Em dias normais, Francis Barros, piloto da companhia aérea Avianca, veste seu traje de comandante, sem esquecer do quepe, e conduz tranquilos voos transportando cargas a bordo de um jato Airbus A330, um avião repleto de comandos automáticos. Ele não precisa nem fazer “speech”, pois não leva passageiro algum. Basta ligar os motores da aeronave, comunicar a torre de controle e decolar com o jato de 240 toneladas.
Mas nos últimos dois anos Francis vem tendo alguns finais de semana em que sua vida vira de cabeça para baixo. O piloto, natural de Porto Alegre (RS), é o único brasileiro na disputa do Red Bull Air Race, atualmente a maior corrida aérea do mundo. Na competição, de capacete e macacão, Barros assume o controle de um “endiabrado” Sukhoi Su-31 e realiza manobras impensáveis para um pesado Airbus.
“Existem grandes diferenças e grandes semelhanças (entre o A330 e o Su-31) . Pilotar uma aeronave de 240 toneladas requer mais da parte intelectual e um pouco menos da parte motora. Quando voamos no Air Race, o avião é uma extensão do corpo, então além de muita tática e estratégia, você precisa de uma habilidade psicomotora maior, o que exige treinamento. Além disso, o preparo físico é fundamental”, contou Francis Barros, em entrevista ao Airway.
Como é o caso de muitos profissionais aeronautas e pilotos militares, o interesse de Francis pela aviação surgiu quando ainda era criança. “Com nove para 10 anos, meus pais notaram meu interesse e me matricularam no curso de aeromodelismo no Aeroclube RGS, perto de minha casa. A partir desse ponto, a paixão só aumentou. Com 18 anos já era instrutor e piloto de acrobacias”, revela Barros, que obteve o brevê antes de tirar carteira de motorista.
Do início com aeromodelos, Francis passou a “lavador de aviões” no aeroclube e em poucos anos aprendeu a pilotar, e fazer piruetas, loopings, voos rasantes… A licença para comandar jatos comerciais veio anos depois, mas o piloto sempre manteve a “forma”, inclusive participando de campeonatos.
“Eu fiquei entre os 20 primeiros colocados no campeonato europeu de corrida aérea, de 2014. Esse resultado chamou atenção da Red Bull, que me convidou para participar de uma seleção de pilotos, na Espanha, para o campeonato do ano seguinte”, conta Francis, que foi aprovado e, em 2015, estreou no Red Bull Air Race, na categoria de acesso Challenge.
Super-piloto
“A Red Bull procura pilotos com experiência prévia em acrobacia e demonstração aérea, basicamente ex-pilotos de caças militares e campeões de acrobacia aérea. Você precisa ser reconhecido em uma dessas duas atividades para ser convidado para a seleção da Red Bull, onde se obtém a chamada Challenger Super License. A partir daí você corre na categoria inicial e com o tempo, caso seja selecionado, é chamado para o treinamento da chamada Master Super License”, explica o Francis.
Barros já voou tanto que sua experiência o habilita a ingressar em treinamentos de praticamente qualquer aeronave do mundo. O piloto acumula mais de 10 mil horas de voo, entre jatos comerciais e aviões de acrobacia. E o treinamento nunca termina.
“O treinamento é algo importante pois desenvolve no indivíduo lentamente uma capacidade de executar as manobras, e quando você se dá conta, está voando a 370 km/h a 15 metros do chão com aproximadamente nove vezes a força da gravidade no seu corpo, passando no meio de dois obstáculos e pensando em qual estratégia irá usar para ganhar tempo e corrigir o vento”, conta o piloto, que ainda não conseguiu ficar entre os três primeiros nas etapas que disputou no Red Bull Air Race.
“O mais difícil para mim é manter altura extremamente precisa enquanto você manobra o avião. Parece fácil de fazer, mas na verdade é bem difícil de executar. Alguns pilotos agrícolas me disseram que isso é algo simples para eles, mas quando se voa a 200 nós (370 km/h) e com ailerons super sensíveis (superfícies de controle de rolagem na asas) em um circuito extremamente confinado e apertado, as coisas ficam um pouco mais complicadas. A chicane também é algo difícil em função dessa minha falta de treino nesse aspecto. Porém, em manobras verticais e que exigem ângulos de ataque elevados, tenho certa facilidade”, se gaba o piloto.
O medo parece não incomodar o piloto gaúcho, que voa a quase 400 km/h a pouquíssimos metros do chão durante as competições. “Obviamente o medo é necessário e é um instinto natural de preservação do ser humano. Porém, disciplina e treinamento são bons para controlar a dosagem dessa condições”, conta Barros, que é um dos poucos no mundo que completaram o “Rolling Loop”, uma das manobras mais complexas da aviação esportiva.
Fórmula 1 dos ares
Campeonatos de corrida aérea existem desde os anos 1950, mas somente nos últimos anos ganhou notoriedade, justamente pelos eventos do Red Bull Air Race, a “Fórmula 1” da aviação. Comparando com o automobilismo, a competição aérea é como o rali: “É uma corrida contra o relógio”, explica Francis.Um de cada vez, os pilotos e seus aviões, percorrem um circuito passando entre obstáculos. Ganha quem completar a volta mais rápida.
Os circuitos da competição sempre são montados sobre a água, normalmente regiões litorâneas – o Rio de Janeiro sediou uma etapa do Red Bull Air Race, em 2009.
O piloto que atingir algum dos obstáculos flutuantes durante o voo cronometrado é punido com acréscimo de mais tempo ao completar a volta pelo circuito. Mas não tem perigo: as balizas por onde os aviões passam são construídas com um frágil material, que é despedaçado ao ser atingido, o que acontece com certa frequência.
Sukhoi gaúcho
O representante brasileiro no Red Bull Air Race compete com o Su-31, um consagrado avião de acrobacias no mercado mundial fabricado pela Sukhoi, da Rússia, a mesma empresa que produz os poderosos caças russos, desde os tempos da antiga União Soviética.
Segundo dados da fabricante, a pequena aeronave de apenas 700 kg (vazio) pode alcançar a velocidade máxima de 450 km/h e realizar manobras com forças de 12 gs. É um avião cujo limite é o quanto o piloto pode aguentar, até desmaiar.
“Para acrobacias de competição, o Sukhoi Su-31 e o Extra330sc são como uma Mercedes e uma Ferrari na fórmula 1”, exalta Francis, se referindo a um dos aviões com o qual compete. “É difícil dizer qual é o melhor, depende da temporada. Neste momento, o Edge540 é o melhor, não tenho nenhuma dúvida. Mas qual será o melhor avião daqui três anos?”, acrescenta.
E com muito treinamento e aviões cada vez melhores, até onde será que o piloto gaúcho consegue chegar no Red Bull Air Race?
Nota do editor: Se você ainda não conhece, fique de olho. O Red Bull Air Race é transmitido no canal de assinatura Sport TV. Também vale conferir o site oficial da competição.
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Ótima história, fiquei surpreso ao saber que ele é de Porto Alegre, e ainda que fez o curso no aeroclube do RGS. Daqui um ano é minha vez hahahaha…
Foi meu instrutor na Avianca na epoca do Fokker-100.Meio chato algumas vezes,mas sabe muito.
Parabéns pelo teu sucesso Francis…..não esperamos outra coisa de ti. Além do teu reconhecimento como grande piloto e pessoa. Orgulho para todos nós que temos esse grande piloto entra a família….. Sucesso sempre. Que Deus abençoe tuas manobras…..Bjs Mana e Cia…
Bom vamos por partes , Fracis excelente instrutor , fez meu check no Airbus em 2011 , merece esse reconhecimento . Quanto aos aviões , o Su-31 não é o avião utilizado na Red Bull Air Race , e sim o avião particular que ele usa ou usava em competições de acrobacia , na Red Bull o avião utilizado é o Extra330sc . Quem não conhece lendo o texto entende que ele usa o SU-31 na Red Bull o que não é verdade .