O anúncio da Embraer nesta semana, revelando o local da sua primeira fábrica de eVTOLs (veículos elétricos de decolagem e pouso vertical) se espalhou na imprensa e criou uma falácia. Seria a aeronave um “carro voador”, segundo a grande maioria da mídia.
Nada mais falso. A referência genérica mais próxima disso seria chamar o eVTOL de “táxi voador” já que em um primeiro momento sua principal utilidade será transportar passageiros ocasionais em trajetos de até 150 km de distância.
Daí a considerá-lo como um “automóveis com asas” é um exagero ou até má fé em tempos em que as manchetes têm se tornado maiores do que as próprias notícias.
AUTOO e Airway, veículos irmãos especializados em automóveis e aviação, têm portanto o dever de esclarecer esse erro de conceito.
A aeronave elétrica da Eve, subsidiária da Embraer, e de diversas outras fabricantes fazem parte da nova categoria de aviação chamada de Mobilidade Aérea Urbana.
Trata-se de uma proposta de transporte aéreo ainda sendo desenhada e que visa oferecer viagens pelo ar em aeronaves de propulsão elétrica com tecnologia autônoma, embora no início prevejam pilotos a bordo.
O conceito não é muito diferente de um drone, com motores elétricos movimentando diversas hélices e, em alguns casos, hélices propulsoras e asas.
Mais simples e eficientes, os eVTOLs têm grande potencial de serem uma alternativa para deslocamentos de curta distância para os padrões aéreos.
Uma viagem entre dois aeroportos na mesma região, uma visita a uma fábrica ou uma casa de campo, ou ainda um deslocamento de um lado a outro da cidade são cenários onde eles deverão ser usados nos primeiros anos.
Ecossistema em desenvolvimento
Ou seja, vão substituir sobretudo helicópteros, que são caros de manter e voar, e também alguns serviços terrestres, mas não se vislumbra que os eVTOLs tomarão os céus criando “avenidas aéreas”.
A razão para isso é que uma aeronave elétrica ocupa uma grande área e transporta poucas pessoas – de quatro a seis ocupantes.
Ou seja, será um transporte individual e que por isso traz as mesmas consequências para o ambiente urbano se usadas em grande escala. Para isso o transporte coletivo, sobretudo os trens, seguem imbatíveis pelo custo-benefício mais atrativo.
A despeito de previsões otimistas e que foram usadas por sites mais apelativos, os eVTOLs não estão tão perto assim de começarem a ser vistos em qualquer cidade.
Há no momento alguns protótipos em testes e muitos ainda no chão, como o projeto da Embraer, que deve voar apenas em 2024.
Mais complicado que isso é criar o ecossistema para que funcionem com segurança. Não basta ter uma aeronave elétrica voando, mas um sistema de navegação e controle que torne essa atividade viável comercialmente.
Além disso, será preciso criar regras, infraestrutura, sistemas e corredores no ar para que a mobilidade aérea urbana possa de fato funcionar. E isso ainda está sendo discutido e testado, o que faz pensar que o cenário pintado no momento é um tanto exagerado.
Quando os veículos aéreos da Embraer e de suas concorrentes começarem a voar será realmente um marco no transporte, mas daí a chamá-los de “carros voadores” não basta de um enorme mal-entendido.