Embraer se une à Boeing em jato que usa querosene de cana de açúcar

Programa “ecoDemonstrador” vai usar jato Embraer E170 para testar novas tecnologias para reduzir o impacto ambiental da aviação e melhorar a eficiência de aeronaves comerciais
O "ecoDemonstrator" é um Embraer E170 para estudo de novas tecnologias (Thiago Vinholes)
O “ecoDemonstrador” é um Embraer E170 para estudo de novas tecnologias (Thiago Vinholes)
O "ecoDemonstrador" é um Embraer E170 para estudo de novas tecnologias (Thiago Vinholes)
O “ecoDemonstrador” é um Embraer E170 para estudo de novas tecnologias (Thiago Vinholes)

Boeing e Embraer apresentaram nesta quinta-feira (7) no Rio de Janeiro (RJ) a aeronave que será utilizada pelas duas fabricantes no programa “ecoDemonstrador”, anunciado no ano passado. O avião, que as empresas chamam de “plataforma de ensaios”, é um Embraer E170, que receberá uma série de novas tecnologias para preservação do meio ambiente e para elevar o desempenho e eficiência da aviação comercial em escala global.

Essa é a primeira vez que o programa ecoDemonstrador, iniciado em 2011 pela Boeing, é realizado fora do território norte-americano e em parceria com outra fabricante de aeronaves. Em outras ocasiões, a fabricante norte-americana trabalhou em parceria com a Nasa e a FAA, a autoridade federal de aviação dos Estados Unidos.

“Como líderes do setor, Boeing e Embraer têm a oportunidade única de investir em testes e em tecnologias que estimulem o desenvolvimento da aviação de modo equilibrado e sustentável e que paralelamente apoiem o crescimento de nossos clientes globalmente”, ressaltou John Tracy, vice-presidente de engenharia, operações e tecnologia da Boeing.

“Ao integrar e testar diferentes tecnologias em uma única aeronave no Brasil, contribuímos para a consolidação de um poderoso instrumento de apoio ao desenvolvimento tecnológico e à inovação”, afirmou Mauro Kern, Vice-Presidente Executivo de Operações da Embraer.

Novas tecnologias

Ao todo, o ecoDemonstrador vai avaliar cinco novas tecnologias em busca de soluções que podem tornar os jatos comerciais mais eficientes em consumo de combustível e com menores índices de ruídos, além da aplicação de biocombustível. “Com o uso de uma aeronave, esses novos recursos podem ser testados em condições reais de voo, acelerando seu amadurecimento”, explicou Kern.

Os ensaios de voo com os novos itens serão realizados em agosto e setembro. A aeronave ficará baseada na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP), onde também será realizada a instalação dos componentes a serem testados.

Slat Noise: Embraer e Boeing vão estudar novas formas de reduzir o ruído gerado pelos “slats”, as superfícies no bordo de ataque (região frontal da asa) que se movimentam para frente, aumentando a sustentação da aeronave e permitindo pousos e decolagens em velocidades menores.

ecoPaint: As duas fabricantes desenvolveram um tipo especial de pintura que reduz o acúmulo de resíduos e o arrasto aerodinâmico da aeronave, o que consequentemente reduz o consumo de combustível e o nível de emissões. “Essa pintura também reduz o acumulo de gelo na fuselagem durante os voo e facilita na hora de limpar o avião, consumindo menos água no processo”, acrescentou Luiz Nerosky, coordenador do programa ecoDemonstrador na parte da Embraer.

LIDAR: O “Light Detection and Ranging” (Luz de Detecção Variável) utiliza pulsos de laser para medição de distâncias e sensoriamento remoto. Essa tecnologia pode ser uma alternativa aos “Tubos de Pitot”, sistema que utiliza o ar para medir a velocidade e altitude da aeronave.

Boudary Layer Data System: Essa tecnologia é um medido em voo de “camada limite da asa”, que é a região por onde se desloca o ar, o que implica em importantes características e comportamentos aerodinâmicos. Com essa técnica é possível “visualizar” o ar, permitindo o desenvolvimento de novas soluções aerodinâmicas de alta complexidade e reduzindo a necessidade de mais testes.

Biocombustíveis: O ecoDemonstrador vai voar abastecido parcialmente com bioquerosene fabricado no Brasil a partir de cana de açúcar. De acordo com Boeing e Embraer, o combustível alternativo reduz as emissões de CO2 em aproximadamente 82%. O modelo será testado com uma combinação composta por 10% de bioquerosene e 90% de querosene fóssil, o que atualmente representa o limite máximo de mistura para a tecnologia, de acordo com a norma da ASTM (American Society for Testing and Materials).

O ecoDemonstrador vai começar a voar com as novas tecnologias a partir de agosto (Thiago Vinholes)
O ecoDemonstrador vai começar a voar com as novas tecnologias a partir de agosto (Thiago Vinholes)

Futuro

Como explicaram os executivos de Boeing e Embraer, as novas tecnologias propostas no ecoDemonstrador ainda não têm data para serem introduzidas nas aeronaves de série, apesar de algumas já estarem mais avançadas do que outras, como é o caso dos biocombustíveis.

“Estamos trabalhando para um dia poder utilizar somente biocombustível nos aviões. Isso é absolutamente possível”, antecipou Mauro Kern, da Embraer. No entanto, a produção de bioquerosene ainda é grande como a do querosene convencional, obtido a partir de petróleo. “O preço do biocombustível para aviação ainda não é competitivo, mas isso vai mudar. Especialmente no Brasil, que já tem tradição nesse segmento”, prevê John Tracy, da Boeing.

O novo plano de cooperação entre Boeing e Embraer reforça uma relação iniciada em 2012, quando ambas anunciaram que trabalhariam em parceria para desenvolver novas soluções para o setor. Desde então, colaboram em um projeto visando o incremento da segurança de pousos e decolagens e no desenvolvimento do cargueiro militar KC-390. Além disso, em 2015, as duas fabricantes inauguraram um centro de pesquisas sobre biocombustíveis em São José dos Campos (SP) com o objetivo de realizar estudos e coordenar pesquisas com universidades e outras instituições brasileiras.

Desde o seu lançamento, a Boeing usou o programa ecoDemonstrador para testar mais de 50 tecnologias em diferentes modelos de aeronaves: 737-800 Next Generation, 787 Dreamliner e, mais recentemente, em um 757. Em comum, os testes realizados buscam atender às novas diretrizes globais de redução de ruído e de emissão de carbono, além de testar inovações que melhorem o desempenho e eficiência operacional de aeronaves comerciais.

“A colaboração entre as fabricantes é essencial para o avanço da indústria. Estamos orgulhos de ter a Embraer como parceiros. E que essa união ainda dure muitos anos”, finalizou Tracy.

Veja mais: Airbus avança em projeto de helicóptero “eco-eficiente”

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  1. É a segunda notícia que fala sobre Embraer e Boeing trabalhando em conjunto.

    Será um embrião de uma futura fusão?

  2. Acho que secretamente a Boeing comprou o controle acionario da Embraer, eis que os americanos sao nacionalistas ao extremo, e nao iriam admitir tamanho destaque de uma empresa de terceiro mundo, sem a chancela secreta do Pentagono e da NSA/CIA. Com a aquisição da embraer a Boeing passa a dominar varios mercados e soma mais de 30 bilhoes a sua carteira de pedidos, com certeza o KC 390 vai com tudo para cima da LR martin (principal fornecedora a anos da USA force………………. apos 10000 nisso, vejamos as noticias daqui um ano ou mesmo antes

  3. Longe de querer ser nacionalista…mas acho que em matéria de Biocombustíveis o Brasil está na frente dos americanos, tanto em tecnologia como em escala de produção, tanto que o programa Pró Álcool já tem mais de 30 anos, e Americano é tudo menos burro, eles não tem vergonha nenhuma de se juntar a quem detém a tecnologia, até porque Embraer e Boeing fabricam aviões, mas para categorias e aplicações diferentes.

  4. Concordo com o Giuliano SPFC, o Brasil saiu na frente em biocombustíveis e, apesar da crônica falta de recursos para pesquisas e continuidade do programa, a Embraer aproveitou o momento e comercializou o primeiro avião à etanol do mundo, que é o Ipanema.

    E como as empresas atuam em nichos diferentes, podem muito bem se aliar. A Embraer acaba de lançar o KC-390, cujo concorrente é o Hércules, da Lockheed. A Boeing ajudará nas vendas. O maior avião comercial da brasileira não concorre com o menor da norte-americana.

    Ambas podem se ajudar.

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