akıncı ainda está em fase de desenvolvimento, mas já apresenta boas credenciais (Divulgação)

Em 2019, a Ucrânia comprou seis drones de reconhecimento e ataque produzidos na Turquia para equipar seu exército. Os aparelhos devem ser entregues entre o final deste ano e início de 2021. O país do leste europeu ainda negocia com os turcos a aquisição de um segundo lote de aeronaves de ataque não tripuladas.

A Turquia vive um grande momento de avanços na área de tecnologia militar, desenvolvendo seus próprios meios de defesa. O principal expoente dessa nova fase no país é o caça furtivo TF-X, projetado pela Turkish Aerospace e que tem seu voo inaugural programado para 2023, ano em que a república turca completa 100 anos.

Sem apoio da Rússia

A Antonov tem ligações tão fortes com a antiga União Soviética que muita gente pensa que a fabricante é russa e não ucraniana. A companhia foi fundada na Ucrânia, em 1942, época em que o país era uma das repúblicas soviéticas. No entanto, a amizade com os russos virou algo do passado.

Desde que a Rússia anexou a região da Crimeia em 2014, a Ucrânia vem se afastando gradativamente de Moscou. Um dos maiores afetados nessa história foi justamente a Antonov, que dependia fortemente de fornecedores russos para produzir suas aeronaves – cerca de 60% dos componentes dos aviões da Antonov eram importados da Rússia.

A Antonov é especialista em produzir aviões gigantes, como o An-225 e o An-124 (Divulgação)

Sem o fornecimento de peças fabricadas na Rússia, banidos pelo governo ucraniano, a Antonov praticamente paralisou suas atividades de produção nos últimos anos. Em 2018, a fabricante conseguiu repor parte dessa necessidade ao assinar um acordo com a Aviall, divisão de serviços da Boeing e passou a receber componentes fabricados nos Estados Unidos, Canadá, Israel e Europa, algo que no passado seria considerado um sacrilégio contra a “mãe Rússia”.

Em maio deste ano, o embaixador ucraniano nos EUA, Volodymyr Yelchenko, revelou que a Antonov estava discutindo a possibilidade de formar uma joint venture com a Boeing para produzir grandes aeronaves de carga.

“Acredito que o futuro de Antonov e de toda a indústria aeronáutica ucraniana depende muito da cooperação com a Boeing, consentida e apoiada politicamente por Washington”, disse o embaixador ucraniano na época.

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