O governo francês concedeu no início deste mês um resgate financeiro de 7 bilhões de euros para ajudar sua indústria aérea a lidar com os impactos da pandemia do novo coronavírus, mas com uma condição: as companhias aéreas que operam na França precisam reduzir suas emissões poluentes e diminuir drasticamente o número de voos de curta distância em trechos que oferecem alternativas de transporte de trem ou ônibus.
A ministra francesa do Meio Ambiente, Elisabeth Borne, disse que “pedimos à Air France que acelere sua transição ambiental”, substituindo até 40% dos voos onde há opções de viagens por via ferroviária inferior a 2 ou 2,5 horas.
Conforme publicado pela Bloomberg, o governo francês também planeja proibir que outras empresas façam o mesmo, para garantir que as companhias aéreas low cost não ocupem os trechos da Air France que serão interrompidos sob o novo acordo. “Se estamos perguntando coisas à Air France, não para que empresas de baixo custo possam aparecer e iniciar seu próprio serviço”, disse Borne.
A ministra francesa ainda acrescentou que apoia a regulamentação de preços mínimos das passagens aéreas para evitar tarifas € 1, algo que ela classificou como “chocantes”.
A Áustria é outro país que lançou um pacote de resgate financeiro para o setor aéreo com contrapartidas. O país vai aplicar uma taxa de € 30 em passagens aéreas reservadas para voos domésticos em trechos com menos de 350 km, implementando o preço mínimo de € 40 por bilhete.
Principal autor do projeto de resgate financeiro à indústria aérea francesa, o ministro da Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire, afirmou que fabricantes como a Airbus devem avançar mais rapidamente para aeronaves livres de emissões poluentes e permitir o início de viagens aéreas neutras em carbono até 2035 em vez de 2050. “A França pode se tornar o país da aeronave sem carbono”, salientou Le Maire.
A Air France informou que planeja restringir a maioria de seus voos de curta distância a partir do aeroporto de Orly, em Paris, em vez de cortar trechos curtos a partir do aeroporto Charles de Gaulle, porque estes são mais frequentemente usados como voos de conexão para rotas mais longas.
O plano de reduzir voos domésticos curtos ou mesmo proibi-los não é um assunto novo na França. No ano passado, um grupo de políticos franceses sugeriu banir os voos internos em trechos que poderiam ser realizados de trem em menos de 5 horas de duração.
A proposta citava números do governo francês mostrando que um voo entre Paris e Maselha, com aproximadamente uma hora de duração, emite cerca de 178 kg de gás carbônico por passageiros, comparado a 4,14 kg para a mesma viagem de trem, realizada em pouco mais de 3 horas.
Como era de esperar, a projeto não foi recebido por certas alas do setor aéreo. Na época, o sindicato de pilotos da França, o SPAF, emitiu uma declaração contra o projeto e disse que sua adoção poderia encerrar pelo menos 72 voos internos e chamou as medidas de “tão injustas quanto infundadas”.
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