O ditado é bastante antigo e conhecido, mas nunca perde a validade: “se você quer ser um milionário na aviação basta ser bilionário e lançar uma companhia aérea”. A máxima é ainda mais relevante no Brasil, um dos mais complexos mercados de aviação comercial do mundo a ponto de ter visto ao menos 16 iniciativas naufragarem nos últimos 10 anos.
É esse roteiro que a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA) pretende evitar ao começar sua carreira nesta semana. A companhia aérea do grupo de mesmo nome realizou nesta terça-feira, 29, um voo inaugural com convidados e a imprensa entre São Paulo (Guarulhos) e Brasília. No dia seguinte dá início à operação de suas primeiras rotas comerciais para as cidades de Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro, além das duas citadas.
A frota de aeronaves é formada exclusivamente por jatos Airbus A320 de primeira geração obtidos de segunda mão. Três deles estarão ativos a partir de 7 de julho, um quarto se juntará à frota dois dias depois e um quinto avião, no dia 15 de julho. Outras cinco aeronaves deverão ser incorporadas até o final de agosto, formando a base inicial de 10 aviões.
Nessa primeira etapa, Itapemirim atenderá 35 destinos dentro do prazo de um ano. Como um dos diferenciais, a companhia oferecerá um maior espaço longitudinal entre as poltronas, que varia de 79 a 107 cm. Por conta disso, o A320, que comporta cerca de 180 assentos, terá apenas 162 lugares.
Além disso, a empresa incluirá o serviço de bordo e quer utilizar a extensa malha rodoviária da Viação Itapemirim como alimentadora dos voos. Por fim, a ITA diz que manterá uma política de preços acessíveis, cuja tarifa de lançamento começa em R$ 119,90 e inclui despacho de bagagem e marcação de assento, serviços cobrados por suas concorrentes.
“Cemitério” de companhias aéreas
A despeito do otimismo de seu presidente, Sidnei Piva, que pretende chegar a 50 aviões em breve e estrear voos internacionais, a Itapemirim nasce num momento em que o mercado de aviação comercial no Brasil tenta se recuperar do choque brutal causado pela pandemia do Covid-19.
Dominado por três grandes companhias, o transporte aéreo sofreu um baque tão grande que levou a imensa LATAM Brasil a pedir recuperação judicial por conta de dívidas. Com isso, a empresa encolheu e foi afetada sobretudo nas rotas internacionais, onde se destacava.
Mas mesmo sem o fantasma do isolamento social é fato que manter uma companhia aérea no Brasil é e sempre foi uma tarefa difícil. Com sua legislação confusa, carga tributária elevada, instabilidade cambial e a eterna oscilação causada por crises econômicas e políticas em série, manter uma operação aérea é um constante desafio.
Veja abaixo algumas das companhias aéreas que fecharam as portas nos últimos anos no Brasil
Não que isso tenha espantado pretendentes. Num levantamento rápido, Airway encontrou ao menos 21 companhias aéreas nascidas a partir dos anos 2000 e que pereceram. Outras acabaram sendo incorporadas pelas grandes empresas como a Pantanal (assumida pela TAM), MAP (que se uniu à Passaredo e foi vendida à Gol) e a Trip (abraçada pela Azul).
Apenas na última década, o mercado de aviação comercial perdeu 16 companhias aéreas, a mais notória delas a OceanAir (Avianca Brasil). A maior parte dessas iniciativas carecia de uma estrutura adequada para prosperar, há de se reconhecer.
Mão de obra qualificada
No caso da Itapemirim, há alguns fatores favoráveis ao projeto como o aporte de recursos financeiros de um fundo de investimento árabe. Além disso, a companhia aérea acabou “ajudada” indiretamente pelos problemas da LATAM e outras empresas durante a pandemia.
Com custos elevados, a empresa aérea com sede em Santiago do Chile acabou demitindo centenas de tripulantes, muitos deles experientes, além de devolver grande quantidade de aeronaves da Airbus.
Por conta disso, os planos inicias da Itapemirim, de voar com turboélices Dash 8 e encomendar o menor Airbus A220 acabaram alterados em favor do A320, que passou a ter um valor de leasing mais barato, além de existir mão de obra qualificada no mercado.
Resta saber se os aviões amarelos da Itapemirim conseguirão atravessar esse “céu de cumulus nimbus”, atraindo passageiros a ponto de equacionar a proposta bastante ousada da companhia.
As aeronaves abandonadas das finadas empresas aéreas que jazem nos aeroportos brasileiros são uma constante lembrança de que nosso país não é para amadores.
A verdade é que muitas dessas empresas eram nanicas, não tinham como sobreviver. Creio que faltou aí na lista a WebJet.