Concebidos para uma missão que ninguém deseja executar, os últimos caças Dassault Mirage 2000N de ataque nuclear da Armée de l’Air (Força aérea da França) foram aposentados após 30 anos de serviço. Dois exemplares da aeronave, incluindo uma com pintura comemorativa, realizaram um voo de despedida pelos arredores da base aérea de Istres, no sul da França, no dia 30 de agosto.
Segundo comunicado da força aérea francesa, os aviões serão desmontados e suas peças serão reutilizadas em outras versões do Mirage 2000 ainda em operação no país – a Armée de l’Air ainda opera mais de 120 unidades do Mirage 2000 em versões de ataque e treinamento. O informe ainda acrescenta que três Mirage 2000N serão mantidos em condições de voo e servirão por algum tempo para testes de voo e treinamento de pilotos.
Com a aposentadoria dos Mirage 2000N, a tarefa de ataque aéreo nuclear agora cabe totalmente aos Rafale B, que vinha assumindo essa tarefa gradualmente desde 2010. A principal arma nuclear da força aérea francesa é o míssil de cruzeiro ASMP, fabricado pela Aérospatiale. O artefato com alcance de até 300 km e capaz de voar a quase 4.000 km/h pode carregar ogivas com potências que variam de 100 kilotons a 300 kt (20 vezes mais forte que a bomba de Hiroshima).
Ataque nuclear ao estilo francês
O Mirage 2000N foi desenvolvido a partir de uma exigência da força aérea francesa nos anos 1970 para substituir os antigos Mirage IIIE e o Mirage IV em operações de ataque nuclear. Nesse mesmo tempo a Dassault estava prestes a completar o desenvolvimento do Mirage 2000 e uma das versões propostas e depois confirmada pelo comando francês foi o modelo N de ataque nuclear.
O primeiro protótipo do Mirage 2000N voou em 1983 e as primeiras unidades entraram em operação com a força aérea francesa a partir de 1988, quatro anos após a estreia do Mirage 2000 convencional. Ao todo, a Dassault produziu 75 exemplares do modelo N.
A versão de ataque nuclear foi desenvolvida a partir do Mirage 2000B, projetado para ataques terrestre e voos de baixa altitude. O perfil desse tipo de missão exige reforços estruturais e equipamentos de navegação específicos, como o radar de varredura terrestre que aponta o caminho para aeronave em voos praticamente rasantes.
Os primeiros exemplares do Mirage 2000N entraram em operação ainda armados com bombas nucleares de queda livre. O míssil ASMP foi empregado somente a partir de 1991.
Posteriormente, o Mirage 2000N também foi modificado para realizar ataques com armas convencionais. A capacidade de ataque ao solo da aeronave foi aproveitada pela França durante a intervenção da ONU na antiga Iugoslávia, em 1995. Durante os combates, um jato foi derrubado por um míssil lançado por forças rebeldes.
O modelo N é a única versão do Mirage 2000 proibida pelo governo francês de ser exportada. Entre 2005 e 2013, a Força Aérea Brasileira (FAB) operou 12 caças Mirage 2000 (versões C e D).
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