Ex-comandante da FAB que aprovou compra dos jatos KC-30 virou consultor da Airbus

Brigadeiro Carlos Baptista Júnior assumiu posição na fabricante como “Consultor Sênior de Estratégia” em novembro de 2023, meses após ser substituído na FAB
Os dois jatos foram comprados da Azul Holdings
Os dois jatos foram comprados da Azul Holdings (FAB)

À frente do Comando da Aeronáutica entre abril de 2021 e janeiro de 2023, o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior teve uma gestão agitada, em que realizou cortes em programas ao mesmo tempo em que priorizou projetos como o caça Saab Gripen.

Uma das aquisições mais polêmicas foi a compra de dois jatos Airbus A330-200 com a intenção de transformá-los em aviões-tanque MRTT (Multirole Tanker Transport).

A FAB já buscava uma solução para ter um jato de transporte de longo alcance ao mesmo tempo em que pleiteava uma aeronave de reabastecimento aéreo em complemento ao KC-390.

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Licitações nesse sentido foram feitas em gestões anteriores, em que o Boeing 767 foi apontado como a solução mais viável, porém, acabaram canceladas.

O ex-comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Baptista Junior (segundo da esquerda para a direita), durante a chegada do primeiro Airbus KC-30 (FAB)

Concorrência exclusiva para o Airbus A330

O cenário mudou em janeiro de 2021 quando o então presidente Jair Bolsonaro revelou que seu governo pretendia adquirir dois A330 usados.

Um ano depois, a FAB abriu uma concorrência para aquisição das aeronaves, já com Baptista Junior sob seu comando após Bolsonaro demitir o comandante anterior.

Um orçamento de US$ 80,6 milhões foi disponibilizado e um dos requerimentos era que os jatos tivessem no máximo 28 mil horas de voo e 4,2 mil ciclos, além de serem equipados com motores Rolls-Royce ou General Electric.

A licitação chamou a atenção por restringir o tipo de equipamento ao avião da Airbus. No mercado há ainda o Boeing KC-46 e o programa de conversão KC-767, feito pela israelense IAI.

Boeing KC-767 do Japão

O plano, no entanto, era primeiro comprar os dois A330 e então contratar a própria Airbus para convertê-los em aviões-tanque nas instalações da subsidiária Getafe, na Espanha.

O leilão só atraiu a holding que controla a Azul Linhas Aéreas, que vendeu duas aeronaves de terceiros, usadas por meio de leasing.

Batizados como KC-30, os jatos pousaram no Brasil já com a pintura da FAB em julho e outubro de 2022, mas ambos com o interior mantido como aeronave de passageiros.

Senior Advisor for Strategy

Com a eleição de Lula à presidência, Baptista Junior deixou o cargo no começo de 2023, mas em novembro daquele ano assumiu uma posição na Airbus.

Segundo seu perfil no Linkedin, o ex-comandante passou a ser Senior Advisor for Strategy (Consultor Sênior de Estratégia) da fabricante europeia.

O fato foi motivo de reportagem do site ICL Notícias, que considerou a movimentação “questionável” por sugerir a possibilidade de “influência de militares da reserva na aprovação de contratos”.

A FAB opera dois A330-200 ainda com configuração de voos comerciais (FAB)

A reportagem alega que a Airbus fechou contratos importante durante a gestão de Baptista Junior, incluindo a conversão dos A330 em aeronaves MRTT, mas esse acordo até hoje, se existe, não foi tornado público, vale dizer.

Por outro lado, ao escolher o A330, a FAB “direcionou” sua conversão para a Airbus já que apenas a fabricante oferece esse serviço.

Porta giratória

Os dois jatos até o momento não receberam a conversão e têm sido usados em transporte de passageiros, carga e mesmo servindo como aeronave presidencial, como ocorre no final de março, durante uma viagem oficial de Lula à Ásia.

O ICL Notícias foi além e também apontou um conflito de interesses entre o filho do Brigadeiro, Bruno Baptista, que trabalha na empresa AEL Sistemas e possui contratos no valor de R$ 300 milhões com a FAB.

O artigo pede por mais transparência e regras claras para evitar a chamada “porta giratória”, quando uma pessoa que estava em um cargo público passa a representar uma empresa privada que recebeu contratos durante a gestão.

Jatos KC-390 Millennium (FAB)

Como AIRWAY observou durante a gestão de Baptista à frente da Aeronáutica, muitas decisões foram tomadas de forma intempestiva, como a redução da encomenda de cargueiros KC-390 da Embraer ou a obstinação em expandir as encomendas do Gripen mesmo com a pasta de Defesa passando por sérias restrições financeiras.

Seu sucessor, o Tenente Brigadeiro Marcelo Kanitz, retomou a normalidade no Comando, focado em planos de longo prazo e em apoiar o programa KC-X, do qual a própria FAB é sócia e se beneficia sua jornada comercial.

O site entrou em contato com a assessoria de imprensa da Airbus, que enviou o seguinte posicionamento:

Todos os colaboradores contratados pela Airbus seguem os mais rígidos princípios éticos e de conformidade, e cumprem rigorosamente a legislação em vigor nos países em que operamos. Destacamos que todos os contratos da Airbus com o governo brasileiro são públicos e estão em conformidade com a legislação vigente.”

Tentamos contato com o Brigadeiro Baptista Junior por seu perfil no Linkedin, porém, sem sucesso até o momento.

4 comments
  1. Na questão da conversão dos Boeing 767 pela IAI, que havia ganho a licitação KC-X da FAB, que visava a substituição dos Boeing KC-137 do Esquadrão Corsário, a alguns anos a Boeing proibiu modificações no projeto do 767, alegando essas deveriam ser feitas pela própria fabricante. De reabastecedores táticos no mercado atualmente só há os Airbus A-330MRTT e os Boeing 767 MMTT…

  2. Quando a suposta corrupção ocorre nos governos de direita, os sites militares não publicam uma vírgula. Ate a solicitação de compra de um avião presidencial de maior alcance para viagens longas como está a Ásia, devido ao curto alcance do A318, denominado aero Lula. Estes aviões não deveriam ser denominados aero bozo?

  3. Nada a ver,que esse comandante foi um dos piores que já passou na FAB ok, brigou com a Embraer,fez reduzir o número de KC,a compra desses A330 foi com a azul kkk ,nada a ver com a Air bus,que idiotice,e quem iria transformar era uma empresa da Espanha se não me engano,se ele arrumou uma boquinha aí …. normal deve ter capacidade pra isso,mas nada a ver com essa compra ridícula desses A330

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