A fabricante estatal chinesa COMAC transferiu na semana passada um protótipo do jato comercial C919 de Xangai para Nanchang, onde o avião será submetido a uma nova bateria de testes de voo. Os ensaios da vez têm como objetivo avaliar a performance da aeronave em condições extremas de alta temperatura, umidade elevada e frio.
Segundo a fabricante, serão realizados testes estáticos e de voo com a aeronave para verificar o ajuste dos freios, sistemas de drenagem, fontes de alimentação, prevenção de incêndios e controle ambiental. A aeronave enviada para as avaliações é o C919 “105”, o quinto protótipo construído pela fabricante chinesa.
No total, a COMAC planeja usar seis protótipos da aeronave para realizar os diversos testes para a campanha de certificação – o sexto modelo será concluído ainda neste ano. Dessa frota, duas aeronaves são dedicadas para testes estáticos em solo.
O C919 é o primeiro projeto original de jato comercial desenvolvido na China. Até então, a indústria local produziu apenas aeronaves baseados em modelos ocidentais, como o COMAC ARJ21, derivado do DC-9, e o Shanghai Y-10, uma tentativa frustrada de copiar o Boeing 707.
O novo jato chinês é concebido para competir com os tradicionais Airbus A320 e o Boeing 737, hoje os aviões comerciais mais vendidos do mundo. De acordo com a fabricante estatal, o C919 tem capacidade para transportar entre 158 e 168 passageiros e alcance aproximado de 5.555 km.
Super atrasado
Por ser a primeira experiência dos chineses nesse campo da aviação comercial, o C919 é atualmente um dos projetos aeronáuticos que mais acumula atrasos em seu cronograma. A COMAC anunciou o programa em abril de 2009 e a programação original previa o lançamento da aeronave em 2016. No entanto, o primeiro voo do jato aconteceu somente em maio de 2017.
A atualmente, a meta da COMAC é concluir a certificação chinesa do C919 em 2021 e no ano seguinte iniciar as primeiras entregas aos clientes.
Embora ainda tenha um longo caminho para percorrer antes de entrar em serviço, o C919 já acumula um carteira de encomendas expressiva, com 305 pedidos firmes e opções para mais 700 aeronaves, todas para companhias aéreas e empresas da China.
O objetivo da COMAC é conquistar um terço do mercado chinês de jatos narrowbody (fuselagem estreita) e mais um quinto desse filão no mundo todo até 2035, o que representa algo em torno de 2.500 aviões.
Avião chinês. E daí?
A COMAC selecionou alguns dos fornecedores mais conceituados da indústria aeronáutica mundial para desenvolver componentes críticos do C919. O trem de pouso, por exemplo, é fornecido pela Liebherr Aerospace, empresa alemã que também fornece esse componente para aviões da Airbus. Já os motores turbofan são da CFM Internacional, que equipa uma série de aeronaves da Boeing.
Em termos técnicos, o C919 é uma aeronave que se aproxima mais das características do A320, do que às do 737. Um dos recursos de maior destaque do jato chinês são os comandos de voo computadorizados, tecnologia conhecida como “fly-by-wire”. O 737, mais antigo, possui comandos convencionais, por cabos.
Para alcançar o mercado externo, a aeronave terá de ser certificada por órgãos de aviação estrangeiros, considerados mais rigorosos, como a EASA, na Europa, e a FAA, nos EUA – ou até mesmo a ANAC, no Brasil.
Além de oferecer capacidade e performance semelhantes às do 737 e A320, o C919 tem ainda a seu favor o baixo o preço. A aeronave é avaliada entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões, a metade do valor pedido pela Airbus e Boeing por seus jatos mais vendidos.
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Com relaçao às matérias sobre o russo MC-21 e o chinês C919, é necessário fazer um esclarecimento. A família A320 é montada na China e uma coisa pouco conhecida no Ocidente (mas comprovada) é que um dos primeiros aviões lá montados desapareceu após terminado. Mais tarde os funcionários locais da Airbus descobriram que aquela unidade havia sido desmontada e havia sofrido um processo de “reverse engineering”. O C919 surgiu anos depois com dimensões externas e internas, sistemas e trem de pouso quase idênticos aos do A320( e as mesmas turbinas). Não foi mera coincidência. O MC21 russo é um projeto todo novo com asas avançadas em materiais compostos, dimensões totalmente diferentes de qualquer outro avião, soluções e tecnologia exclusivamente russa, com exceção das turbinas. A verdade é que os russos têm tecnologia própria e os chineses têm grandes recursos e se adaptam bem a novas necessidades. Por isso o projeto conjunto do novo C929 que une os dois países. O C919 pode ser chamado de Airbus chinês mas o MC21 é um projeto russo com tecnologia ´própria que vai competir no futuro (talvez bem distante) com o 737 e A320.