EUA correm contra o tempo para renovar frota de aviões do “Juízo Final”

Projetados para resistirem a um ataque nuclear, jatos Boeing E-4B Nightwatch estão perto de completarem 50 anos de serviço com a força aérea dos EUA
A Força Aérea dos EUA conta atualmente com quatro Boeing E-4B (USAF)
A Força Aérea dos EUA conta atualmente com quatro jatos Boeing E-4B (USAF)

Na eventualidade dos Estados Unidos sofrerem um ataque nuclear, uma das primeiras ações da força aérea seria colocar no ar os Boeing E-4B Nightwatch. Comumente chamados de “aviões do juízo final”, essas aeronaves servem como postos aéreos de comando avançado de onde os militares americanos podem organizar em segurança um contra-ataque. No entanto, esses jatos já são bastante antigos, por isso a renovação da frota é uma pauta urgente em Washington.

Em serviço com a Força Aérea dos EUA (USAF) desde 1974, os E-4B são derivados do Boeing 747-200, uma das primeiras versões do clássico Jumbo. São também uma das aeronaves com o maior custo operacional em serviço no país: cada hora de voo do aparelho custa cerca de US$ 147.000 e esse valor aumenta à medida que os aviões envelhecem mais. Ao todo, os EUA operam quatro modelos do tipo, que são sempre mantidos de prontidão – o que aumenta ainda a fatura.

Especialistas militares ouvidos pelo website Politico defendem a substituição rápida dos E-4B. “(A USAF e o Congresso) precisam ser muito realistas sobre essa recapitalização”, disse Douglas Birkey, diretor executivo do Mitchell Institute for Aerospace Studies, “ou verão alguns riscos muito graves” se continuarem operando as aeronaves por mais tempo.

A substituição dos E-4B vem sendo adiada há quase 20 anos. Porém, com a invasão da Rússia na Ucrânia, o tema ganhou força nos EUA. Respondendo ao site norte-americano, o Coronel Brian Golden, chefe do Centro Nacional de Operações Aerotransportadas, unidade da USAF responsável por operar e manter os quatro Nightwatch, disse que uma solicitação de orçamento de US$ 203 milhões para iniciar o processo de substituição das aeronaves deve ser enviada ao Congresso até o último trimestre de 2022.

Segundo a publicação, o projeto é confidencial, mas documentos públicos mostram que a USAF já realizou ao menos 16 pesquisas de mercado com a indústria aeronáutica americana desde 2020, sugerindo que o programa pode estar em andamento. O único ponto conhecido é que a força aérea pretende escolher uma aeronave comercial e modificá-la para sobreviver aos efeitos de uma explosão nuclear, além de adicionar sistemas avançados de comunicação via satélite e de defesa.

O E-4B Nightwatch é baseado no Boeing 747-200, umas das primeiras versões do Jumbo (USAF)

Mesmo o programa de substituição dos E-4B receba a verba pretendida pela USAF este ano, os novos aviões não serão entregues até 2027, o que significa que os modelos existentes deverão continuar voando por quase 60 anos, aponta o site.

A publicação também aponta que a USAF perdeu o “timing” para encomendar novos modelos para a função baseados no Boeing 747-800, aeronave que está perto de ser descontinuada. Caso escolha a versão mais moderna do Jumbo, a força aérea deverá recorrer a exemplares de segunda mão, o que torna o projeto ainda mais complexo.

“Quando tudo começou, a linha 747 estava viva”, disse Richard Aboulafia, diretor administrativo da AeroDynamic Advisory, ouvido pelo site. “Bem, há um problema agora porque, na verdade, (o 747) está morrendo. Provavelmente é tarde demais para fazer um pedido.”

Bunker com asas

O E-4B pode acomodar uma tripulação de até 112 pessoas, entre governantes e oficiais militares. A aeronave também possui proteções especiais para resistir aos pulsos eletromagnéticos causados por uma explosão nuclear e contramedidas ativas e passivas contra ataques de mísseis. Outro fato interessante sobre o Nightwatch é sua capacidade de permanecer voando por 72 horas ininterruptas com o auxílio de aviões de reabastecimento aéreo.

Em tempos de paz, os E-4B servem como o meio de transporte preferido do Secretário de Defesa dos EUA em voos para o exterior. O Nightwatch também costuma acompanhar o Air Force One, o avião presidencial americano, em viagens nacionais e internacionais, mas sempre pousa em outro aeroporto. Desta forma, o avião fica de prontidão caso ocorra alguma crise.

A Rússia é outro país que também possui aviões especiais para enfrentar o “fim do mundo”, os quadrimotores Ilyushin Il-80. Assim como os norte-americanos, os russos também querem substituir seus aparelhos por modelos mais avançados nos próximos anos. São grandes oportunidades de negócio para os fabricantes do setor, mas também um indicativo de que a ameaça nuclear persiste.

Total
0
Shares
Previous Post

Conceito de avião hipersônico promete realizar viagens até o outro lado do mundo em uma hora

Next Post

Airbus marca primeiro voo do A321XLR para 15 de junho

Related Posts
Total
0
Share