Durante a Guerra Fria, o Aeroporto José Martí se transformou em uma espécie de hub comunista na América Latina. O terminal internacional de Havana, capital de Cuba, passou a receber voos de companhias aéreas do Leste Europeu e sobretudo da Aeroflot, então a maior empresa do segmento no mundo em número de aviões.
A razão era bem simples: como não existiam empresas privadas na ex-União Soviética cabia à estatal a tarefa de prover todo o transporte aéreo no país. Além disso, a Aeroflot operava todos os tipos de aviões comerciais soviéticos, desde os biplanos An-2 aos widebodies Il-86.
Graças ao alinhamento do país de Fidel Castro com os russos, Havana passou a receber voos internacionais da Aeroflot nos anos 60, uma rota que permanece até hoje ativa. Mas os tempos mudaram a ponto de agora a maior companhia aérea do país decidir estrear seus novos Airbus A350 na rota entre Moscou e a capital cubana em 2020.
Um dos mais modernos jatos ocidentais substituirá outro modelo dos antigos inimigos da União Soviética, o A330-200, também da Airbus. A companhia, que encomendou 14 unidades do novo avião, introduzirá o A350-900 em setembro do ano que vem com cinco voos semanais.
Ilyushin
A opção pelas aeronaves fora do bloco socialista, no entanto, é algo relativamente recente após décadas em que Havana recebeu modelos como o Il-96, o já citado Il-86 e o Il-62, todos criados pelo escritório de projetos Ilyushin.
Foi um Il-62M, inclusive, que protagonizou um dos mais graves acidentes do Aeroporto José Marti em 1977. Em maio daquele ano, um desses jatos da Aeroflot fazia um pouso de emergência em meio ao mau tempo e acabou atingindo linhas de transmissão pouco antes de chegar à pista. Na queda, 69 pessoas morreram e apenas duas sobreviveram.
Atualmente, a Aeroflot opera apenas um avião russo, o Sukhoi SSJ-100, jato regional de porte equivalente à família E-Jet da Embraer. Sua frota causaria espanto aos antigos premiês soviéticos, uma mescla de aviões A320 e A330 da Airbus com jatos americanos da Boeing como o 777 e o 737.
Se o orgulho russo ainda é preservado na aviação militar, no transporte comercial a situação é precária por enquanto. Modelos russos como o Tu-204 ficaram no passado e são vistos apenas em companhias menores e na parceira Cubana de Aviación.
Mas o futuro pode reservar um retorno aos jatos russos. A UAC, holding que reúne as principais fabricantes do país, desenvolve atualmente alguns jatos modernos como o Irkut MC-21, um birreator de corredor único, e possui uma parceria com os chineses para lançar um widebody, o CR929, e que pode um dia, quem sabe, assumir a rota Moscou-Havana. Enquanto isso, o jeito é visitar a paradisíaca (e comunista) ilha com o A350 da Airbus.
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