A revisão dos motores a jato de aviões é um processo delicado e além de tudo muito caro. Cada teste de um motor em processo de manutenção custa cerca de US$ 50 mil, algo em torno de R$ 180 mil, e cerca de 5% deles acabam reprovados. É um número que pode parecer pequeno, mas na aviação a conta é sempre alta.
Com objetivo de reduzir ainda mais essa estatística, engenheiros da GE Celma, em Petrópolis (RJ), uma unidade da GE Aviation no Brasil, desenvolveram uma ferramenta que analisa o motor em milésimos de segundo e mostra o que precisa ser reparado no processo de manutenção antes de iniciar a fase de testes e aprovação para seu retorno as asas de algum avião.
A ferramenta desenvolvida por brasileiros é um programa de computador que analisa o motor no banco de provas para “prever” ou “revelar” resultados, como explica a GE. Por conta disso, a novidade foi batizada com inspiração bíblica e recebeu o nome PATMOS, uma referência a Ilha de Patmos, na Grécia, onde supostamente o apóstolo João teria escrito o último livro do Novo Testamento, o “Apocalipse”, também conhecido por “Livro das Revelações”.
“É um banco de dados ‘vivo’ e em constante atualização. Quanto mais testes realizamos, mais dados comparativos são gerados e, cada vez mais, garantimos um programa com alto grau de acuracidade. O próximo passo será deixá-lo mais automatizado. Atualmente, ainda há necessidade da intervenção de uma pessoa para que os dados possam ser utilizados”, explicou Pedro Teixeira, engenheiro da GE Celma.
O programa, resultado de pesquisas realizadas pela empresa durante cinco meses, analisa a performance de 250 parâmetros na montagem de um motor aeronáutico e indica mais de 10 milhões de dados capazes de indicar se determinado motor será aprovado ou não no banco de provas, a etapa final no processo de reparo de motores.
Como explica a GE, o novo método possibilidade detectar digitalmente o problema e corrigí-lo antes de finalizar a remontagem do motor e iniciar os testes de aprovação. “Com o PATMOS, a expectativa é alcançar 100% de assertividade na previsão dos dados e o número de reprovações pode tender a zero. Este será mais um diferencial competitivo da GE Celma, visto que a empresa já consegue realizar a completa revisão de um motor, incluindo recebimento, desmontagem, limpeza, inspeção, remontagem, testes e expedição, entre 60 e 65 dias. Um recorde no mercado mundial de aviação”, diz Rodrigo Araújo, da área de planejamento de produção da GE Celma, e um dos idealizadores da nova ferramenta.
Com a redução das rejeições no banco de provas, a empresa fluminense prevê uma economia que pode chegar até US$ 1,3 milhão por ano, além de poupar cerca de 300 horas de retrabalho, o que inclui desmontar o motor, corrigir o problema e refazer o teste.
Segundo Luis Gustavo Plumm, da área de Engenharia de Motores, e também um dos criadores da solução, o maior desafio foi encontrar uma forma inteligente e eficaz de tratar os dados. “Era um trabalho impossível de ser feito por conta do volume de informações. Antigamente, os dados ficavam armazenados de maneira analógica e a análise era feita de forma manual”.
A nova ferramenta está em uso desde março de 2018 e todo o processo é dividido em cinco etapas. Primeiramente, a área de engenharia define o escopo de trabalho de determinado motor e seleciona as operações necessárias. Em seguida, ao longo do processo de revisão, os mecânicos registram no sistema todas as ações realizadas. Na sequência, é feita a coleta destes dados armazenados e, a partir daí, os mesmos são padronizados e organizados em um sistema, o PATMOS. Nele, cerca de 10 milhões de dados são transformados em quatro indicadores – vibração; thrust (empuxo gerado pelo motor); temperatura; e ítens críticos – analisados e combinados estatisticamente com dados históricos para prever o resultado do teste e intervir no processo, se for o caso.
“A inovação e a constante busca por melhores práticas e resultados estão na essência da GE e o PATMOS é um retrato do que buscamos para o desenvolvimento da nossa companhia”, complementa Julio Talon, presidente da GE Celma.
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Lembrando que a CELMA é legado da antiga (e injustiçada) Panair do Brasil…
Parabéns aos engenheiros brasileiros!
Parabéns aos engenheiros. Se funcionar como dito, além de economia e tempo e dinheiro, vai gerar mais segurança na operação dos aviões comerciais.
Como detalhe, só achei o nome do programa muito zuado e a lógica por trás desse nome é ainda pior.