Em termos financeiros, possivelmente o A380 seja o jato de passageiros que produzirá o maior prejuízo para a Airbus após obter menos de 300 pedidos, mas em números absolutos o posto de maior fracasso da empresa até hoje chama-se A330-800.
A versão de menor capacidade do A330neo, que oferece um alcance impressionante de mais de 15 mil km, acumulava até o final de 2020 somente 14 pedidos, quatro deles de clientes não revelados. É ben menos até do que o A318, o menor membro da família A320, considerado um dos maiores erros da fabricante europeia, mas que teve 80 unidades produzidas.
De conhecidas, apenas duas companhias aéreas enxergaram valor na aeronave, a Kuwait Airways, dona da primeira encomenda oficial, com oito unidades, e a Uganda Airlines, que acaba de receber o primeiro de dois jatos.
Após falir em 2001, a companhia aérea de bandeira do país africano foi recriada pelo governo de Uganda em 2018 e iniciou operações no ano passado com quatro jatos CRJ-900. Os dois A330-800 foram escolhidos para restabelecer voos de longa distância a partir de 2021.
“Guiado por Deus”
Com área territorial e população semelhante em tamanho ao estado de São Paulo, Uganda possui um PIB de pouco menos de US$ 30 bilhões (comparado aos US$ 600 bilhões do maior estado brasileiro). Isso faz do país o 18º mais rico da África, bem atrás dos vizinhos Quênia e Etiópia, que inspiraram o renascimento da companhia aérea.
Na visão do governo local, a Uganda Airlines será vital para concorrer com companhias como a Kenya Airways (39 aviões) e Ethiopian Airlines (125 aeronaves) após o fracasso de negociações para formar uma empresa aérea que reunisse os países da África oriental.
A chegada do A330-800 ao país nesta semana foi comemorada pelo presidente de Uganda, Yoweri Museveni, que instou ‘funcionários corruptos’ a ficarem longe da nova companhia aérea.
Museveni também agradeceu à Airbus e ao fato de terem desistido de encomendar o 737 MAX. “Parabenizo os ugandeses por terem sua própria companhias aérea. E a vocês, funcionários, peço-lhes que acabem com a corrupção. Não quero ouvir o cheiro de corrupção na nova Uganda Airlines. E agradeço à Airbus por fazer um novo produto. Fomos sensatos em não comprar o avião americano – o Boeing que tem caído e matado pessoas. Deus está lá, ele é quem nos guiou”, afirmou na cerimônia de chegada da aeronave de 258 assentos no Aeroporto de Entebe.
Tamanho ideal em tempos de COVID-19
A despeito dos números quase insignificantes de pedidos, a Airbus não perdeu a pose ao listar os atributos do A330-800. “Graças à sua capacidade de médio porte sob medida e sua excelente versatilidade de alcance, o A330neo é considerado a aeronave ideal para operar como parte da recuperação pós-COVID-19”, afirmou a fabricante.
Falta combinar com centenas de potenciais clientes que ainda não deram atenção ao A330-800 até agora.
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