A corrida para converter jatos de passageiros Airbus A321 em aviões de carga agora tem um novo competidor. Menos de 10 meses após o voo inaugural do A321P2F, modificado pela Elbe Flugzeugwerke (EFW), a empresa norte-americana 321 Precison Conversions concluiu no último sábado (10) o primeiro voo pós-conversão do cargueiro A321-200PCF, em Orlando.
Os pacotes oferecidos pela EFW e a 321 Precison Conversions reaproveitam aviões usados retirados do transporte de passageiros e incluem uma série de modificações para o transporte aéreo de carga. A principal delas é a instalação de uma porta de carga na fuselagem, além de reforços no piso e adaptações na cabine para receber até 27 toneladas de carga na versão baseada no A321. Outra opção, o A320 convertido comporta cerca de 22 ton.
“Este voo foi um marco nominal em todos os aspectos, com todos os sistemas primários e secundários, incluindo a porta de carga e os subsistemas de suporte, funcionando perfeitamente conforme projetado”, celebrou o presidente da 321 Precision Conversions, Gary Warner. “Com base nos resultados deste voo de teste de manutenção, um pré-requisito antes de entrar no teste de voo de certificação, esperamos uma progressão rápida para a certificação completa.”
O primeiro jato modificado pela empresa norte-americana é um A321 com mais de 22 anos de idade. A aeronave (matrícula N322WS) entrou em operação com a Swiss Air em 1998 e passou pelas frotas da Air Méditerranée (França) e FlyCAA (República Democrática do Congo) até ser estocada em 2016. No ano seguinte, o modelo foi adquirido pela empresa de leasing francesa Vallair, o primeiro cliente do Airbus convertido pela 321 Precison Conversions.
A Vallair também encomendou o A321 P2F convertido pela EFW, joint venture formada pelo grupo Airbus e a ST Aerospace, companhia de Singapura especializada em manutenção aeronáutica.
A320 cargueiro
O lançamento de cargueiros baseados nos jatos comerciais A320 e A321 é aguardado há mais de 10 anos. Em 2008, a Airbus assinou um contrato firme com a empresa de leasing AerCap para converter 30 jatos A320/A321 na primeira edição do programa A320P2F. No entanto, em 2011 a fabricante suspendeu o projeto, citando a alta demanda pelas aeronaves no serviço comercial.
Em junho de 2015, o projeto A320P2F foi retomado pela EFW e os primeiros aviões estão sendo modificados na sede da empresa em Singapura. Nesse meio tempo, a 321 Precision Conversions também conduzia seu próprio projeto de conversão do A321PCF. O primeiro operador do A321 cargueiro será a divisão de cargas da australiana Qantas Airways, que encomendou três aviões.
Avião comercial mais vendido do mundo, a família A320 da Airbus acumula quase 10.000 unidades construídas em 33 anos de operações e ainda soma mais de 5.000 encomendas. Nessa imensidão de pedidos e jatos em serviço, até agora nenhum era destinado aos voos de carga.
A Airbus tem um atuação discreta e baixa adesão no segmento de aeronaves cargueiras comparada a Boeing. O site da fabricante europeia anuncia os modelos A330-200F e o programa de conversão A330P2F, além do exótico BelugaXL. Por ser um produto da joint venture EFW, o A320P2F não é mencionado no portfólio do grupo europeu, ao menos por enquanto.
Líder no segmento de carga, a Boeing oferece aeronaves novas (modelos 747F, 767F e 777F) e um programa de modificação para modelos 737.
A conversão de aeronaves comerciais da Boeing também é realizada por outras empresas. A mais destacada nesse ramo é a israelense IAI Aerospace, com experiências bem sucedidas em praticamente todos os jatos comerciais da empresa americana.
Duelo de cargueiros: A320 versus 737
As novas versões do Airbus A320 chegam ao mercado apresentando boas credenciais para competir na categoria de cargueiros médios, hoje dominada pelo Boeing 737.
Versão de carga mais comum do jato americano, o 737-400F tem um compartimento de carga de 140 m² e transporta até 23 toneladas de carga. Já o A321 tem uma cabine de 208 m² e leva 27 toneladas – a cabine do A320 cargueiro tem 160.6 m² e capacidade para cerca de 22 toneladas.
Projeções da EFW e 321 Precison Conversions apontam uma demanda por mais de 1.000 jatos médios de carga em 20 anos. A família A320, hoje em maior número que Boeing 737, agora tem a chance de disparar no segmento de cargas oferecendo a mesma eficiência e avanço tecnológico que consagrou as versões de passageiros.