Apesar de seu primeiro protótipo encontrar-se em avançado estágio de montagem, o E175-E2 pode levar mais tempo para chegar ao mercado. O presidente da Embraer Aviação Comercial, John Slattery, admitiu em entrevista no exterior que o lançamento da versão, previsto para 2021, pode atrasar “por uma questão de meses, certamente não de anos”. A razão alegada pelo executivo não tem a ver com a falta de clientes (o jato não possui qualquer encomenda firme até o momento) e sim por uma questão de fluxo de caixa.
Slattery também nega que o menor jato da família E2 não possua interessados. Para o irlandês, o pedido da Skywest, que reservou 100 unidades do E175-E2, mas que deixaram de constar na lista oficial da empresa, é um “contrato válido”. Por ter ações negociadas na bolsa, a Embraer precisa atender algumas cláusulas de transparência que sua rival Mitsubishi Aircraft não tem – a empresa japonesa também teve um pedido da Skywest nos mesmos moldes e que continua a constar em seu “backlog”.
O E175-E2 deveria ser o sucessor do E175 de primeira geração e jato comercial mais bem sucedida da Embraer em sua história. Graças ao seu perfil operacional que se enquadra como nenhum outro avião às limitações impostas pelos sindicatos de pilotos dos EUA, a aeronave tem recebido inúmeras encomendas de companhias aéreas regionais americanas. Mas a variante E2, que é mais econômica e capaz, atualmente está proibida de ser operada por essas empresas por conta sobretudo do peso máximo de decolagem superior à 86 mil libras, o limite da chamada “cláusula de escopo”.
A Embraer esperava que essa cláusula fosse relaxada em novas rodadas de negociações entre tripulantes de American Airlines, United Airlines e Delta Air Lines, mas os indícios são de que não haverá mudança tão cedo.
Ressabiada, a Mitsubishi resolver mudar o projeto do MRJ70, relançando o modelo como SpaceJet M100 e que, garante ela, obedecerá a regulamentação americana. Menor e mais leve que o Embraer, o jato japonês deverá receber aprimoramentos para que mantenha uma boa capacidade de passageiros e alcance.
Clientes fora dos EUA
Em maio, Airway presenciou o primeiro protótipo do E175-E2 sendo montado em São José dos Campos. A Embraer vai construir três protótipos para a campanha de testes, sendo um para ensaios estáticos em solo e dois para voos.
O E175-E2 tem quase um metro de comprimento a mais que o modelo da primeira geração (32,4 metros contra 31,6 metros), o que permite adicionar mais uma fileira de assentos na cabine. A capacidade da nova aeronave varia de 80 a 90 passageiros, enquanto o E175 comporta de 76 a 88 ocupantes. Outras novidade no jato são os motores mais eficientes, asa redesenhada e sistemas de controle 100% computadorizados (full fly-by-wire).
Apesar das dificuldades no mercado norte-americano, Slattery continua otimista e acredita que o E175-E2 responderá por um terço dos pedidos da família no futuro. Para respaldar essa previsão, a Embraer está em negociações avançadas com clientes do modelo fora dos EUA. Um deles pode ser a British Airways, cuja subsidiária CityFlyer está prestes a anunciar uma nova encomenda para substituir seus E170 e E190.
Por essas razões, o atraso na chegada ao mercado do E175-E2 seria estratégica, a despeito da previsão do primeiro voo ter sido mantida para 2019. Serão então ao menos dois anos para certificar o jato à espera das tão desejadas encomendas.
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