Enquanto adquire novo avião VIP, presidente argentino descarta novos caças

Em entrevista, Alberto Fernández afirmou que país deve focar em “coisas mais importantes”, mas seu governo está gastando US$ 25 milhões com nova aeronave presidencial
Avião de ataque A-4, usado pela Força Aérea para defesa e o novo 757 presidencial (USAF e Aircraft.com)

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, com uma simples fala entregou de bandeja um prato cheio de polêmicas aos seus opositores num momento em que o país se estrangula em dívidas.

Questionado sobre a possibilidade do país comprar aviões militares e se Buenos Aires poderia recorrer a fornecedores da China para tal, o mandatário da Casa Rosada disse em entrevista ao Financial Times que este não é um assunto prioritário.

“A Argentina tem que destinar seus recursos para coisas mais importantes do que a compra de aeronaves militares. Estamos em um continente muito desigual, mas não há problemas de guerra e busca-se a unidade entre os países”, relatou Fernández.

A resposta do presidente argentino, embora realista, levanta algumas questões pertinentes que evidenciam a situação em que o país se encontra, um problema que tem sido uma característica típica de nações da América Latina. São países com sérias dificuldades em se organizar e que gastam dinheiro do contribuinte com o que lhes convém de forma muitas vezes irresponsável.

No caso da Argentina, falta dinheiro para comprar aeronaves militares, mas existe para adquirir um novo avião presidencial. Na semana passada, Fernández assinou um decreto que destina US$ 25 milhões para a aquisição de um Boeing 757-200 com cabine executiva para transportar autoridades, incluindo ele próprio.

"Tango 1", um Boeing 757, é o avião presidencial da Argentina (Creative Common)
“Tango 1”, um Boeing 757, é o avião presidencial da Argentina (Creative Common)

Os presidentes argentinos “estão a pé” desde 2015, quando o 757 presidencial “Tango 1”, sem condições de voar, foi encostado na base aérea de El Palomar, em Buenos Aires. No início de seu mandato, Fernández levantou a hipótese da FADEA (fabricante de aviões local) reformar a aeronave, um projeto que era orçado em cerca de US$ 12 milhões. No entanto, para variar, o assunto não prosperou.

Aviões de defesa adaptados

O que também não avança de jeito nenhum é a decisão de Buenos Aires em atualizar a frota de caças da outrora poderosa Força Aérea Argentina, que atualmente trabalha com jatos projetados na década de 1950 (uma frota desgastada de caças subsônicos McDonnell Douglas A-4 Skyhawk) e aeronaves com desempenho limitado produzidas localmente, casos do Pucará e do Pampa.

O caça JF-17 Bloco 3, preferido da Argentina (Chengdu)

A Força Aérea já está há anos analisando propostas de caças mais em conta como o sino-paquistanês JF-17 Thunder, o indiano HAL Tejas, ou então estudando a aquisição de aeronaves de segunda mão como os F-16 dinamarqueses. Um decreto chegou a detalhar a compra de 12 jatos de combate JF-17, produzidos numa parceria pela PAC e a Chengdu, mas cuja escolha foi desmentida.

Com essa limitação de defesa e a indecisão política, o espaço aéreo da Argentina permanece indefeso a ponto de ser facilmente superado por uma força invasora de baixa expressão, mesmo que não haja uma ameaça de guerra no continente, ou por pequenos aviões de narcotraficantes. Aparentemente, o importante no momento focar no conforto do presidente e autoridades em viagens a bordo do novo jato VIP.

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