Longevidade no ar: conheça os aviões que estão há mais tempo em produção

Graças a projetos de sucesso, aeronaves recebem atualizações e seguem no mercado há mais de 50 anos em alguns casos
Boeing 737, o jato comercial mais vendido da história
Boeing 737, o jato comercial mais vendido da história
Beechcraft Bonanza: 'automóvel do ar', monomotor está em produção há quase 71 anos
Beechcraft Bonanza: ‘automóvel do ar’, monomotor está em produção há quase 71 anos

Em meio a diversos jatos executivos tinindo de novos e helicópteros futuristas na feira Labace, um pequeno avião para seis passageiros estava exposto no estande da fabricante americana Beechcraft. Motor moderno, aviônica de última geração, conforto e velocidade estão entre os pontos altos do Bonanza, o tal monomotor a pistão. O que pouca gente sabe que esse aparelho é um senhor prestes a completar 71 anos de idade.

Ao contrário de outras indústrias como a automobilística, a aviação nem sempre aposenta um bom projeto. Caso ele se mostre confiável e ainda atual em muitos sentidos, basta aprimorar materiais, motores, aviônicos e seguir em produção. O Bonanza, por exemplo, perdeu a inovadora cauda em ‘V’ por um empenagem clássica, mas ainda mantém muitas das características originais. Curiosamente, esses aviões muitas vezes nasceram sem grandes perspectivas, mas mostraram qualidades nos anos seguintes que certamente surpreendeu muita gente. Outros chegaram a ter sucessores lançados, mas que fracassaram e morreram bem antes de quem deveriam superar.

AIRWAY mostra a seguir 10 aeronaves que tornaram-se clássicos da aviação e seguem na linha de produção, contrariando qualquer previsão.

Antonov An-2

O An-2 é para a aviação russa o que foi o Douglas DC-3 para o Ocidente, um avião incrivelmente resistente, dócil e capaz. Sua concepção um tanto antiquada, com asas duplas e motor radial além do trem de pouso fixo, pode enganar, mas o monomotor é usado até hoje em inúmeras versões. Ele surgiu pouco depois do fim da Segunda Guerra e foi produzido sem interrupção por 45 anos. Acredita-se que quase 20 mil deles foram fabricados não só na antiga União Soviética como também na China, Coréia do Norte e outros locais. Embora não exista um registro claro, um derivado chinês do An-2 seria ainda montado e até versão com motor turboélice foi adotada por alguns operadores.

Antonov An-2: projeto obsoleto, mas valentia incomparável
Antonov An-2: projeto obsoleto, mas valentia incomparável

Beechcraft Bonanza

O Bonanza faz parte de uma classe de aviões que permanece em produção há décadas, a de monomotores a pistão. Mas o modelo da Beechcraft é um mito. Quando ele surgiu, em 1947, a visão dos engenheiros e projetistas é que um aparelho como ele seria uma espécie de carro voador. Ele podia levar seis pessoas e era muito veloz além de ousar com a cauda em ‘V’ que unia as funções de estabilizadores horizontais e vertical. Mais tarde ela foi substituída por um projeto mais tradicional. O Bonanza é hoje o avião há mais tempo em produção ininterrupta na história e segue à venda como se tivesse surgido recentemente.

Beechcraft King Air: o 'rei dos ares' aposentou até seu sucessor
Beechcraft King Air: o ‘rei dos ares’ aposentou até seu sucessor

Beechcraft King Air

O nome não é à toa: o “Rei dos Ares” está no mercado desde 1964 e é um sinônimo de avião biturbo-hélice executivo. Deu origem a versões diversas incluindo de passageiros para transporte regional. As primeiras versões tinham cauda convencional, porém, mais tarde a fabricante decidiu utilizar uma cauda em T que acabou sendo mais popular. Ao contrário do Bonanza, o King Air enveredou pelo caminho do voo mais lento e seguro. Na década de 90, a Beechcraft ousou substituí-lo por um avião revolucionário, o Starship, com configuração ‘canard’ (estabilizador na frente) e motores ‘pusher’ (voltados para trás). Não só o novo avião foi um fracasso como o King Air seguiu vendendo bem, um claro recado do mercado, que estava satisfeito com o avião.

Bell UH-1, o helicóptero do Vietnã, continua em produção
Bell UH-1, o helicóptero do Vietnã, continua em produção

Bell UH-1

A Bell é uma das fabricantes de helicópteros mais famosa do mundo e o modelo UH-1, um marco no setor. Ele voou pela primeira vez em 1956 ainda com o nome provisório de OX-40 e voltado para o Exército americano. Suas largas pás duplas o tornaram inconfundível por onde passava e a Guerra do Vietnã foi seu palco mais famoso – não há um filme sobre o conflito em que o ‘Huey’ (Iroquois de batismo) não esteja presente. Versátil e muito capaz, o UH-1 deu origem a versões civis, biturbinas que seguem em produção 57 anos depois de entrar em serviço, e também o UH-1Y, versão militar mais recente do modelo.

Bell 206 JetRanger: sinônimo de helicóptero usado nas cidadesBell 206 JetRanger: sinônimo de helicóptero usado nas cidades
Bell 206 JetRanger: sinônimo de helicóptero usado nas cidades

Bell 206 JetRanger

Se o UH-1 é figurinha carimbada nas guerras, o JetRanger é uma visão comum na maior parte das cidades do mundo. Embora tenha surgido também por um requerimento militar, o 206 se destacou mesmo como helicóptero civil, popularizando seu uso em todo o globo. Seja na função de transporte, policiamento, cobertura de TVs ou qualquer outra que suas qualidades possam ser usadas, o JetRanger segue até hoje como um dos helicópteros mais populares do mercado, mesmo com tantos concorrentes novos inclusive o Bell 505, seu sucessor. E isso quase meio século após voar pela primeira vez.

Boeing 737, o jato comercial mais vendido da história
Boeing 737, o jato comercial mais vendido da história

Boeing 737

Quem voa hoje a bordo do Boeing 737 na Gol ou em outras companhias no exterior não imagina como ele já percorreu uma longa estrada na aviação. Ele foi pensado no início da década de 1960 quando a Boeing fazia sucesso com o 707 em rotas internacionais e via o trirreator de média capacidade 727 trilhar o mesmo caminho. Mas o 737 não teve a mesma recepção. Tendo voado em 1967, entrou em serviço pela Lufthansa no ano seguinte, mas as vendas eram modestas. Apenas a versão -200 começou a virar esse jogo que só foi ganho na década de 80 com a introdução da versão -300, com motores mais eficientes e fuselagem mais longa. Daí para frente, o 737 virou referência em aviação comercial, tornando-se o jato do tipo mais produzido da história.

Cessna 172 Skyhawk: avião mais produzido da história, com cerca de 43 mil unidades
Cessna 172 Skyhawk: avião mais produzido da história, com cerca de 43 mil unidades

Cessna Skyhawk, Skylane e Stationair

A Cessna, hoje parte do mesmo grupo da Beechcraft, o Textron, também tem seus medalhões. Os monomotores Skyhawk, Skylane e Stationair, com suas características asas altas e perfil longilíneo, estão entre os aviões mais utilizados no mundo. O 172, inclusive, é considerado a aeronave mais produzida da história: mais de 43 mil unidades até 2015, mas que poderiam ser mais. Em 1986, a Cessna foi adquirida pela General Dynamics (hoje parte da Lockheed Martin) que decidiu suspender a produção da linha de aviões a pistão. Apenas com a compra pela Textron, o Skyhawk e seus irmãos voltaram à linha de montagem em 1997. Hoje eles não só seguem à venda como devem ganhar versões movidas a motores elétricos, prova da longevidade de seus projetos.

Lockheed C-130 Hercules, mais famoso avião de transporte militar da história
Lockheed C-130 Hercules, mais famoso avião de transporte militar da história

Lockheed C-130 Hercules

Avião de transporte militar mais conhecido no mundo, o Hercules é um projeto do início da década de 50. Os primeiros protótipos, inclusive, ainda não possuíam o radome pronunciado que caracterizou seu visual tempos depois. O turbo-hélice de quatro motores é quase uma unanimidade no segmento e até hoje ninguém chegou perto de substituí-lo e não faltaram candidatos como o modelo franco-alemão Transal C-160. A Lockheed soube revitalizá-lo na versão C-130J, o Super Hercules, maior e com hélices de seis pás. Agora a Embraer pretende entrar na briga com o KC-390, um jato com projeto bastante promissor. Será o bastante para aposentar o Hercules? Melhor esperar para ver.

Mil Mi-8: helicóptero mais produzido no mundo
Mil Mi-8: helicóptero mais produzido no mundo

Mil Mi-8

A analogia entre o DC-3 e o An-2 se repete aqui com o helicóptero russo Mi-8. Embora seja maior que o Bell UH-1, o modelo desenhado pela Mil na época da União Soviética também virou uma referência em transporte com decolagem vertical. O Mi-8 foi além afinal hoje é usado até por clientes e forças do Ocidente como a própria ONU. Ele voou pela primeira vez em 1961, mas apenas seis anos depois entrou em operação, após receber várias modificações em relação ao projeto original. A espera valeu: o Mi-8 é o helicóptero mais produzido da história, com mais de 17 mil unidades fabricadas até onde se sabe – ele segue à venda e montado por duas empresas diferentes. Entre as missões mais marcantes do modelo está o trabalho de contenção do vazamento radioativo da usina nuclear de Chernobyl em 1986. Usados para lançamento de produtos químicos capazes de selar o reator, diversos Mi-8 foram depois abandonados após receber altas doses de radiação.

Piper PA-28: produção ininterrupta desde 1960, inclusive no BrasilPiper PA-28: produção ininterrupta desde 1960, inclusive no BrasilPiper PA-28: produção ininterrupta desde 1960, inclusive no Brasil
Piper PA-28: produção ininterrupta desde 1960, inclusive no Brasil

Piper PA-28

Rival da Beechcraft e da Cessna, a Piper também teve sua linha de aviões a pistão. O mais famoso dele foi o PA-28, conhecido como Cherokee e que hoje está em produção como Archer e Arrow. O Cherokee é um velho conhecido no Brasil onde foi produzido sob licença inicialmente pela Neiva e depois pela Embraer. Acredita-se que cerca de 33 mil deles foram fabricados desde 1960 que, ao contrário do concorrente Skyhawk, nunca deixou a linha de montagem, até mesmo com a falência da Piper em 1991, mais tarde reaberta com o nome New Piper.

Twin Otter: versátil e capaz de pousar em pistas curtas, o turboélice voltou a ser produzido após 12 anos
Twin Otter: versátil e capaz de pousar em pistas curtas, o turboélice voltou a ser produzido após 12 anos

Viking DHC-6 Twin Otter

O bimotor canadense é mais um caso de avião sem rivais. Lançado em 1966 pela DeHavilland of Canada, o Twin Otter seguia à risca a tradição da empresa: desempenho em pistas curtas e mal preparadas e muita versatilidade para operar em ambientes hostis. Após 844 unidades terem sido entregues, a DHC decidiu encerrar a produção em 1988. Mas outra empresa canadense viu o potencial que o DHC-6 tinha e comprou os direitos de produção em 2005, a Viking. Cinco anos depois, o primeiro Twin Otter da nova série 400 saiu da linha de montagem, seguido de outros 75 aviões. Como diz a empresa, “a única coisa que substitui um Twin Otter é outro Twin Otter”.

Como se vê, as fabricantes podem até ficar pelo caminho, mas um bom avião pode durar para sempre.

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  1. Desculpe mas o Bell Jet ranger não é mais fabricado. O mesmo acontece com o UH-1. O que são oferecidos nestes casos são modernizações das unidades já existentes. Principalmente no caso do Huey (UH-1).

  2. Olá, Francisco, não precisa se desculpar. Nós é que temos que agradecer sua observação. Realmente o Huey deixou de ser produzido em 1987, mas o 206 L4 segue em produção no Canadá, segundo apuramos. Quanto ao UH-1, talvez ainda valha a pena citá-lo porque o modelo 412, um derivado maior e com rotor de quatro pás, segue em produção na planta de Mirabel, no Canadá. De qualquer forma, vamos confirmar isso com a assessoria da Bell nesta segunda-feira.

  3. Não sou profissional do ramo ne conhecedor da área mas ha muito tempo que ouço falar no (Paulistinha) ele não conta?

  4. Prezado Ricardo, achei interessante o tema da matéria mas, sendo ligado à aviação há muitas décadas, encontrei algumas falhas. O Bonanza tem 6 assentos e não 5. “O tal monomotor turbo-hélice” !!! Como assim ? Aí, abaixo do Antonov volta-se a falar do Bonanza como monomotor a pistão e originalmente com 6 assentos. Não era. O primeiro era de 4 lugares.
    Outra frase que eu não entendi: ” Ao contrário do Bonanza o KingAir enveredou pelo caminho do voo mais lento e seguro…” ?
    Hércules com “motores de seis pás” ? Não seriam hélices ?

  5. Somente uma correção quanto ao Beechcraft Bonanza ele é monomotor a pistão e nao turboélice.

  6. Ricardo, Milton e Jean, obrigado pelo alerta sobre o Bonanza. Falha nossa, ele é a pistão, claro, que viagem a minha…rs
    Sobre o King Air, não ficou claro, mas o que quis dizer é que ele, ao contrário do Bonanza, é um avião de desenho mais convencional e desempenho sem grandes arroubos.
    Sobre o Hercules, são hélices, sim, e não o motor em si. Obrigado pela correção.

  7. Esperava ver na matéria o lendário Piper Cub, que até hoje é fabricado sob diversas denominações, e com modernizações de materiais e motor, mas ainda com o mesmo design.

  8. As pequenas falhas não diminuem a matéria. Interessantíssima. Talvez ainda seja possível incluir o eterno DC-3 em suas versões turbo hélice, que continuam a ser amplamente usados, embora eu não saiba se continuam a ser fabricados. Outro fantástico longevo é o Boeing de 8 motores que deverá voar até os 100 anos, desde que foi lançado. Não é mais fabricado mas sofre revitalizações de quando em quando. Excelente o artigo. Parabéns.

  9. Muito boa reportagem. Gostaria de sugerir uma pauta sobre os aviões mais seguros e os menos seguros, de acordo com estatísticas de acidentes e quantidade de aeronaves fabricadas.

  10. Amigos. Seria possivel, complementando a materia, a informação de uma estimativa de preços atuais desses equipamentos, principalmente do Bonanza ?

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