O anúncio do rompimento da joint venture entre Boeing e Embraer mal foi divulgado e as duas empresas já começaram a se acusar mutualmente pelo fracasso do negócio.
Horas depois de ser surpreendida com o comunicado da Boeing, que a responsabilizou por não ter atendido às condições necessárias para consolidar as tratativas, a Embraer divulgou uma nota dura em que acusa a empresa dos EUA de “fabricar falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação e pagar à Embraer o preço de compra de U$ 4,2 bilhões”.
Na visão da empresa brasileira, a Boeing “adotou um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA (Acordo Global de Cooperação), devido à falta de vontade em concluir a transação, sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação”.
A Embraer promete ainda buscar todas as medidas cabíveis contra a Boeing pelos danos sofridos pelo cancelamento e violação do acordo, que foi considerado indevido pela fabricante.
A companhia, que completou 50 anos em 2019, afirma ainda que superará esse triste momento por ser uma empresa bem-sucedida, eficiente e diversificada: “Nossa história de mais de 50 anos está alinhada com muitas vitórias, mas também com alguns momentos difíceis. Todos eles foram superados. E é exatamente isso que vamos fazer novamente. Superar esses desafios com força e determinação”, finaliza o texto.
O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, também se manifestou, lamentando a decisão da Boeing, mas confirmando que a Embraer buscará compensações.
Dupla vitória da Airbus
O fim da joint venture entre a Boeing e a Embraer, após cerca de 30 meses de negociações e discussões, certamente será comemorado como uma dupla vitória da Airbus.
Em vez de enfrentar um concorrente com uma linha de produtos similar, a fabricante de aviões européia disputará pedidos com duas empresas enfraquecidas, com problemas financeiros e uma menor margem de negociação.
Uma coisa é certa, a joint venture se arrasta há muito tempo para eleger a pandemia de coronavírus como a principal razão para o fim do projeto. As conversas entre os dois grupos começaram no segundo semestre de 2017, mas houve apenas um anúncio oficial em julho de 2018.
A proposta enfrentou eleições gerais no Brasil, protestos contra investimentos estrangeiros na Embraer e discussões prolongadas sobre como separar as divisões da empresa brasileira, que também atua nos mercados de defesa e jato executivo.
Um cenário diferente do que ocorreu com a negociação da Airbus para a compra dos jatos C Series da Bombardier, que fez a Boeing se aproximar da Embraer. Os europeus preferiram criar uma parceria para oferecer os novos jatos em que se comprometeram a investir no programa pelo custo simbólico de um dólar canadense.
A Boeing e a Embraer, por sua vez, decidiram lançar uma terceira empresa, a Boeing Brasil Commercial, na qual a empresa americana teria uma participação de 80%, depois de pagar US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 23,5 bilhões).
É precisamente esse valor que não está mais disponível, apesar das alegações da Boeing de que a Embraer não teria cumprido sua parte do contrato.
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Com certeza é pretexto!!