Passados 10 anos daquele que foi um dos maiores acidentes aeronáuticos do Brasil, a Força Aérea Brasileira (FAB) lançou uma série documentária que mostra os bastidores da operação de resgate das vítimas do Boeing da Gol, em 2006. Lançado nessa quinta-feira (29), o primeiro episódio do documentário, produzido pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, está disponível no canal da FAB no Youtube.
Dividido em oito episódios com cerca de 40 minutos cada, militares de várias organizações militares, principalmente os especializados em Busca e Salvamento, do Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento – conhecido como PARA-SAR, detalham a experiência vivida na selva amazônica.
“Eram seres humanos, famílias que haviam sido destruídas. Então, quando você chega ao local, supera tudo, como picada de abelha, distância da família, para devolver os corpos das vítimas aos seus familiares. A gente não deixou ninguém para trás”, destaca o Suboficial Orenil Andrade, ressaltando o fato de que todas as 154 pessoas a bordo foram encontradas.
A produção também mostra a logística montada na operação, principalmente no Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV). Esta base da Aeronáutica, localizada na Serra do Cachimbo, no sul do Pará, teve papel importante, pois ofereceu a infraestrutura necessária para a operação que durou 44 dias, empregou 52 aeronaves, consumiu 1534 horas de voo e mais de 1 milhão de litros de combustível.
“O Campo de Provas permitia instalar uma maior infraestrutura e funcionou como um ponto de ligação. Tudo que recebíamos ou retirávamos da região era por meio do CPBV. Ali ficou concentrado o nosso efetivo”, relembra o Major-Brigadeiro Jorge Kersul, que na época comandava as operações na localidade. “Tudo aquilo que a gente fez foi uma operação de guerra. A logística foi muito importante para conseguirmos chegar ao nosso objetivo”, complementa o Suboficial Júlio Carvalho.
10 anos depois
Um grupo de militares retornou ao local do acidente e passou as impressões após 10 anos do acidente, que aconteceu no dia 29 de setembro de 2009. “Essa missão nunca vai sair da minha cabeça. Eu lembro cada dia da minha vida, eu lembro desse local, desse acidente. Marcou para sempre, mudou a minha. Trouxe para mim uma nova maneira de encarar a vida”, enfatiza o Tenente Médico Felipe Lessa que, em 2006, foi um dos primeiros a chegar ao local e passou 40 dias na mata, no trabalho de resgate das vítimas.
No documentário, familiares das vítimas também contam como ainda estão superando a dor causada pelo acidente em 2006. “Hoje estou tranquila. Choro, mas é um choro de saudade. Tudo o que vocês fizeram foi muito gratificante para nós”, diz Creusa Paixão Lopes, mãe de Marcelo Paixão, a última vítima a ser encontrada pelas equipes de resgate da FAB.
Voo Gol 1907
O voo Gol 1907 foi uma rota comercial doméstica, operada pela Gol, utilizando um Boeing 737-8EH, aeronave que havia sido adquirido pela companhia recentemente. Em 29 de setembro de 2006, o jato partiu do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus (AM), com destino ao Galeão, no Rio de Janeiro, e previsão de uma escala no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília.
Enquanto sobrevoava o estado de Mato Grosso, colidiu no ar com um Embraer Legacy 600. Todos os 154 passageiros e tripulantes a bordo do Boeing 737 morreram após a aeronave se despedaçar no ar e cair em uma área de árvores densas, enquanto o Legacy, apesar de ter sofrido danos graves na sua asa e estabilizador horizontal esquerdo, pousou em segurança com seus sete ocupantes sem ferimentos, na base Aérea do Cachimbo.
O acidente, que desencadeou uma crise na aviação civil brasileira, foi o mais mortífero da aviação do país até então, superando o voo VASP 168 e sendo superado posteriormente pelo voo TAM 3054,em 2007.
O acidente foi investigado pela Força Aérea Brasileira, pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e pelo National Transportation Safety Board (NTSB), com o relatório final emitido em 10 de dezembro de 2008. O CENIPA concluiu que o acidente foi causado por erros cometidos tanto pelos controladores de tráfego aéreo quanto pelos pilotos do Legacy, enquanto que o NTSB determinou que todos os pilotos agiram corretamente e foram colocados em rota de colisão por uma variedade de erros dos controladores de tráfego aéreo.
Veja mais: “Expresso Cubano”, o avião mais sequestrado da história