A Embraer avalia a intenção da Índia em obter mais informações sobre a aquisição de 40 a 80 unidades do C-390 Millenium como uma “boa surpresa”. Segundo o CEO Francisco Gomes Neto, a fabricante brasileira “está aberta a vários tipos de cooperação” com o país asiático. O executivo disse, ainda, que não vê nenhum obstáculo geopolítico que possa dificultar um eventual acordo comercial com o governo de Nova Delhi.
Diante de sua rivalidade com a China e o Paquistão, a Índia se tornou o maior importador de armas no período entre 2017 e 2021, apontou um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), divulgado em março de 2022. De acordo com Gomes Neto, o cenário geopolítico favorece mais investimentos dos governos nacionais na renovação de suas capacidades militares.
A Embraer também corre por fora como potencial parceira da Índia para estabelecer uma joint venture para produzir jatos comerciais de pequeno porte, revelou a Bloomberg na última sexta-feira (3). A fabricante russa Sukhoi também está negociando com o governo indiano.
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Para Marcos Barbieri, economista da Unicamp e especialista em indústria aeronáutica, mesmo se a Índia vier a encomendar “apenas” 40 aeronaves, o volume seria muito mais expressivo do que o pedido inicial da Força Aérea Brasileira (FAB), que previa 27 unidades. O mercado daquele país poderia, portanto, elevar o status da divisão de Defesa da companhia.
Barbieri ressalta, no entanto, o papel fundamental a ser desempenhado pelo governo brasileiro quando se trata de abrir novos mercados para o C-390 Millenium. “Estamos falando de compras governamentais. O governo pode incentivar as exportações via BNDES ou abrir novas frentes comerciais com o Itamaraty, por exemplo”, afirmou.
O pesquisador destaca também que o Brasil já vendeu aeronaves altamente sofisticadas para a Índia, como as de alerta aéreo antecipado. Para ele, as exportações do C-390 Millenium para o governo indiano “dariam uma escala de produção fantástica para a Embraer”.
Na sua análise, o C-390 Millenium é o produto mais competitivo do segmento de cargueiro militares, tendo em vista que o seu concorrente, o C-130 Hercules, se tornou um meio obsoleto. “Prova disso é que a Holanda, país que integra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), extremamente criterioso para compras militares, selecionou a aeronave como a única capaz de atender aos seus requisitos de renovação da frota”, explicou.
Em 2022, a Holanda se tornou o terceiro país da OTAN a contratar a aeronave. O país europeu encomendou cinco aeronaves, com a previsão de entrega do primeiro em 2026. Os outros países são Portugal e Hungria – o primeiro com cinco unidades e o segundo com apenas duas.