Quando Santos Dumont fez o 14-Bis e o Demoiselle saírem do chão no início do século 20, nada naquelas aeronaves era eletrônico. Em outubro de 1968, quando o pioneiro Bandeirante estreou no céu, os comandos do cockpit eram transmitidos ao restante do avião por cabos. Tucano, Ipanema, Brasília, Xavante e outros tantos modelos Embraer operaram com funções majoritariamente mecânicas.
Durante décadas, passageiros conheceram as nuvens em máquinas cujos motores eram ativados por alavancas e roldanas, engrenagens que funcionavam manualmente e cabos que puxavam outros cabos. Mas, desde 2014, a Embraer tem colocado aeronaves nos céus que são totalmente controladas por fios, sem um sistema híbrido – é o full fly-by-wire (FFBW).
Em 2010, a Embraer recebeu o FlightGlobal Achievement Award por implementar o full fly-by-wire em jatos médios – a primeira inovação desse tipo. “Teria sido mais fácil manter os sistemas mecânicos, mas a Embraer resolveu arriscar e ser criativa”, escreveu o comitê da premiação. “Estamos convictos de que o fly-by-wire aumenta a segurança para os pilotos, passageiros e tripulação.”
Quando menos é mais
O desenvolvimento deste sistema, que viria a substituir os comandos feitos por meio de pesados cabos de aço e dar início à era dos comandos por sinais elétricos transmitidos por fios, começou em 2008, com as aeronaves E-Jets, Legacy 600, Legacy 650, Phenom 100 e Phenom 300. Elas já operavam com o fly-by-wire, mas não em todos os comandos. Em 2014, com a certificação do jato executivo Legacy 500, a Embraer passou a implantar o sistema full-fly-by-wire nas aeronaves.
Depois dos Legacy 450 e Legacy 500, os também executivos Praetor 500 e Praetor 600, as aeronaves comerciais da família E2 e o militar KC-390 foram criados como expoentes da tecnologia de sistemas – totalmente eletrônicos. O full-fly-by-wire trouxe uma série de vantagens que vão ao encontro de dois dos pilares mais importantes da Embraer: segurança e alta performance.
Por que um avião full-fly-by-wire voa melhor?
A substituição dos sistemas mecânicos pelos fios elétricos deixou as aeronaves muito mais leves. Sem o peso dos cabos, o avião consome menos combustível, fica mais econômico e atinge maior velocidade quando está voando em cruzeiro. Mais leve, a aeronave é capaz de decolar de pistas menores – um grande trunfo para a aviação regional e executiva, que dependem de aeroportos com menor estrutura.
O espaço ocupado pelos comandos físicos também pode ser aproveitado para ampliação do bagageiro ou do interior das cabines. E o conforto não vem só por deixar a aeronave mais espaçosa: o FFBW também garante mais estabilidade às aeronaves. A sutileza dos comandos e o “active turbulence detection” integrado ao sistema são responsáveis por voos mais confortáveis para pilotos e passageiros.
E, por falar em pilotos, o full-fly-by-wire deixou o cockpit ainda mais dinâmico, assertivo e elegante. Com o sistema, é possível automatizar as fases do voo, o que reduz a carga de trabalho dos pilotos e, consequentemente, aumenta a segurança, já que profissionais menos sobrecarregados conseguem ser mais atentos e detalhistas. Outra vantagem é que o software protege e verifica as funções desempenhadas no cockpit, atuando como um “terceiro piloto”.
“O FFBW está para a aviação assim como o sistema de injeção eletrônica está para a indústria automotiva, assim como o computador está para o ábaco. Todos os grandes aviões comerciais possuem sistemas FFBW. Mas a Embraer foi a única empresa a trazer os benefícios dessa tecnologia para aeronaves das categorias Midsize e Super Midsize. Essa é uma das características que nos coloca à frente do nosso tempo e mostra o quão inovadores podemos ser”, afirma o diretor de estratégia de produto, Alvadi Serpa.
Além de receber o título de inovação no FlightGlobal Achievement Award em 2010, o sistema full fly-by-wire desenvolvido pela Embraer também ficou entre os indicados no Collier Trophy 2014, ambas premiações importantes da aviação mundial.
Fonte: Journal of Wonder
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