Não fosse pela pandemia do novo coronavírus, hoje poderia haver uma festa na fábrica da Embraer em São José dos Campos (SP). De forma discreta e com poucos convidados, a empresa celebrou nesta quarta-feira, 1 de julho, a entrega do seu E-Jet de número 1.600, um modelo E190-E2. A companhia aérea Helvetic Airways, da Suíça, recebeu a histórica aeronave.
“É uma honra como novo Presidente e CEO da Embraer Aviação Comercial entregar esta simbólica aeronave. É um imenso marco para o programa de E-Jets e para a história da Companhia”, disse Arjan Meijer. “Ao longo dos anos, estive pessoalmente muito próximo da Helvetic e de seu projeto de planejamento de frota de E-Jets. Todos na Embraer estão extremamente orgulhosos de ver uma companhia aérea tão renomada voando com nosso E-Jet de número 1.600.”
Presente atualmente na frota de mais de 82 companhias aéreas em mais de 50 países, os E-Jets da Embraer estrearam no mercado em 2004, começando pelo E170. Na sequência, em 2005 a fabricante entregou os primeiros modelos E175 e E190 e, em 2006, o E195. A segunda geração E2 entrou em operação em 2018, com o E190-E2, e no ano passado foi entregue o primeiro E195-E2. A nova família de jatos regionais ainda contempla o E175-E2, que tem previsão de estreia em 2021.
Cliente do E-Jet número 1.600, a Helvetic Airways está atualmente em transição de uma frota de jatos da primeira geração E1 para os E2. A companhia recebeu o primeiro E190-E2 em outubro de 2019 e desde então adicionou mais quatro unidades (de um total de 12 pedidos firmes e opções de compra para mais 12 aeronaves) como parte de seu programa de renovação de frota. Além do modelo histórico, a empresa suíça recebeu mais um modelo nesta semana.
“Estamos especialmente orgulhosos em receber uma aeronave E2 durante um período desafiador para nossa indústria”, disse Tobias Pogorevc, CEO da Helvetic Airways. “É um privilégio genuíno compartilhar este momento especial com a Embraer. Recebemos muitos comentários positivos sobre o E190-E2 de nossos passageiros e tripulações desde que o introduzimos em nossa frota. Não poderíamos estar mais felizes com o desempenho da aeronave. O consumo de combustível é ainda menor do que esperávamos, o que torna o avião ainda mais ambientalmente amigável. Estamos ansiosos para retomar as operações em breve – com nosso histórico E190-E2 também.”
Os jatos da Embraer são os mais vendidos do mundo no segmento de 70 a 150 assentos. Em quase duas décadas, o programa registrou mais de 1.900 pedidos, de mais de 100 clientes. Segundo a fabricante, a frota global de E-Jets acumula mais de 30 milhões de horas de voo, com uma taxa média de disponibilidade de 99,9%.
E-Jets lideram retomada da aviação durante a pandemia
As mudanças no mercado de transporte aéreo durante a pandemia da Covid-19 estão de certa forma beneficiando os jatos da Embraer. A queda na demanda nas rotas domésticas e de curto alcance já tem motivado várias companhias aéreas a utilizar aeronaves menores. Um sinal disso foi mostrado pela consultoria Cirium recentemente, que revelou que 45% dos aviões em serviço ofereciam de 70 a 150 assentos, justamente o nicho onde a fabricante brasileira oferece seus aviões.
Segundo a Embraer, quase 70% dos E-Jets já retomaram as atividades durante a pandemia. Um artigo publicado em maio no site da fabricante ressaltou esse aspecto: “O termo ‘tamanho certo’ nunca foi tão apropriado. Ainda há um longo caminho a percorrer antes que possamos reivindicar vitória sobre as crises, mas, à medida que o vento sopra, as companhias aéreas com aeronaves de tamanho certo se recuperam mais rápido e mais forte”.
Sem concorrentes
Por um acaso, atualmente a Embraer figura em uma posição extremamente confortável no mercado entre 70 e 150 assentos. Seu modelo E175 de primeira geração continua a atrair muitos pedidos sobretudo das companhias aéreas dos EUA e não possui concorrente já que a Bombardier abandonou o segmento e a Mitsubishi desistiu de desenvolver o SpaceJet M100.
Entre 100 e 150 lugares, a empresa brasileira tem um adversário de peso, a Airbus, que assumiu a C Series da Bombardier e os renomeou como A220. Mas o jato de nova geração é um produto caro e que tem mais pedidos na variante A220-300, que pode levar entre 120 e 160 passageiros.
No mercado de aeronaves usadas, mais uma vez a Embraer se sobressai, com mais de 1.500 aeronaves em serviço enquanto o A220 possuía somente 113 unidades entregues até abril.
Carreira imaculada
Presentes no mercado há quase 20 anos, os E-Jets da Embraer estiveram envolvidos em apenas dois acidentes com vítimas fatais, mas nenhum deles foi causado por falhas no projeto.
Em 24 de agosto de 2010, um E190 da empresa chinesa Henan Airlines aterrissou a cerca de 1 km da pista do aeroporto de Yichun Lindu, resultando em 44 mortes. O relatório final da investigação, divulgado em 2012, concluiu que a tripulação da aeronave não seguiu os procedimentos de segurança para operações com baixa visibilidade.
Outro E190, operado pela LAM Mozambique Airlines, caiu da Namíbia em 29 de novembro de 2013 por ações deliberadas do piloto, matando todos os 33 ocupantes a bordo. A investigação do caso apontou que o primeiro oficial do voo supostamente deixou a cabine para usar o banheiro. Ele foi trancado do lado de fora do cockpit pelo capitão, que reduziu drasticamente a altitude da aeronave e ignorou vários avisos automatizados antes do impacto em alta velocidade.
Veja mais: Primeiro caça Gripen brasileiro chegará ao país de navio