Grande aposta da Rússia para concorrer no mercado de jatos comerciais de um corredor, o Irkut MC-21 voltou a voar nesta semana após uma pausa de um mês, período que coincide com o início da invasão russa ao território da Ucrânia.
Segundo a United Aircraft Corporation (UAC), grupo estatal que controla os principais fabricantes aeronáuticos russos, o modelo que retornou aos céus é o MC-21-310, versão equipada com os motores turbofan PD-14 produzidos na Rússia. Segundo o fabricante, o voo teste durou três horas e serviu para avaliar o novo software de controle dos propulsores.
“Na semana passada foram realizadas corridas de alta velocidade para avaliar o trabalho dos dispositivos reversos modificados dos motores PD-14. Hoje, foi realizado um voo no qual foi avaliado o novo software do sistema eletrônico de controle de motores PD-14”, disse Oleg Mutovin, piloto de testes da Irkut que comandou o ensaio de voo.
O experimento, que consiste em torcer as asas até elas quebrarem, foi conduzido nas instalações do Instituto Aerohidrodinâmico (TsAGI) em Zhukovsky sob supervisão da UAC.
“O teste bem-sucedido confirmou que os métodos para calcular a capacidade de resistência dos produtos compósitos estão corretos. Os experimentos comprovam que a caixa da asa garante estabilidade e segurança nas condições de voo mais adversas. Todos os aviões em construção serão equipados com asas feitas de materiais domésticos”, disse Yuri Slyusar, diretor geral da UAC.
Segundo o TsAGI, foi aplicado nas asas do MC-21 uma carga 1,5 vez maior que o limite operacional do componente. O teste estático também analisou a resistência dos materiais compostos aos efeitos do calor. Cerca de 40% da estrutura do jato russo é construída com compósitos, tecnologia que reduz substancialmente o peso total da aeronave.
As asas de material composto do MC-21 são fabricadas pela AeroComposite, uma empresa russa sediada no extremo leste do país. Elas foram manufaturadas por meio de uma nova técnica de infusão a vácuo que, segundo a UAC possui uma qualidade superior à tecnologia de autoclave, além de ter um custo de produção mais baixo.
Esperança da aviação comercial russa
As duras sanções econômicas impostas a Rússia devido à invasão da Ucrânia vem afetando severamente o setor aeroespacial russo, que está impedido de comprar ou alugar aeronaves e adquirir componentes de fornecedores do Ocidente.
Tais barreiras levaram a indústria russa a uma corrida para finalizar o quanto antes projetos de novos aviões em curso no país, entre eles o MC-21. O jato da Irkut concorre na mesma categoria dos tradicionais Airbus A320 e Boeing 737, que são os aviões comerciais mais vendidos do mundo.
Em julho do ano passado, Kirill Budaev, vice-presidente de vendas e marketing da UAC, declarou que as entregas do MC-21 seriam iniciadas em setembro deste ano, com a introdução do aparelho à frota da companhia aérea russa Rossiya Airlines, uma subsidiária da Aeroflot.
Budaev, no entanto, se referia ao MC-21-300, versão da aeronave que é impulsionada por motores Pratt & Whitney PW1431G, dos quais a Rússia não têm mais acesso. Sendo assim, a única opção viável é esperar pela conclusão e certificação da variante -310, algo que dificilmente deve acontecer no decorrer de 2022.
O programa de desenvolvimento do MC-21 vem sendo executado desde 2007 e o lançamento comercial da aeronave já foi adiado diversas vezes. O primeiro voo do jato, originalmente programado para 2014, foi realizado somente em 2017. Passados cinco anos de testes práticos, o futuro da aeronave ainda está indefinito.