O ministro da Defesa da Rússia, Yuri Borisov, revelou para agência de notícias TASS que uma nova versão do jato regional SSJ100 (Super Jet) deverá ser concluída em 2023. A aeronave desenvolvida pela Sukhoi, lançada no final da década passada, foi uma tentativa de disputar o mercado global de aviões com 100 assentos e para isso incorporou vários componentes ocidentais além de ter buscado parcerias internacionais para viabilizar sua comercialização. No entanto, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia nos últimos anos motivaram o governo de Vladimir Putin a investir na nacionalização de sistemas, aviônicos e até mesmo seu motor.
“O desenvolvimento do novo Sukhoi SuperJet 100 é realizado de acordo com as instruções do Presidente da Federação Russa de 25 de janeiro de 2018 e visa a substituição de importação de componentes estrangeiros – sistemas de bordo e acessórios. A data planejada para conclusão dos trabalhos de desenvolvimento é 2023. A seguir está previsto o início dos testes de voo. A criação da aeronave exigirá a aprovação de uma nova certificação – de sistemas individuais, de toda a aeronave, bem como a certificação do fabricante”, afirmou o Borisov.
O investimento no novo SuperJet deve chegar a pelo menos US$ 1,6 bilhão (R$ 8,4 bilhões), incluindo o desenvolvimento do novo turbofan PD-8 que substituirá os motores SaM-146, derivados do CFM56 e fornecidos pela PowerJet, uma parceria entre a Safran e a russa NPO Saturn. A meta do governo russo é que o SSJ100 tenha entre 50% a 60% de seus componentes desenvolvidos localmente.
Fracasso comercial
O desenvolvimento do que viria a ser o SSJ100 teve início em 2001 quando a Rússia buscava suprir o mercado com uma família de jatos regionais mais eficiente além de disputar encomendas em outros países. Em 2003, a agência de aviação russa selecionou a Sukhoi para o programa RRJ (Russian Regional Jet) que recebeu investimentos estatais.
Para tornar a aeronave mais atraente para companhias aéreas fora da Rússia, a Sukhoi selecionou diversos fornecedores ocidentais, entre eles a francesa Thales (aviônicos), a Honeywell (APU), a suíça Liebherr (controles de voo) e a Safran (turbofan), entre outros. Os estudos iniciais indicavam uma família com quatro aeronaves e capacidade entre 60 e 100 assentos.
Em 2005, após selecionar a versão de 98 lugares, a Sukhoi rebatizou a aeronave como SuperJet 100 que foi lançada em Farnborough com um pedido firme de 30 unidades da Aeroflot. A ambição global ganhou força com a participação da Boeing no programa e posteriormente com a sociedade fechada com a Alenia (atual Leonardo), que estabeleceram a joint venture SuperJet International para oferecer o jato fora da Rússia.
O primeiro protótipo do SSJ100 voou em maio de 2008, sete meses depois de ter sido apresentado mundialmente. No ano seguinte, o avião participou da edição de Le Bourget, na França, e acumulou mais encomendas, incluindo 30 unidades da Malev, da Hungria.
Pouco depois, no entanto, o motor SaM146 começou a apresentar problemas de confiabilidade e o programa de desenvolvimento acabou atrasando. Com isso, a certificação na Rússia ocorreu apenas em fevereiro de 2011. Um ano depois, a EASA autorizou o SSJ100 a operar na Europa, um feito bastante raro entre as aeronaves do país.
Sem peças de reposição
Em abril de 2011, o primeiro SSJ100 iniciou serviço comercial com a Armavia, mas pouco depois a empresa devolveu os dois aviões recebidos por baixa disponibilidade, algo que também afetou os primeiros jatos da Aeroflot. Apesar disso, no final de 2013, a companhia aérea mexicana Interjet incorporou o SSJ100 à sua frota e em 2016 a CityJet, da Irlanda, introduziu o avião na Europa.
A baixa confiabilidade do jato da Sukhoi, entretanto, voltou a ser um problema, além de falhas de fabricação que obrigaram a inspeções constantes. Em 2018, a Interjet passou a canibalizar sua frota de 22 aviões por falta de peças de reposição. Mais tarde a empresa desistiu de utilizar a maior partes dos jatos e tentou devolvê-los aos russos.
Já a CityJet repassou seus sete SSJ100 entre 2018 e 2020 e com isso atualmente o jato regional opera basicamente na Rússia e alguns países próximos alinhados com Moscou. Estima-se que menos de 100 aeronaves estejam ativas, a maior parte na Aeroflot, que possui 49 unidades após um acidente fatal em 2019.
Escaldada com a rejeição do Ocidente, a Rússia desenvolve outro jato comercial, o MC-21, que utiliza um motor da Pratt & Whitney, mas que ganhará uma alternativa produzida internamente. Espera-se que as lições aprendidas com o SuperJet não tenham sido em vão.
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