Uma das aeronaves mais emblemáticas da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), o avião-espião U-2, enfim deverá ter um substituto após 60 anos de serviço. O laboratório “Skunk Works” da Lockheed Martin, famoso por seus projetos revolucionários e que desenvolveu o U-2, está trabalhando em uma nova aeronave de espionagem com capacidades superiores.
Conhecido internamente como projeto “UQ-2”, o aparelho está sendo criado com as mesmas premissas do U-2: voo em alta altitude, longo alcance e capacidade para transportar sensores, câmeras e outros equipamentos de vigilância e espionagem. No entanto, o novo espião da USAF deve incorporar mais “habilidades”. Engenheiros da Lockheed pretendem combinar os melhores pontos do U-2 às qualidades do drone Global Hawk, que também é cotado para ser substituído.
Um dos principais objetivos da fabricante para a aeronave de espionagem de última geração é torná-lo indetectável a radares. O projeto também prevê aumentar da altitude operacional do U-2, que atualmente é de até 24 mil metros, o que também exige novos motores.
O novo avião de espionagem ainda não tem data para voar ou prazo de conclusão. A própria USAF ainda não realizou nenhum pedido para novas aeronaves desse tipo, mas é pressionada pelo congresso dos EUA a desativar esses aparelhos até 2019 – os U-2 atuais, porém, tem capacidade para continuarem em operando até 2045.
Em tempos de drones e satélites, a empresa decidiu por continuar com um projeto tripulado por questões políticas. Em entrevista a revista FlightGlobal, Scott Winstead, gerente de desenvolvimento estratégico da Lockheed, explicou que uma aeronave com um piloto tem maior poder de dissuasão. Abater um avião tripulado e desarmado pode ser considerado um ato de guerra, o que não acontece com um modelo não-tripulado.
Espião sobre Cuba e URSS
O U-2 foi um dos aviões mais “encrenqueiros” dos EUA. Devido ao perfil de sua missão, a aeronave invadia com frequência o espaço aéreo da antiga União Soviética e China, além de outros países. As missões, sempre secretas, eram operadas pela Força Aérea dos EUA ou pela agência de espionagem CIA.
No início das operações, no final dos anos 1950, o U-2 realizou dezenas de voos profundos sobre a URSS sem nenhuma resistência. Até que os soviéticos desenvolveram novos mísseis capazes de abater o avião-espião dos EUA em altas altitudes. Pelos menos quatro aeronaves foram abatidas sobre território soviético ou na China.
O abate mais conhecido e comentado de um U-2 aconteceu em 1962, durante a “Crise dos Mísseis”, em Cuba. Foi a aeronave de espionagem da USAF que descobriu a posição dos mísseis balísticos soviéticos posicionados na ilha caribenha. Após diversas incursões sobre a região um modelo acabou abatido por um míssil lançado do solo. Os restos dessa aeronave estão até hoje expostos no museu militar de Havana.
A crise em Cuba foi o momento de maior suspense da Guerra Fria entre os EUA e URSS. Se não fosse resolvido por vias diplomáticas, a tensão poderia ter originado um conflito de ordem mundial.
Há pelos menos 30 anos a aposentadoria do U-2 é cogitada, mas a decisão é sempre barrada pela falta de um substituto a altura de suas performances. Já foram operadas aeronaves de altíssima velocidade, drones e até satélites, mas o jato com asas de planador da Lockheed continua sendo o formato ideal. Neste caso, então somente um U-2 melhorado pode substituir o modelo atual.
Não há como definir as mentes por trás do laboratório “Skunk Works” da Lockheed Martin.
Seus projetos estão muito a frente do seu tempo. A prova viva está ai, o U-2 continua na vanguarda da tecnologia 65 anos após seus primeiros voos.