A Beriev é um dos inúmeros escritórios de projetos surgidos na época da União Soviética e, embora não seja tão conhecido quanto a Tupolev ou a MiG, é até hoje uma espécie de autoridade em matéria de aviões anfíbios. Desde seus primórdios, ela projeta e constrói esse tipo de aeronave, como seu modelo mais recente, o Be-200 Altair, um versátil avião anfíbio capaz de executar diversas funções, mas que tem sido visto como ideal para o combate a incêndios.
Embora tenha apenas alguns exemplares produzidos, o Be-200 deverá começar a ser entregue para um cliente especial em 2020, a empresa norte-americana Seaplane Global Air Services, que encomendou quatro aeronaves. Trata-se de um raro caso de avião russo a ser comprado novo pelos Estados Unidos. Se você pensou que a Beriev (e sua dona, a UAC) está satisfeita, bem, é sempre bom lembrar como os russos costumam ser um tanto quanto megalomaníacos em relação a aviões.
Pois a Beriev voltou a cogitar a criação de um “monstro marítimo”. A imprensa russa noticiou em outubro que a fabricante estaria debruçada no projeto de “futuras aeronaves anfíbias com um peso de decolagem superior a 1.000 toneladas”. No entanto, não esclareceu que tipo de aeronave seria essa, apenas que elas “podem transportar carga e passageiros por grandes distâncias em altitudes e velocidades inerentes às aeronaves, usando a infraestrutura de transporte dos portos marítimos existentes”. Sim, imagine um imenso hidroavião ancorando no cais ao lado de navios.
Para se ter uma noção do que representa uma aeronave que decole com mil toneladas basta lembrar que o Antonov An-225 Mriya possui peso máximo de decolagem de 640 toneladas e o Airbus A380, maior avião de passageiros da história, de 575 toneladas.
Se você achou a concepção desse misterioso avião de cair o queixo saiba que a Beriev já foi até mais ambiciosa. Ainda na década de 80, durante o comunismo, o então escritório de projetos começou a pensar no que seria a maior aeronave já construída na história, o Be-2500, uma “criatura” com peso máximo de decolagem de 2.500 toneladas, 123 metros de comprimento e 156 metros de envergadura.
O Beriev, cuja maquete circula em imagens até hoje na internet, exibe seis turbofans Kuznetsov NK-116 que fariam o hidroavião atingir 800 km/h a 10.000 metros ou 450 km/h com o efeito-solo – outra fixação russa materializada pelos ekranoplanos. O alcance do Be-2500 seria digno de um widebody comercial avançado, nada menos que 16.000 km. Na página do projeto, a Beriev enumera várias possibilidades de uso do mastodonte aéreo: operações de busca e salvamento, prospecção e extração em arquipélagos e até o lançamento de artefatos espaciais, possivelmente nos moldes de outro gigante, o americano Stratolaunch.
Em busca de protagonismo
A indústria aeroespacial russa foi durante os tempos da União Soviética um importante e decisivo polo tecnológico capaz de criar alguns dos mais célebres projetos de aeronaves. Mas o fim do comunismo no país expôs a falta de traquejo com o capitalismo, condição básica de sobrevivência quando não se tem uma fonte (quase) inesgotável de recursos estatais. Ainda hoje, as empresas do país sofrem para tocar programas de novos aviões como no caso do caça stealth Sukhoi Su-57, que passou anos em desenvolvimento e somente agora teve sua produção iniciada, mas em quantidades bem modestas.
Sem dúvida, a capacidade de pensar em projetos incomuns ainda é notória nos projetistas russos, mas daí a transformar em realidade um gigante como o que a Beriev deseja existe uma “tonelada” de dificuldades pelo caminho.
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