Companhia aérea que mais deixou saudades no Brasil, a Varig era conhecida pelo ótimo serviço de bordo e sua respeitável frota de aviões. A antiga empresa gaúcha foi a única do país que voou com o enorme Boeing 747, que se despediu do país há 20 anos após quase duas décadas transportando passageiros e cargas para diferentes cantos do mundo.
A última viagem da empresa com o 747, o voo Varig 839, aconteceu no dia 2 de junho de 1999. Proveniente de Los Angeles, nos Estados Unidos, a aeronave com prefixo PP-VOA tinha como destino o aeroporto de Guarulhos, mas acabou alternando para o Galeão, no Rio de Janeiro, onde ficaria estacionada por quase um ano até ser adquirida por um novo operador.
Os jatos Boeing 747 da Varig são até hoje os maiores aviões comerciais que voaram por uma companhia aérea brasileira. Ao todo, a empresa operou 12 unidades, de quatro modelos diferentes, do quadrirreator: o 747-200, 747-300B, 747-300C (versão que transportava carga e passageiros) e o 747-400, o mais popular dos Jumbos.
A lista de 747 operados pela Varig também inclui um modelo arrendado da South African Airways. Este aparelho era impulsionado por motores Pratt & Whitney JT-9D, enquanto os outros 11 jatos usados pela empresa eram equipados com turbofans General Eletric CF-6.
Um gigante no Brasil
Hoje considerada uma aeronave impensável para qualquer companhia do Brasil (ou mesmo do exterior), o 747 chegou às mãos da Varig em um momento de turbulência econômica mundial, com a segunda crise do petróleo. Isso, porém, pouco incomodava a empresa brasileira, que detinha o monopólio de voos internacionais no mercado brasileiro.
Em 1981, a Boeing ofereceu o 747 à Varig depois que três unidades encomendadas pela companhia Lybian Arab Airlines, da Líbia, tiveram sua venda cancelada devido ao embargo dos Estados Unidos contra o país no Norte da África, então governado pelo ditador Muamar Kadafi. Os primeiros modelos recebidos pela empresa brasileira foram o 747-200, adquiridos “zero km” e configurados para receber 359 passageiros em três classes.
No começo dos anos 1980, a Varig estava reformulando sua frota de aeronaves de longo curso, substituindo os veteranos Boeing 707. Em princípio, a renovação havia começado bem antes, com a aquisição do trimotor McDonnell Douglas DC-10 e mais adiante foram adicionados os 747, escolha que se mostrou acertada na época.
A primeira rota regular assumida pelos 747 da Varig foi o voo entre o Rio de Janeiro e Nova York, iniciada em 12 de fevereiro de 1981. Em seguida, em abril, o jato também passou a voar da capital fluminense para Frankfurt. Naquele tempo, esses eram os trechos internacionais mais rentáveis da companhia aérea brasileira.
Com o bom rendimento alcançado pelos 747, a Varig encomendou mais dois aparelhos em 1984. Desta vez, porém, a companhia escolheu o modelo 747-300B, também chamado de Combi. Essa versão do Jumbo tinha o interior dividido para transportar passageiros e cargas simultaneamente. A principal característica dessa variante era a grande porta na parte traseira da fuselagem para o embarque de grandes volumes. O avião comportava até 265 passageiros e sete pallets padrão de carga.
A Varig vivia dias de glória na década de 80 e logo mais unidades do 747 foram adquiridas. Em 1988, a empresa começou a receber o 747-300B configurado para transportar somente passageiros (até 399 ocupantes).
Em 1991, quando completou 10 anos de operações com o Jumbo, a Varig encomendou a então nova versão da aeronave, o 747-400. Mais eficiente, o novo avião permitiu a companhia abrir novas rotas para localidades mais distantes, tais como Dinamarca, Itália, Hong Kong e Japão.
O 747-400 foi o maior avião comercial operado no Brasil. Os três aparelhos adquiridos pela companhia (prefixos PP-VPG, PP-VPH e PP-VPI) eram configurados para receber até 438 passageiros, capacidade hoje vista (ou superada) somente no Airbus A380 ou em poucos 747-8 de nova geração.
Começa a crise (e a debandada dos 747)
A delicada situação econômica do Brasil no início da década de 90 refletiu nas finanças da Varig. Gastando mais do que podia, a companhia aérea foi forçada a reduzir seus voos com o 747 e passou a substituí-los pelo trimotor MD-11, mais eficiente.
Em 1994, a Varig começou a devolver seus jumbos. Os primeiros modelos dispensados foram os 747-300C seguidos pelos 747-400, que tinham um altíssimo custo de arrendamento. O aluguel de cada aeronave custava US$ 700 mil por mês. Dois anos depois a empresa se despediu de seus 747-200, incluindo o primeiro modelo registrado no Brasil, o PP-VNA.
Apesar da crise no Brasil, a Varig ainda tinha esperanças com o 747 e matinha cinco modelos 747-300B operando normalmente em voos internacionais. Em 1996, dois desses modelos receberam o novo esquema de pintura da companhia, mas não houve fôlego para redecorar os demais.
Em 1999, a Varig decidiu pela desativação definitiva do 747 e estacionou todas as unidades remanescentes, marcando o final da história do Jumbo no Brasil.
Os Boeing 747 que serviram na Varig por quase 20 anos ainda continuariam voando por mais alguns anos até finalmente serem aposentados. Atualmente, a maioria dos jatos operados pela companhia já foidesmontada ou aguarda pelo desmanche em cemitérios de aviões nos EUA.
Veja mais: Boeing entrega último jato comercial da série 737 NG
Em vinte anos de VARIG tive o privilégio de ser tripulante no B 747. Um avião que gostávamos muito, passageiros também.
Parabéns Marco. Isso foi um orgulho a todos nós e vc fez parte disto.
Atas. Chorei. Relembrando. O. Vidi
o
No Brasil de hoje nenhuma empresa se compara a VARIG. Viajei com a Varig e nao a trocaria hoje por nenhuma.
Os primeiros 747 a serem devolvidos (excluindo o 747-200 alugado da SAA) foram o tres modelos 400, seguidos pelos 200 anos mais tarde. Todos os cinco 747-300 permaneceram na frota ate 1999/2000 sendo os ultimos a serem devolvidos.