A Embraer começou o dia anunciando um novo cliente internacional para o C-390 Millennium. O governo da Hungria e a fabricante brasileira assinaram nesta terça-feira (17) um contrato para a aquisição de duas aeronaves. O acordo também inclui treinamento de pilotos e técnicos das forças armadas húngaras, bem como outros serviços e suporte. O valor da negociação não foi divulgado.
Apesar do anúncio ter soado como uma surpresa, o interesse da Hungria no avião da Embraer não é novidade. Em maio de 2019, chanceler brasileiro Ernesto Araújo viajou a Budapeste para se encontrar com seu homólogo húngaro Péter Szijjártó. Durante o encontro, eles discutiram a compra da aeronave fabricada no Brasil para equipar a Magyar Légierő (Força Aérea da Hungria).
De acordo com a Embraer, as entregas dos aviões estão programadas para começar em 2023. Os modelos encomendados pela Hungria serão os primeiros C-390 com a opção de configuração para Unidade de Terapia Intensiva, além da usual capacidade de transporte (e lançamento aéreo) de tropas e equipamentos. Os aviões também serão usados em missões de reabastecimento aéreo de outras aeronaves, entre elas os caças Gripen C/D da força aérea húngara.
“Estamos adquirindo uma frota de transporte multimissão para que as Forças Armadas da Hungria cumpram, de maneira soberana, a mais ampla gama de tarefas no âmbito nacional”, disse Gáspár Maróth, Comissário do Governo para o Desenvolvimento da Defesa.
Selo de qualidade OTAN
A venda dos C-390 Millennium para a Hungria tem um significado especial pois coloca o novo produto da Embraer nos holofotes da OTAN. O país do leste europeu é um dos membros da aliança militar intergovernamental, que exige equipamentos compatíveis entre os participantes.
“A Hungria é a segunda nação europeia e membro da OTAN a selecionar o C-390 Millennium, uma aeronave altamente capaz que oferece excelente produtividade por meio de combinação incomparável de velocidade, carga útil e reconfiguração rápida para operações multimissão”, disse Jackson Schneider, Presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.
O outro “cliente OTAN” do Embraer C-390 é Portugal, que encomendou cinco aeronaves. A indústria portuguesa também participa do desenvolvimento e produção de componentes críticos do Millennium.
“Estes KC-390 são totalmente compatíveis com as operações da OTAN, não apenas em termos de hardware, mas também em sua configuração de aviônica e comunicações”, acrescenta o comunicado da Embraer.
A aquisição dos C-390 será um importante reforço para a força aérea húngara, que atualmente não possui nenhum cargueiro especificamente militar. Os únicos aviões de transporte da Magyar Légierő são um par de jatos Airbus A319 e outros dois Dassault Falcon 7X. Em contrapartida, três C-17 Globemaster da OTAN ficam estacionados na base aérea de Pápa, no oeste da Hungria.
Quem quer comprar o C-390?
A Embraer já tem pedidos pelo C-390 para manter a linha de montagem da aeronave em Gavião Peixoto (SP) ocupada por quase uma década. São 28 aviões para a Força Aérea Brasileira (FAB) – três unidades já foram entregues -, cinco para Portugal e agora mais dois para a Hungria.
Desde a entrega da primeira aeronave, em 2019, a FAB utilizou o avião em diversas missões críticas no Brasil e no exterior com alto grau disponibilidade. A aeronave, no entanto, ainda não completou a certificação operacional final, uma espécie de “atestado militar” que comprava todas as capacidades da aeronave propostas no projeto.
Os KC-390 em serviço no Brasil já podem cumprir, por exemplo, transporte (e lançamento) de tropas e equipamentos e reabastecimento aéreo. Outros requisitos dos modelos da FAB, como operações na região antártica e combate a incêndios florestais, ainda precisam passar pelo processo de certificação.
Obter o certificado final de um cliente militar transforma o novo avião num “produto de prateleira”. Com o projeto comprovado, mais forças aéreas pelo mundo podem se interessar pelo C-390. O avião brasileiro compete na mesma categoria do lendário C-130 Hercules, um avião já bastante antigo e com muitas unidades próximas da aposentadoria, o que pode abrir oportunidades para a Embraer.
Outras nações que participam do programa C-390 Millennium são Argentina e República Tcheca, mas os dois países ainda não avançaram na compra, como fez Portugal. O cargueiro militar da Embraer também é cogitado na Colômbia, Chile e Ucrânia.
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