Quem não se lembra de estar a bordo de um automóvel na estrada e de repente notar que o veículo resolveu mudar de faixa “por conta própria”? Sim, estamos falando do vento cruzado, um fenômeno natural e que afeta vários tipos de veículos na terra, mar ou no ar. Mas no caso da aviação ele tem um fator complicador: se durante um voo de cruzeiro basta ao piloto compensar a aeronave para seguir sua rota na aproximação para pouso em algum momento ele terá que alinhar o avião com a pista. Eis aí uma das técnicas mais exigentes com a tripulação, o “crosswind landing“, ou pouso com vento de través.
O vídeo abaixo mostra alguns pousos bem sucedidos e outros que exigiram arremetidas, dado o grau de complexidade da situação. Fato é que nem sempre é possível contar com um vento frontal para o pouso. Para isso, é preciso que a direção do vento esteja bem próxima do alinhamento da pista. Quando isso ocorre basta à torre operar pela cabeceira contrária à direção do vento. Mas e quando o vento está perpendicular ou diagonal à pista. Dá-se aí a aproximação com vento cruzado.
A técnica usada nesses casos chama-se “caranguejo” pela semelhança que o comportamento do avião tem com o crustáceo. Na aviação, existem dois termos importantes em relação à direção que um avião toma. Uma delas é o “heading” (direção para onde o bico do avião aponta) e “track” que é a rota que ele está percorrendo. Numa situação de vento neutro ou contrário os dois são iguais, ou seja, o avião aponta para onde está indo. Já no “crosswind” o bico aponta para uma direção, mas o avião segue outra. Qual a razão disso?
Toque com parte das rodas
É a técnica de caranguejar, que exige que o piloto aponte ligeiramente para o lado de onde o vento vem a fim de anular parte do efeito de desvio do eixo da pista que ele causará. Apesar disso, uma combinação de comandos faz com que a aeronave siga alinhada com a pista. Até aí nada tão complexo, mas é na hora de tocar a pista que vem a perícia e a técnica da tripulação.
É preciso saber a hora certa de corrigir o “heading” para que o avião esteja alinhado quando todo o trem de pouso toque a pista. Por isso, dependendo do caso, essa rotação ocorre um pouco antes do pouso ou ao tocar as primeiras rodas no chão. Diferentemente de um pouso normal, onde todo o trem principal encosta ao mesmo tempo no asfalto, no pouso com vento de través ele pode tocar uma das rodas e depois a outra, à medida que vai girando o eixo do avião.
Embora mais desafiadora, essa aproximação é comum na aviação. No entanto, ela tem um índice de arremetidas mais alto devido a sua complexidade. Por essa razão, os pilotos sabem que esse tipo de pouso significa estar sempre pronto para uma provável arremetida caso as condições não sejam seguras. Portanto, não estranhe se um dia desses você estiver olhando pela janela e enxergando a pista – pode ser um pouso de través e não um erro da tripulação.
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