No tempo em que os desafios da aviação eram superados na base da força bruta, fabricantes desenvolveram aviões de passageiros equipados com foguetes. O plano surreal (e para alguns perigoso) foi uma solução engenhosa para um problema muito sério na década de 1970 e que até hoje é uma dor de cabeça para os projetistas: decolar de aeroportos em regiões elevadas e quentes.
Essa condição operacional é conhecida na aviação pelo termo em inglês “Hot and High” (Quente e Elevado). Quando um avião decola de uma pista em altitude mais elevada e principalmente em dias quentes, as asas geram menor sustentação e os motores a jato desenvolvem menos potência do que em aeroportos mais baixos ou ao nível do mar, onde a pressão atmosférica é maior.
Para operar em aeroportos em locais elevados e quentes muitas vezes os aviões precisam sacrificar peso. Isso significa decolar com menos passageiros a bordo e também menos combustível, o que reduz o alcance de viagem da aeronave e as opções de rotas. Outra possibilidade é criar soluções para enfrentar essa condição.
Na começo da década de 1970, a Boeing lançou uma versão do 727-200 Advanced com o recurso opcional JATO (Jet-Assisted Take-Off/Decolagem Auxiliada por Foguete). O equipamento era composto por seis foguetes. Eles eram acionados durante a decolagem aos pares a cada 10 segundos, dando o impulso extra para o avião decolar. Mas só em casos de emergência.
A Mexicana queria voar com o 727-200 original, mas o jato da Boeing não podia decolar com capacidade máxima no aeroporto da Cidade do México. Só eram permitidas decolagens com restrições de peso, reduzindo o número de passageiros e a quantidade de combustível. Isso era uma medida de segurança do terminal caso um dos três motores do 727 falhasse durante a decolagem. Mais leve, o jato em emergência poderia continuar acelerando com dois motores e alçar voo em segurança na condição Hot and High da região.
O sistema JATO do Boeing 727-200, com os seis motores acionados por uma combinação de substâncias químicas altamente inflamáveis e perigosas, era portanto um equipamento de segurança. Caso um motor do 727 falhasse durante a fase crítica da decolagem, os foguetes eram ativados e a aeronave prosseguia estável com o voo até um aeroporto alternativo.
Com o sistema JATO o 727-200 era autorizados a decolar com peso máximo (em torno de 95.000 kg) no aeroporto na Cidade do México. A Mexicana recebeu seus primeiros “jatos-foguete” a partir de 1974.
Os foguetes ficavam posicionados na parte inferior da fuselagem do 727, próximos das asas, e exigiu poucas modificações no design da aeronave. A Boeing construiu 12 aviões com essa configuração, todos operados pela companhia Mexicana de Aviación no complexo aeroporto na Cidade do México. Não há registro sobre o acionamento dos foguetes em situações de emergência.
Os foguetes de emergência, porém, logo foram abandonados quando o 727 adotou motores mais modernos e capazes de cumprir as exigências dos desafiadores aeroportos em regiões quentes e elevadas.
Jatos-foguetes
Além da experiência da Boeing com o 727, outro jato comercial oferecido com o raro sistema foi o bimotor Mcdonnell Douglas DC-9. A antiga companhia norte-americana Overseas National operou por um breve momento um pequeno número de aparelhos com a tecnologia no início dos anos 1970. A aeronave era adaptada para operar no movimentado aeroporto de Denver, nos EUA, posicionado a 1.655 metros (5.429 pés) de altitude e também sujeito a grandes temperaturas durante o versão.
Anos antes, a fabricante britânica de Havilland já havia testado foguetes para auxiliar na decolagem do Comet, o primeiro jato comercial do mundo. O equipamento aumentava a capacidade de peso da aeronave, mas a ideia não foi adiante na versão comercial da aeronave, lançada em 1962.
A decolagem assistida por foguete também é uma especialidade militar. As forças armadas dos EUA já testaram esse conceito em diferentes aeronaves, de caças até bombardeiros pesados e cargueiros. Os Blues Angels, esquadrão de demonstração aérea da Marinha dos EUA, opera um C-130 “acrobático” que faz decolagens espetaculares com o auxílio de foguetes.
No final de 1980, em uma missão secreta para resgatar os reféns americanos no Irã, o governo dos EUA modificou um C-130 Hercules para ser um avião de resgate. Foram adicionados mais 30 foguetes para impulsioná-lo na decolagem e desacelerar no pouso. O plano era aterrissar em um campo de futebol perto da embaixada dos EUA em Teerã, mas o projeto foi abandonado quando único modelo modificado caiu durante um voo de teste.