LATAM Brasil é incluída em processo de recuperação judicial nos EUA

Divisão brasileira havia ficado fora do pedido de concordata da grupo chileno, na expectativa de receber empréstimos do BNDES. Prolongamento da crise do coronavírus motivou decisão, diz empresa
A LATAM Brasil não havia entrado no pedido de concordata do grupo em maio (Airbus)
A LATAM Brasil não havia entrado no pedido de concordata do grupo em maio (Airbus)

Originalmente de fora do pedido de recuperação judicial do grupo chileno, a LATAM Brasil também aderiu ao “Chapter 11”, legislação dos EUA que prevê a proteção da empresa contra um possível pedido de falência de seus credores. A companhia aérea garantiu que não haverá impacto nas suas operações de passageiros e cargas assim como no programa de milhagem LATAM Pass.

A adesão ao plano de recuperação foi tratada pela empresa como “natural” em vista do prolongamento da pandemia do coronavírus e seus efeitos sobre o mercado de transporte aéreo. “Tomamos esta decisão neste momento para que a empresa possa ter acesso a novas fontes de financiamento. Estamos seguros de que estamos nos movendo de forma responsável e adequada, pois temos o desafio de transformar a empresa para que ela se adapte à nova realidade pós-pandemia e garanta a sua sustentabilidade no longo prazo”, afirmou Jerome Cadier, CEO da LATAM Brasil.

O braço brasileiro da LATAM Airlines, que é o maior em receita e número de passageiros transportados, foi mantido fora da concordata porque havia a expectativa de que o governo federal, por meio do BNDES, fosse disponibilizar um financiamento para que não só ela como Gol e Azul pudessem se capitalizar e atravessar o período turbulento. No entanto, as discussões têm se prolongado e as condições do empréstimo, alteradas, de forma que algumas empresas já cogitam dispensar a ajuda.

Cadier, no entanto, considerou que a recuperação judicial pode facilitar o empréstimo do banco de fomento por “oferecer uma opção mais segura ao Banco, já que o DIP (Debtor-in-possession) tem prioridade em relação a outros passivos da empresa”, ou seja o BNDES teria maiores garantias de pagamento em relação a outros credores.

Passageiros transportados (voos nacionais e internacionais)

Companhia mai/20 mai/19 Variação
Azul 263726 2179025 -87,9%
Gol 159506 2734365 -94,2%
LATAM 129885 2841082 -95,4%

Fonte: ANAC

Redução de frota

A LATAM mais uma vez fez questão de explicar que o “Capítulo 11”, previsto na legislação americana, é um recurso bastante diferente da recuperação judicial brasileira. Segundo a empresa, trata-se de “um processo conhecido, previsível e utilizado por empresas notórias no setor aéreo mundial que já passaram pelo Capítulo 11 na sua história“.

A opção por usar a Justiça dos EUA tem justamente a ver com um ambiente mais transparente e claro para que as empresas possam reorganizar sua estrutura e empreender um plano de recuperação sem perder ativos importantes como os aviões alugados. É uma situação bastante oposta da confusa legislação brasileira em que a opção pela recuperação judicial torna-se um processo doloroso e longo e que muitas vezes resulta na falência da empresa. O caso da Avianca Brasil (OceanAir), que nesta semana desistiu de manter a concordata, ilustra esse cenário.

Isso não significa que o caminho do grupo LATAM será mais fácil. A empresa tem sentido bastante os efeitos da crise e já está programando a devolução de dezenas de aeronaves arrendadas. Também recebeu a injeção de recursos de alguns sócios como a Qatar e as famílias Cueto e Amaro em valores próximos US$ 900 milhões para manter suas operações.

A companhia aérea, que lidera o mercado brasileiro em número de passageiros transportados em 2020, foi a que mais despencou desde o início da crise do COVID-19. Em maio, dado mais recente disponibilizado pela ANAC, a LATAM havia apresentado uma queda na demanda de passageiros de 95,4% em relação ao mesmo mês de 2019. A Gol caiu um pouco menos (94,2%) e a Azul, 87,9%. No mês passado, suas duas concorrentes retomaram várias rotas, o que indica que a LATAM pode ver seus números ainda mais enfraquecidos.

Das três grandes companhias aéreas brasileiras, a LATAM é a que mais perdeu passageiros, segundo a ANAC (AeroportoBSB)

Veja também: LATAM e Azul anunciam code-share no Brasil

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