Quando o HFB 320, mais conhecido como Hansa Jet, surgiu em 1964, os jatos executivos ainda eram aviões um tanto exóticos. Além do imenso Jetstar, da Lockheed, apenas o Sabreliner, também americano, e o inglês HS-125 haviam entrado em serviço, mas há pouquíssimo tempo. Até mesmo o mais famoso jato executivo da história, o Learjet, se preparava para ter os primeiros exemplares entregues embora fosse um desconhecido na época.
Foi nesse cenário que a Hamburger Flugzeugbau (HFB) decidiu lançar um projeto de jato executivo de desenho excêntrico. A empresa, surgida em Hamburgo, era derivada da Blohm & Voss, uma fábrica que produzia navios e também hidroaviões como o BV 238, o maior do gênero durante a Segunda Guerra. Dez anos após o fim do conflito, a Alemanha foi autorizada a voltar a projetar e construir aviões civis e a HFB selecionou dois projetos para esse fim, um turboélice de passageiros com 48 lugares e um jato para cerca de 80 passageiros com dois motores instalados na parte traseira da fuselagem. Sem financiamento, as duas propostas não saíram do papel, mas a visão ousada dos alemães logo surgiu em outro avião, o HFB 320.
Já associada à VFW (por sua vez, uma junção da antiga Focke Wulfe com a fábrica Weserflug), a HFB idealizou no início da década de 1960 um inédito jato executivo cuja característica mais marcante eram as asas com enflechamento negativo, ou seja, com as pontas projetadas para frente. Esse layout havia sido pesquisado durante a Segunda Guerra, mas em aeronaves militares e tinha como uma das vantagens a alta manobrabilidade.
No caso do HFB 320, também chamado de Hansa Jet, sua função era mais simples: como a estrutura de suporte das asas ficava para trás isso liberava mais espaço para a cabine de passageiros. Além do desenho peculiar das asas, o jato possuía uma fuselagem em forma de gota, cauda em T, motores instalados em pilones na fuselagem e tanques de combustível nas pontas das asas. Em suma, uma configuração quase idêntica a dos futuros jatos executivos.
Primeiro acidente
O Hansa Jet voou pela primeira vez em 21 de abril de 1964, seguido pelo segundo protótipo no final de outubro do mesmo ano. Em maio de 1965, o primeiro avião sofreu um acidente causado por uma falha na cauda, que teve de ser redesenhada. Mesmo assim, o jato entrou em produção, sendo o primeiro avião do tipo construído na Alemanha Ocidental. Após receber a homologação na Europa e Estados Unidos, o HFB 320 entrou em serviço em 1967 com clientes em outros continentes. No entanto, a Força Aérea da Alemanha (Luftwaffe) acabou sendo uma espécie de fiadora do projeto ao encomendar 13 unidades para servir como transporte VIP.
Apesar de ser maior que o Learjet 25, um dos seus concorrentes da época, o HFB 320 não conseguia o mesmo desempenho, embora utilizasse os mesmos turbojatos GE CJ610. Ele era mais lento, voava mais baixo e tinha menos alcance que o modelo americano. Não foi por acaso que apenas 47 unidades foram produzidas, quase a metade para o governo alemão que também utilizou como plataforma de treinamento de contra-medidas eletrônicas (ECM). Nove exemplares foram perdidos em acidentes.
O Hansa Jet no Brasil
Apesar da baixa produção, o HFB 320 encontrou clientes no Brasil. Dois deles foram registrados no país, o PT-IDW e PT-IOB, ambos originalmente vendidos para empresas americanas. O primeiro deles, segundo registros, pertenceu à Audi, enquanto o segundo teria sido adquirido pelas Indústrias Villares, conhecida pelos elevadores e escadas rolantes, entre outros.
Enquanto a frota do Hansa Jet hoje encontra-se em solo, com parte deles desmontados, preservados ou estocados, sua fabricante, a HFB, participou de mais algumas fusões, a primeira com a Messerschmitt-Bolkow para formar a MBB, que atuou em várias áreas, incluindo o mercado helicópteros. Mais tarde ela tornou-se a DASA (Deutsche Aerospace), depois Daimler Aerospace até a criação em 2000 da EADS, gigante aeroespacial que uniu, além da DASA, a Aerospatiale (França) e a CASA (Espanha) e que hoje transformou-se no grupo Airbus. Ironia do destino, uma das suas principais fábricas fica em Hamburgo, onde começou a história do Hansa Jet.
Ficha técnica – Hamburger Flugzeugbau HFB 320 Hansa Jet | |
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Desempenho | |
Velocidade de cruzeiro | 825 km/h |
Teto de serviço | 11.433 m |
Alcance | 2.413 km |
Dimensões | |
Comprimento | 16,6 m |
Envergadura | 14,5 m |
Altura | 4,9 m |
Área alar | 30,1 m² |
Pesos | |
Vazio | 5.511 kg |
Máximo na decolagem | 9.218 kg |
Capacidade | 15 passageiros |
Propulsão | |
Dois motores turbojatos GE CJ-610-5 | 2.950 libras cada |
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