Imagine um caça de combate mais longo que um Embraer E170 e três vezes mais pesado que um Saab Gripen como o que a FAB receberá em breve. Parece peça de ficção, mas esse avião, o Tupolev Tu-128 existiu de fato. Ele é até hoje o maior interceptador que já entrou em serviço, com 30 metros de comprimento e peso máximo de decolagem de 43 toneladas. O gigante criado pela Tupolev voou pela primeira vez no início da década de 60 e operou exclusivamente na Força Aérea da União Soviética até pouco antes do fim do regime comunista.
É um daqueles casos em que a falta de tecnologia foi compensada pela força. Com a maior fronteira linear do mundo, o país sofria para vigiar seus cantos mais remotos na década de 50, quando a Guerra Fria passava por seus dias mais turbulentos. Os bombardeiros nucleares dos Estados Unidos como o famoso B-52 eram uma ameaça real e a PVO (Força Aérea Soviética) não dispunha de um caça capaz de cobrir uma área muito grande.
Embora tivesse caças formidáveis de combate aéreo como os MiG-15 e MiG-17, os russos careciam de um interceptador de grande altitude e alcance, a despeito de alguns modelos da Sukhoi como o Su-15 fazerem parte desse serviço. Ao dar luz verde para o desenvolvimento de um jato com essas características, o Kremlin preferiu escolher o escritório de projetos da Tupolev, após uma primeira tentativa com a fabricante Lavochkin ter produzido o La-250, um interceptador com dois motores e asas delta que acabou cancelado.
Sem um predecessor em qual se basear, a Tupolev optou por utilizar como ponto de partida o fracassado projeto de bombardeiro supersônico Tu-98. Os trabalhos foram iniciados em 1958 com requerimentos complexos de serem atingidos. O novo interceptador deveria ser capaz de voar rápido, ter um alcance bastante grande, possuir um radar eficiente e utilizar mísseis ar-ar potentes o suficiente para que o Tu-128 pudesse lançá-los à distância e retornar à base afinal de contas ele era tudo menos manobrável.
Em vez disso, o “Fiddler”, codinome usado pela OTAN na época, era um avião pesado, mas potente, graças aos dois turbojatos Lyulka AL-7F com quase 100 kN de potência cada com pós-combustores. Para dar conta da grande autonomia de mais de 2.500 km, o Tu-128 levava 15 toneladas de combustível e era capaz de manter um voo de supercruzeiro, quando o jato alcançava velocidade supersônica sem a utilização dos pós-combustores.
Os mísseis desenhados para ele eram os Bisnovat R-4 (AA-5 Ash para a OTAN) que possuíam duas versões, uma guiada por infravermelho e outra por radar. O Tu-128 levava dois pares de cada sob as asas e os usava em conjunto (um míssil infravermelho e outro por radar) quando disparava contra um alvo, assim a força aérea considerava a chance de abatê-lo maior. Enquanto a versão R-4T (infravermelho) tinha alcance de 15 km, a versão por radar atingia alvos a até 25 km.
Mudança no teatro de combate
Entre o período em que foi concebido e sua entrada em serviço em meados da década de 60, o cenário de um hipotético ataque mudou completamente. No lugar de um sem número de bombardeiros pesados voando a grande altitude, os mísseis balísticos passaram a ser a grande ameaça num ataque nuclear. O B-52, principal fonte de dores de cabeça para os russos e motivo da existência do imenso interceptador, acabou mudando seu papel para plataforma de lançamento de mísseis “cruise”, que eram lançados a uma distância enorme do alvo e à baixa altitude. Nesse aspecto, o Tu-128 pouco tinha a agregar.
Eventualmente, a Tupolev modernizou os Tu-128 remanescentes em 1979 para que pudessem detectar e destruir alvos em baixa altitude, mas o jato acabou relegado a um papel secundário à medida que a Força Aérea Soviética passou a contar com interceptadores mais capazes como o MiG-25, capaz de voar acima de Mach 3 e assim compensar a vantagem dos americanos com o SR-71, avião de reconhecimento que sucedeu o U-2 como principal aeronave espiã dos EUA.
Em vez de perseguir aviões, o Tu-128 teve a não tão nobre missão de eliminar os balões de reconhecimento norte-americanos que exigiam uma certa destreza de seus pilotos.
Para pilotos experientes
Apesar do desenho limpo e convencional, com asas de enflechamento pronunciado e diedro negativo, diz-se que o Tu-128 era um avião difícil de voar. Um problema de desequilíbrio no consumo de combustível fazia o caça pender mais para um lado, além de exigir um alinhamento para pouso cerca de 35 km distante da pista. Por essa razão, os tripulantes do Tupolev eram escolhidos a dedo e estavam entre os mais experientes e bem pagos da Força Aérea.
Foram construídos 198 caças Tu-128, incluindo 10 versões de treinamento que possuíam um terceiro assento, localizado no nariz do avião – suas formas estranhas motivaram o apelido de “pelicano”.
Somente utilizado pelos soviéticos, o Tu-128 foi retirado de serviço em 1990, um ano antes do colapso do comunismo. Na época, a Força Aérea já voava com um caça bem mais avançado, o MiG-31, versão avançada do MiG-25, com aviônicos e armamentos mais capazes, porém, bem menor que o Tupolev – e que possivelmente nunca será superado em tamanho por outro caça.
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Os russos com seus aviões patéticos, não páreos para a melhor força aérea de todos os tempos. O MIG 25, que todos pensavam ser avançado, usava tecnologia de válvulas, há, há, há!