Divisão do grupo Lufthansa especialista em manutenção de aeronaves, a Lufthansa Technik confirmou que está convertendo o primeiro Airbus A380 para transportar cargas. A empresa alemã não revelou a identidade do cliente que encomendou a modificação.
Em comunicado, a companhia diz que seus serviços de conversões temporárias de aviões de passageiros para cargas “encontraram um grande interesse no mercado de aviação”. Até agora, a Lufthansa Techik informou que recebeu consultas de mais de 40 companhias aéreas e está preparando projetos de modificação para 15 tipos de aeronaves, incluindo o A380.
“Nos últimos dias, recebemos um forte interesse de diferentes companhias aéreas em relação aos serviço de conversão de passageiros para cargueiros”, explicou Henning Jochmann, diretor sênior de manutenção da Lufthansa Technik. “Como o escopo de trabalho compreende muito mais do que apenas ocupar assentos, você precisa de especialistas em engenharia que saibam exatamente quais são os desafios e como documentar as soluções técnicas corretamente para que as autoridades da aviação concordem.”
As opções de conversão oferecidas pela Lufthansa Technik aproveitam o momento de isenção de Certificado de Tipo Suplementar (STC) da EASA, a agência de aviação civil da União Europeia. A medida foi adotada na Europa no final de abril para acelerar os processos de adaptação de aeronaves de passageiros para levar cargas e aumentar a capacidade do transporte aéreo de insumos médicos durante a pandemia do novo coronavírus. A liberação vale por 18 meses.
Embora as modificações tenham o objetivo de aproveitar a demanda de transporte aéreo de carga durante a crise do coronavírus, a empresa alemã também oferece as conversões como soluções permanentes.
“A isenção atual e nossa solução podem ser transferidas para nosso certificado de tipo suplementar posteriormente, sem grandes ajustes. Qualquer pessoa que optar pela solução excepcional da Lufthansa Technik pode facilmente mudar para a solução permanente do STC mais tarde”, acrescentou o diretor sênior de manutenção da empresa alemã.
A380, enfim cargueiro
Maior avião de passageiros da história, o gigante A380 finalmente pode se tornar um dos maiores cargueiros da aviação. A Airbus já tentou vender a versão A380F, mas o projeto acabou cancelado após as companhias de carga FedEx, UPS e Emirates SkyCargo (além da empresa de leasing ILFC) desistirem de seus pedidos. Ao todo, a fabricante tinha 27 pedidos pela aeronave.
Em 2005, a Airbus iniciou a produção de componentes para o A380F, mas no ano seguinte desistiu da versão cargueira para focar exclusivamente no modelo de passageiros (A380-800), que naquela época ainda acumulava uma série de problemas que atrasavam sua estreia – o primeiro voo comercial do A380 foi realizado em 25 de outubro de 2007 com a Singapore Airlines.
O A380F era projetado para transportar até 150 toneladas de carga com alcance de 10.400 km, superando a capacidade do Boeing 747-8F em 10%. Essa vantagem, porém, não cobria o custo operacional do A380, em torno de 20% mais alto comparado ao do cargueiro americano, que chegou ao mercado em 2011 e hoje soma 90 unidades entregues.
A Airbus apresentou no final de abril soluções rápidas para converter jatos A330 e A350 de passageiros para transportar cargas durante a crise do coronavírus. A fabricante informou que 20 companhias aéreas solicitaram a assistência para modificar suas aeronaves. O pacote de conversão também é oferecido para os modelos A340 e A380.
As conversões oferecidas pela Lufthansa Technik e a Airbus ainda não tornam o A380 um cargueiro “puro”. Uma modificação nesse sentido exigiria a instalação de portas maiores na fuselagem para receber grandes objetos, como as propostas no projeto original do A380F, com alterações significativas na estrutura e interior da aeronave.
De toda forma, as propostas de modificação rápida para o A380 podem oferecer grande ajuda durante a crise do coronavírus e dão alguma sobrevida ao jato de dois andares da Airbus, hoje um avião com custos proibitivos e sem utilidade diante da demanda de passageiros arrasada pela pandemia de Covid-19.
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