Anunciada em 2018, a criação de uma empresa conjunta entre Boeing e Embraer para assumir a divisão de aeronaves comerciais do fabricante brasileiro passa por um enorme desafio com o agravamento da crise mundial causada pelo novo coronavírus (Covid-19).
Segundo a agência Reuters, o acordo de US$ 4,2 bilhões (mais de R$ 21 bilhões em valores de março de 2020) tornou-se incerto diante da situação financeira das duas empresas. A Embraer, por exemplo, perdeu dois terços do seu valor de mercado desde o anúncio da parceria – na quarta-feira sua ações despencaram 14%. Enquanto isso, a Boeing passa por uma profunda crise financeira após os problemas enfrentados com o aterramento do 737 Max.
A fabricante tem pleiteado ajuda financeira do governo dos EUA de cerca de US$ 60 bilhões para se manter ativa enquanto a pandemia não é controlada e seria um tanto quanto contraditório despender bilhões de dólares em um momento como esse. Além disso, essa soma representa três vezes o valor de mercado da Embraer atualmente – incluindo as unidades de defesa e aviação executiva.
Uma possível renegociação do acordo esbarraria em compromissos assumidos com o governo brasileiro, um dos acionistas da Embraer, além de atrasar ainda mais todo o processo que hoje encontra-se travado por conta da Comissão Europeia que analisa se a fusão pode reduzir a competição nesse mercado.
Concorrência desequilibrada
O acordo entre Boeing e Embraer é considerado crucial para a maior parte das companhias aéreas e empresas de leasing. No panorama atual, a Airbus acumulou muito poder ao assumir a linha de jatos A220 da Bombardier e ver a família A320 dominar as vendas no segmento de 150 a 240 assentos.
Sem a mesma capacidade de barganha, a fabricante brasileira tem visto sua lista de pedidos encolher nos últimos anos mesmo com sua nova série E2 começando a ser produzida em maior escala.
A negociação entre as duas empresas é vista por muitos críticos no Brasil como uma derrota para o país, que acusam o governo de permitir que a Embraer seja engolida pela Boeing, que assumirá todo o potencial de engenharia da empresa, um dos seus principais ativos.
Nesta semana, o CADE indeferiu um recurso do Ministério Público Federal que pedia o fim da joint venture por conta de omissões do órgão antitruste.
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