O nome do avião é novo, mas os problemas continuam os mesmos. Segundo relatos da mídia japonesa, o projeto dos jatos regionais SpaceJet da Mitsubishi Aircraft pode estar enfrentando mais um rodada de atrasos, o sexto ao longo do programa até agora.
Sem citar fontes, a agência de notícias Nikkei diz que a fabricante está lidando com contratempos no desenvolvimento da fuselagem da aeronave, o que por sua vez está diminuindo o ritmo do processo de certificação do avião, um pré-requisito para o início dos voos comerciais.
A publicação ainda acrescentou que o grupo Mitsubishi Heavy Industries, controlador da Mitsubishi Aicraft, está pressionando a divisão aeronáutica para apresentar uma revisão no cronograma de entrega da aeronave. Segundo a programação mais recente da fabricante, o primeiro SpaceJet M90 deveria ser entregue a companhia aérea All Nippon Airways em meados de 2020.
Em resposta à agência japonesa, a fabricante se recusou a comentar a situação, dizendo apenas que “não houve nenhum anúncio ou comentário oficial sobre a programação” e que fez um “tremendo progresso” com o projeto nos últimos dois anos.
Desde o seu lançamento em 2008, o programa, anteriormente conhecido como Mitsubishi Regional Jet (MRJ), tem sido afetado por atrasos no desenvolvimento. Pela programação original, o primeiro jato comercial japonês deveria ter entrado em serviço em 2013.
A série MRJ foi renomeada como SpaceJet em junho deste ano, como parte de uma ampla revisão no programa que levou ao cancelamento do modelo MRJ70 para abrir espaço para uma variante com 76 assentos, o SpaceJet M100.
Devido aos atrasos no projeto, a Mitsubishi provavelmente deverá pagar compensações aos clientes que já assinaram contratos de compra, como é o caso das companhias japonesas ANA e Japan Airlines e a SkyWest, dos EUA. A agência japonesa ainda aponta que essas empresas podem avaliar medidas paliativas, como adquirir jatos de outras fabricantes.
Enquanto o SpaceJet não chega ao mercado, o grupo Mitsubishi fechou um acordo em junho para adquirir o programa de jatos regionais CRJ da Bombardier do Canadá, no intuito de melhorar sua experiência na área de manutenção de aeronaves.
Japão está reaprendendo a fabricar aviões
A indústria aeroespacial do Japão foi uma das mais vibrantes no passado, especialmente durante o período da Segunda Guerra Mundial, quando o país desenvolveu uma grande variedade de aeronaves de uso civil e militar.
Após o conflito no qual os japoneses saíram derrotados, a indústria local foi proibida pelos EUA de fabricar novos aviões, medida que seria revogada em parte somente na década de 1950. Foi nessa época que surgiu a última aeronave comercial do Japão, o turbo-hélice NAMC YS-11 – operado no Brasil pela VASP, que o chamava de “Samurai”.
A partir da década de 70, o Japão voltou a se aventurar na aviação militar com o caça supersônico Mitsubishi F1, além de obter licenças para produzir aeronaves militares ocidentais, como Mitsubishi F2, a versão local do Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon, e mais recentemente o F-35. Atualmente os japoneses têm seu próprio projeto de caça stealth, o X-2 Shinshin, e também já desenvolveram aviões de carga e de patrulha naval, os Kawasaki C-2 e P-1.
Enquanto não retorna à aviação comercial com o SpaceJet, a indústria aeroespacial japonesa vem ganhando certa notoriedade no setor de aviação de negócios com o HondaJet, hoje o jato executivo mais vendido no mundo.
Seguindo o exemplo dos jatos comerciais da Mitsubishi, o desenvolvimento do avião da Honda foi um dos mais complexos e demorados na história da aviação. O projeto foi lançado pela fabricante no final dos anos 90 e o primeiro voo da aeronave ocorreu em 2003. Sua entrada em serviço, no entanto, aconteceu somente em 2015.
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