Pela primeira vez, o governo da Índia assumiu que planeja adquirir a divisão comercial da Embraer, revelou o jornal indiano Business Standard. Citando um alto oficial do governo, a publicação afirmou que a Índia estaria “muito interessada” no negócio, originalmente fechado pela empresa brasileira com a Boeing.
A potencial participação da Índia na Embraer foi revelada em maio pela Reuters, e logo depois confirmada pela própria empresa, que também citou a China como outra possível parceira. Mas na época, o governo indiano não se pronunciou sobre o assunto oficialmente.
“Estamos muito interessados. Estamos explorando alternativas”, disse a fonte, que reconheceu que o governo brasileiro já recebeu uma sondagem. O funcionário afirmou ainda que o financiamento da compra seria feita através do fundo soberano da Índia. O funcionário admitiu o risco de um acordo como esse num período de tantas incertezas, mas argumentou que não existe uma oportunidade como essa no mercado de aviação.
Outro fator que torna a Embraer é interessante é a queda do seu valor de mercado, agravado pela pandemia do coronavírus. Em outras palavras, os indianos poderiam pagar um preço bem mais baixo que o oferecido pela Boeing, de US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões em valores atuais) por 80% da divisão, ainda numa época em que a fabricante brasileira gozava de uma situação financeira mais saudável.
Indústria aeronáutica modesta
A Índia fabrica aeronaves há muitos anos, mas nunca conseguiu qualquer protagonismo nesse sentido. A mais importante empresa do setor é a HAL (Hindustan Aeronautics Limited), que foi fundada em 1940 e pertence ao governo indiano.
A empresa já produziu diversos modelos sob licença, entre aviões russos e europeus. A HAL também desenvolveu algumas aeronaves próprias como o helicóptero de ataque LCH, o caça Tejas e o Saras, um turboélice regional que lembra bastante o Embraer CBA-123 Vector. Nenhum deles, entretanto, obteve grande projeção.
Mercado em crescimento
Com a segunda maior população do mundo, a Índia tem passado por uma expansão no transporte aéreo nos últimos anos e é cotada para ser um dos maiores mercados do gênero, o que seria um chamariz para a Embraer. Com uma base no país, a empresa também poderia explorar a região com mais efetividade do que hoje.
A fracassada experiência com a Boeing, entretanto, pode tornar o acordo mais complexo. A Embraer acabou pagando caro por se preparar para criar a joint venture Boeing Brasil Commercial. Junte-se a isso uma possível relutância do governo brasileiro em ver o controle da fabricante nas mãos de outro país – embora não tenha influência no cotidiano da empresa, o estado ainda mantém o poder de veto para algumas situações estratégicas.
Em contato com o Airway, a Embraer informou que “não há planos de vender a unidade de aviação comercial ou de qualquer outra área de negócios. A companhia está aberta para discutir parcerias de crescimento voltadas para projetos específicos ou inserção em mercados”.
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