Uma das cidades mais antigas do Brasil, São Mateus no norte do Espírito Santo, fundada em 1544, agora tem uma fábrica de aviões, a TAF Brasil. A nova marca é a distribuidora nacional da The Airplane Factory (TAF), da África do Sul, e o primeiro empreendimento aeronáutico desse porte no estado.
O primeiro produto da TAF Brasil, o monomotor Sling 2, foi lançado neste mês no aeroporto de São Mateus. “O avião vem desmontado da África do Sul e nos finalizamos. Já temos três modelos em fase de montagem final e o primeiro será entregue em março”, contou Lucas Mota, diretor comercial, ao Airway.
A instalação de montagem das aeronaves fica no próprio aeroporto de São Mateus. “Como a produção ainda é pequena conseguimos montar as aeronaves em um hangar no aeroporto. Porém, mas adiante temos planos de construir uma fábrica mais avançada, com uma linha de montagem”, explicou o diretor da TAF Brasil, revelando que a empresa trabalha para entregar 12 aeronaves em 2019.
O Sling 2, lançado pela TAF na Africa do Sul em 2009, é atualmente um dos aviões com maior performance na categoria LSA e já dono de um grande feito: foi o primeiro de sua classe a completar uma volta ao mundo. O modelo sul-africano também é um dos mais pedidos no mercado, com mais de 300 unidades entregues em 10 anos.
Como explicou Mota, os modelos em fase de produção em São Mateus são da versão com trem de pouso triciclo e equipados com motor Rotax 912 iS/ULS de 100 HP e aviônicos Garmin G3X EFIS, alguns dos sistemas e equipamentos mais avançados da indústria e também utilizados em aeronaves de categorias superiores.
De acordo com o fabricante, o Sling 2, com espaço para um piloto e um passageiro (além de um pequeno bagageiro de 35 litros), tem alcance de até 2.030 km e voa a quase 250 km/h. “É um avião muito fácil de voar e um raro modelo dessa categoria com uma autonomia tão grande”, explicou o diretor comercial da TAF Brasil, que também é piloto. O avião finalizado no Brasil é vendido com preços a partir de US$ 110.000 (cerca de R$ 413 mil).
“Esse é o preço do avião na versão básica. Alguns opcionais incluem o motor Rotax com injeção eletrônica em vez de carburado, painel glass cockpit (instrumentos de voo com display eletrônicos) e paraquedas balístico de emergência”, afirmou Mota.
Nova categoria
A aeronave oferecida pela TAF pertence à categoria LSA (Aeronaves Leves Esportivas, em português), um ramo integrado recentemente pela ANAC no Brasil e que, ao oferecer regras mais permissivas, está ajudando a criar um novo setor na aviação leve mundial. O nicho é uma espécie de degrau acima da aviação experimental, que tem menos exigências.
Quando comparada às aeronaves certificadas em categorias superiores, esses aviões levam vantagem pelos baixos custos do projeto, fabricação, manutenção e aquisição. Além disso, a certificação exige menor complexidade e as aeronaves são mais simples de voar.
A categoria LSA foi criada nos Estados Unidos no início dos anos 2000 para melhorar as classificações de segurança e desempenho dos ultra-leves e abrir novas possibilidades para esse tipo de aeronave. Diferentemente de aviões experimentais, modelos dessa classe podem realizar atividades comerciais, como reboque de planador, voos panorâmicos e instrução de voo.
Os então pequenos e frágeis aeroplanos construídos com tecido e longarinas evoluíram com tecnologias e materiais de diferentes épocas e se tornaram aviões modernos, embora ainda muitos leves mas com uma capacidade operacional muito além da regulamentação.
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