Quem mora em São Paulo escuta a todo momento o ruído de um helicóptero passando, provavelmente voando para um dos mais de 100 helipontos espalhados por prédios comerciais pela cidade. São centenas de aeronaves transportando pessoas que precisam driblar o trânsito das ruas e avenidas e ganhar tempo. Mas o que muitos não percebem é que alguns desses helicópteros são máquinas de última geração e com desempenhos impressionantes, como o novo H135 da Airbus Helicopters, que acabou de pousar no Brasil.
Candidato a um dos atuais helicópteros mais avançados do mundo, o H135 é a nova geração do EC135, desenvolvido ainda nos tempos da Eurocopter, empresa incorporada pelo grupo Airbus em 2014. O modelo foi apresentado na Labace 2016, no Aeroporto de Congonhas, mas ele não estava no estande. O modelo ficou na parte externa da feira, disponível para voos com potenciais clientes e a imprensa.
O H135 é um helicóptero de encher os olhos. Tem aspecto futurista, com linhas limpas e fuselagem larga, e o rotor traseiro bem diferente, envolvido por uma carenagem, formato conhecido como rotor Fenestron ou fantail.
“A hélice na cauda do helicóptero é um elemento que sempre requer muita atenção do pessoal em solo. Qualquer descuido pode ser fatal. Nesse ponto, com o rotor protegido, o H135 oferece praticamente 100% de segurança para quem está do lado de fora, como em um momento de desembarque de passageiros ou então um resgate”, explicou Dominique Andreani, vice-presidente de negócios e serviços da Helibras, fabricante brasileira administrada pela Airbus Helicopters, em apresentação na Labace.
Além do design repleto de curiosidades, o H135 ainda esconde em suas “entranhas” uma suíte eletrônica de última geração no mundo dos helicópteros. A cabine de comando, com telas digitais e ampla área envidraçada, lembra o cockpit de um caça. O aparelho possui até controles automáticos com sistemas que evitam “barbeiragens” do piloto e uma função que conduz a aeronave na fase de aproximação sem a necessidade de comando manuais.
“Esse recurso ajuda o piloto a pousar em condições de baixa visibilidade ou com tempo ruim. O sistema faz toda a aproximação e ‘entrega’ o comando para o piloto a poucos metros do solo. Essa característica pode ser muito útil para operadores que voam para plataformas de petróleo ou então missões de resgate em locais de difícil acesso”, contou Ralf Nicolai, gerente global de vendas da Airbus Helicopters.
“O H135 é um helicóptero com muita tecnologia alemã, país que tem tradição na construção nesse tipo de aeronaves, com altos índices de confiabilidade na parte mecânica e a busca constantemente novas formas de reduzir o consumo de combustível”, lembrou Andreani.
A nova geração do H135 foi desenvolvida pensando principalmente para a missão de ambulância aérea. Nessa versão, o aparelho é equipado com um porta traseira para facilitar o acesso de até duas macas e mais dois profissionais de socorro. A aeronave também pode ser equipada com ganchos para transportar cargas externas (até 1.000 kg), ou equipamentos de vigilância, como sensores e holofotes.
Segundo a fabricante, existem atualmente mais de 1.200 EC135 e H135 em operação no mundo todo. Metade deles são empregados em operações de resgate, por entidades públicas ou órgão militares, e a segunda maior fatia de clientes, cerca de 17%, é de forças policiais. A clientela “VIP”, que adquire a versão corporativa, aparece em terceiro, com 16% de participação.
A Força Aérea Brasileira (FAB) é um dos operadores militares do EC135, com dois aparelhos na frota – designados VH-35. As aeronaves são utilizadas no transporte de autoridades. A aeronave de asas rotativas da Airbus também voa com o exército da Alemanha e a marinha do Japão.
Voando sobre São Paulo
Terminada a apresentação da marca sobre o H135, que por ter tantos detalhes e possibilidades levou mais de duas horas, partimos para o “teste” da máquina. Caía uma leve chuva sobre São Paulo e o céu estava encoberto. Perguntei ao piloto se isso representava algum risco para o voo e a resposta foi a seguinte: “Só um furacão derruba esse helicóptero”.
Todos de fones, portas fechadas, hora de partir. O H135 que veio para São Paulo está configurado para transportar seis passageiros com espaço razoável. No momento da decolagem, o helicóptero parece nem precisar acelerar ao máximo seus motores, duas turbinas (Pratt & Whitney) com mais de 640 hp cada. Sem balançar e varrendo as poças d’água do pátio em Congonhas, o H135 começou a taxiar voando a cerca de cinco metros de altura e ao se afastar de Congonhas subiu na vertical, como um elevador.
Antes do passeio, o nosso voo ainda inclui uma missão da fotógrafa da Helibras, que devia realizar imagem do estande da empresa na Labace, momento em que o helicóptero pairou por alguns momentos sobre o Aeroporto de Congonhas, com a porta aberta. Em seguida seguimos para um giro até a Avenida Paulista pela imensidão de São Paulo.
O H135 voa rápido e de forma estável, o que transmite muita segurança para o passageiro. O comportamento do helicóptero parece o de um carro com boa suspensão, como um sedã alemão de alto luxo e espaçoso. Segundo a Airbus, o aparelho não pode exceder a velocidade de 287 km/h e tem autonomia para até 635 km, ou quase três horas de voo. Nossa viagem, porém, durou 20 minutos.
No retorno a Congonhas, o piloto aumentou a velocidade e cruzou a cidade num instante, com leves “golpes” de vento lateral na cauda. Fiquei imaginando quanto tempo levaria para fazer o mesmo percurso de carro, com chuva em São Paulo… Na aproximação do aeroporto, cruzamos pelo meio da pista, acompanhando a descida de um Boeing, e em seguida o helicóptero pousou como uma pluma.
As primeiras entregas do H135 começaram em 2014, mas somente neste ano o helicóptero renovado chegou ao mercado brasileiro. No mundo todo, a frota desse modelo já chega a quase 50 unidades e mais de 400 foram encomendados, incluindo um recentemente no Brasil, para uso em táxi-aéreo. A aeronave, com possibilidade de ser adaptada para diversas funções, é avaliada em cerca de US$ 5,6 milhões.
“Após a negociação, dependendo da necessidade do cliente, o helicóptero pode ser entregue em até 65 dias uteis, em qualquer parte do mundo. Acreditamos muito no sucesso da versão de salvamento. Há um espaço para esse aparelho no mercado brasileiro”, completou Andreani.
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