Para manter um aparato militar em solo nacional e espalhado pelo mundo todo, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) precisa formar mais de 1.000 pilotos por ano. No entanto, ao mesmo tempo em que tantos oficiais iniciam a carreira após um longo período de treinamento, outra grande parte do quadro de militares se retiram da USAF. Para equilibrar essa balança e acelerar o processo de formação de cadetes, a força aérea americana anunciou que vai testar pela primeira vez recursos de realidade virtual e inteligência artificial (IA) no treinamento de novos comandantes.
A partir de fevereiro, uma classe com 20 estudantes, sendo 15 oficiais e cinco aviadores alistados, vai iniciar um treinamento experimental que deve reduzir pela metade a necessidade de usar aeronaves.Em entrevista ao Aviation Week, o criador do programa, o tenente-coronel Eric Frahm, contou que aos treinamentos serão realizados utilizando tecnologias que “você pode comprar no Best Buy”, em referência a famosa rede de lojas de equipamentos eletrônicos dos EUA.
A primeira fase do estudo vai substituir o uso de simuladores de voo e aeronaves por treinamentos com softwares de simulação voo encontrados no mercado, como o X-Plane citado por Frahm, um computador, fones de ouvido e óculos de realidade virtual(VR).
“Com o óculos de realidade virtual você tem uma imersão visual tão longa quanto a dos simuladores de voo que compramos por cerca de US$ 3 milhões para o T-6 (avião de treinamento básico da USAF)”, explicou Frahm. Por outro lado, no novo programa cada “kit” de treinamento deve custar US$ 5.000 (cerca de R$ 16.000) por piloto.
Outra parte mais avançada do projeto é o uso da inteligência artificial. A USAF planeja criar um programa capaz de identificar perguntas e “conversar” com os pilotos.
O tenente-coronel da USAF estima que cerca de 80% do treinamento básico poderá ser cumprido com o novo método. “Nosso objetivo é desenvolver o que eu chamo de ‘Interrupção ao estilo Silicon Valley'”, diz Frahm.
O experimento será conduzido em três fases, com o primeiro período de seis meses focado na medição do aprendizado dos pilotos com o novo método e sua aplicação em voos reais. A segunda fase só irá adiante se o programa com instrumentos virtuais obter níveis de desempenho semelhantes aos obtidos com o método de treinamento padrão.
Supondo que a primeira fase vá bem, a equipe passará o segundo período de seis meses ajustando o programa para reduzir ainda mais a linha do tempo de treinamento, mais uma vez buscando resultados semelhantes ao treinamento tradicional. A terceira fase inclui a inteligência artificial, que vai auxiliar os pilotos durante manobras básicas. O software de IA está sendo desenvolvido pela USAF em parceria com a Discovery Machine, desenvolvedora de programas de computador, e o primeiros protótipos deve ser testados a partir de junho.
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Como explicou o chefe do novo programa de treinamento, a inteligência artificial executará tarefas simples, como apontar os vetores para manobras de aterrissagem (o passo a passo de um pouso) e realizar serviços “que não requerem muita habilidade ou criatividade”, disse o militar. Eventualmente, a equipe espera emparelhar a IA com um instrutor humano.
“O que realmente queremos é que nossos instrutores se concentrem para dizer ‘Ei, você saiu da linha central e aqui está o porquê e como consertá-lo’. Isso é muito mais difícil para um sistema de IA criar para nossos”, contou Frahm. “Mas, em termos de medir o quão longe o piloto está da linha central, a IA provavelmente é melhor”.
Usando a tecnologia VR e IA, a Frahm acredita que a equipe pode treinar quatro alunos ao mesmo tempo com um único instrutor, em vez da relação um-para-um que possui um programa de estudos tradicional. Além disso, a equipe vai coletar dados sobre o aprendizado utilizando rastreadores de movimentos de olhos nos óculos VR e medir as cargas cognitivas. Também serão medidas as taxas de batimentos cardíacos e respiração dos alunos.
O primeiro “treinamento virtual” da USAF será realizado na base do Exército dos EUA em Austin, no Texas. A equipe planeja comprar 20 simuladores para o programa e operar seis aeronaves Beechcraft T-6 Texan II.
Se conseguir completar todas as etapas, Frahm apontou que o programa de treinamento pode ser concluído em 20 semanas, contra 28 do método tradicional. Terminada a instrução, os pilotos devem passar mais oito semanas treinando (desta vez de verdade) em caças F-16 e F-15 e o jato T-1 Jayhawk (avião de treinamento baseado no jato executivo Hawker 400).
O militar ainda afirmou que, se o experimento for bem sucedido, a USAF pode implementar o treinamento virtual em cerca de 12 a 18 meses.
“O risco da IA como instrutor é que perdemos o controle de um certo aspecto da cultura militar e o que significa ser um membro da força aérea e um piloto”, diz Frahm. “Isso nos permite manter um nível de controle, enquanto eu também acho importante avançar no estado da arte do treinamento de pilotos, não apenas para pilotos militares, mas para pilotos em todo o mundo”.
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