Como a Embraer está enfrentando a crise da pandemia e o fim do acordo com a Boeing? Quais são os próximos planos e projetos da companhia? Essas e outras perguntas foram respondidas pelo presidente e CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, em entrevista ao Aviation Week. Executivo com longa experiência na indústria automotiva brasileira e ex-presidente da Marcopolo, Gomes Neto está passando neste ano pelo que a publicação norte-americana chamou de “batismo de fogo” no comando da Embraer. Desde que assumiu o cargo, em abril de 2019, o executivo conduziu o fim do acordo de parceira com a Boeing e agora traça os planos de recuperação da empresa.
Fim do acordo com a Boeing
Em abril deste ano, a Boeing cancelou o acordo de parceria com a Embraer. Os americanos comprariam 80% da divisão Embraer Aviação Comercial e participariam de outro empreendimento com a companhia brasileira – a Boeing-Embraer Defense – para promover o C-390 Millennium.
“Acreditamos que a Boeing rescindiu o contrato injustamente, e o motivo foi evitar a transação e nos pagar o preço de compra de US$ 4,2 bilhões”, disse o Francisco Gomes Neto. Na época do rompimento, a Boeing acusou a Embraer de não cumprir as exigências necessárias para concluir o acordo. Em resposta, a companhia brasileira disse que o grupo dos EUA “fabricou pretextos” para não assumir os compromissos da joint venture.
O fim do acordo com a Boeing deixou a Embraer ressentida sobre novas parcerias mais abrangentes. “Não temos mais intenção de vender a aviação comercial ou qualquer outra unidade de negócios. Estamos abertos a parcerias, mas não tão complexas ou radicais como tentamos fazer com a Boeing”, ressaltou o CEO da Embraer.
Questionado sobre como a empresa planeja retornar à lucratividade após o fim do acordo com a Boeing e quais iniciativas são mais promissoras, Gomes Neto citou quatro novas prioridades para empresa: proteger a saúde dos funcionários durante a pandemia, preservar o caixa, recuperar os processos de sinergia da empresa (com a reintegração da divisão de aviação comercial) e construir uma base para o crescimento no futuro, tornando a empresa mais “enxuta, ágil e eficiente”.
“Como você sabe, este ano estamos lidando com dois grandes temas. O primeiro foi a queda da nossa receita por conta do impacto do COVID-19. Aí o término do negócio com a Boeing tornou a situação ainda mais desafiadora, porque estamos lidando com essa queda de receita combinada com custos muito maiores do que o normal, por causa de todos os custos que criamos com aquele processo de separação (da aviação comercial)”, explicou o CEO da fabricante brasileira.
Turboélice no radar da Embraer
A turbulência da pandemia e o fim do acordo com a Boeing não fez a Embraer desistir da ideia de construir um turboélice comercial de última geração. Como já havia dito em outras entrevistas, Gomes Neto reafirmou que um projeto desse porte exige a participação de um parceiro investidor.
“Temos um bom projeto. Acreditamos que seja um bom produto e agora estamos procurando parceiros para nos ajudar a desenvolver. Acreditamos que o projeto tem futuro, mas neste momento, realmente precisamos de um parceiro”, disse Gomes Neto, acrescentando que o projeto do turboélice pode ter a participação de “um ou dois ou três sócios”.
Avião híbrido elétrico
Perguntado sobre o uso de combustíveis sustentáveis e alternativas mais ecológicas na aviação, Gomes Neto sugeriu que o avanço da Embraer nesse sentido deve começar com aeronaves impulsionadas por sistemas de motorização híbrido-elétrico.
Ao contrário da Airbus, que estuda o uso do hidrogênio como o próximo combustível da aviação, Gome Neto acredita que a ideia segue “as linhas de pesquisa para o futuro”, mas que ainda é algo “muito prematuro”.
“Na Embraer, estamos trabalhando em uma aeronave com propulsão híbrida-elétrica. Já pesquisamos sobre esse combustível. Acreditamos que esta tecnologia estará disponível a curto e médio prazo para uso comercial”, disse o CEO da Embraer, comentando sobre o projeto da empresa conduzido em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB).
“Ainda não é o turboélice (comercial), pelo menos, mas estamos trabalhando em uma nova aeronave militar leve. Estamos trabalhando com a FAB, e essa aeronave terá essa propulsão híbrida-elétrica nesta fase de desenvolvimento do projeto”, comentou Gomes Neto.
Recuperação começa pela aviação regional
Nos últimos meses de pandemia, à medida que as restrições de voo são reduzidas ao redor do mundo, os jatos da Embraer são os que vem apresentando as maiores taxas de reativação, enquanto aeronaves maiores seguem estacionadas.
“É difícil prever quando essa crise vai acabar, mas acreditamos que o mercado regional se recuperará primeiro e as companhias aéreas buscarão jatos mais versáteis, flexíveis e econômicos para melhorar sua lucratividade também. Portanto, neste cenário, acho que nossos E-Jets se encaixarão perfeitamente nas companhias aéreas. Essa é a nossa expectativa”, disse Gomes Neto.
A despeito da crise, o presidente da Embraer disse que a situação de liquidez da empresa é “muito confortável” para os próximos dois ou três anos. “Por isso estou muito confiante de que a Embraer terá um futuro brilhante pela frente, ainda melhor do que mostrávamos antes.”
“Eu acredito neste plano de cinco anos. No decorrer desse plano, atingiremos receitas superiores às que alcançamos no passado, porque agora temos novos produtos. Temos o C-390, temos os produtos para a Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e de segurança cibernética. Temos mais serviços e produtos do que antes, mas com uma estrutura totalmente nova. Acho que estaremos melhores do que antes”, concluiu o presidente da Embraer.
Veja mais: Primeira aeronave fabricada pela Embraer foi um planador
Acredito que o cancelamento da venda de 80% da Embraer para a Boeing, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. A Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo. não necessita da Boeing ou de qualquer outra.
Vamos em frente !!!!